O Japão comemora esta segunda-feira o triunfo recorde de "Shōgun" nos prémios Emmys, os "Óscares televisivos", embora muitos tenham confessado não ter visto a série sobre as dinastias em guerra do país na era feudal.

"Shōgun" bateu todos os recordes na cerimónia em Los Angeles no domingo, levando para casa umas surpreendentes 18 estatuetas e tornando-se o primeiro vencedor do altamente cobiçado prémio de Melhor Série de Drama não falado em inglês.

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O protagonista Hiroyuki Sanada, que interpretou Lorde Toranaga, tornou-se o primeiro ator japonês a ganhar um Emmy, enquanto Anna Sawai conseguiu o mesmo pela sua representação como Lady Mariko.

"Como japonesa, estou feliz por Sanada ter vencido", disse Kiyoko Kanda, uma reformada de 70 anos, à France-Presse (AFP) em Tóquio.

“Ele trabalhou muito desde que se mudou para Los Angeles”, observou.

“Em ‘O Último Samurai' [2003]’, Tom Cruise era o protagonista, mas é emocionante que Sanada seja a personagem principal de ‘Shōgun’”, acrescentou Kanda.

Mas ela admitiu que só viu o trailer.

A série está disponível apenas na plataforma de streaming da Disney, que é relativamente nova no Japão.

"Quero vê-la. Estou curiosa para saber como o Japão é retratado", disse Kanda.

Otsuka, que não quis revelar o seu primeiro nome, disse que também não viu a série.

"Mas vi as notícias e estou feliz por ele ter vencido", contou.

Sanada, agora com 63 anos, começou a sua carreira de ator aos cinco anos em Tóquio e mudou-se para Los Angeles depois de entrar em “O Último Samurai” em 2003.

As palavras “conquistas históricas” e “Hiroyuki Sanada” eram tendências na rede social X em japonês [antigo Twitter], enquanto o discurso de Sanada na cerimónia, parte dele na sua língua, acumulou dezenas de milhares de visualizações.

Yusuke Takizawa, 41 anos, também viu apenas um trailer, mas disse que ficou impressionado com a qualidade do programa.

“Fiquei impressionado com o entusiasmo da atuações, a atenção aos detalhes e a tecnologia de cinema”, disse Takizawa à AFP à frente ao Castelo de Osaka, um importante local histórico da série.

“Acho que muitos jovens vão querer tentar a sorte em Hollywood depois de ver Sanada”, previu.

Os turistas no castelo também saudaram a vitória recorde nos Emmys.

“Acho que foi o melhor programa de TV que vi este ano”, disse Zara Ferjani, visitante de Londres.

“Achei incrível… A realização era linda e também gostei muito de ver algo que não estava em inglês”, disse a jovem de 33 anos, que tinha planeado ver "Shōgun" depois de regressar a casa, vinda do Japão.

“Mas um dos meus amigos aconselhou-me fortemente a ver com antecedência, apenas para apreciar mais a cultura e, sem dúvida, o Castelo de Osaka”, acrescentou.

Romper com os clichés

Muitos na indústria cinematográfica japonesa também ficaram exultantes.

"Ele venceu depois de muitos anos de tentativas em Hollywood. Tão bom", escreveu Shinichiro Ueda, diretor do filme de baixo orçamento "Mortos, Vivos, Câmara, Ação!" (2017), no X.

O criador de videojogos e fã de cinema Hideo Kojima, que descreveu a série como “A Guerra dos Tronos no Japão do século XVII”, voltou a partilhar uma notícia sobre a vitória.

O drama, adaptado de um romance popular de James Clavell e filmado no Canadá, conta a história de Lorde Toranaga, que luta pela sua vida contra os seus inimigos ao lado de Mariko e do marinheiro britânico John Blackthorne.

Uma adaptação anterior para a TV feita em 1980 foi centrada na perspetiva de Blackthorne, interpretado por Richard Chamberlain.

Mas o novo “Shōgun” rompe com décadas de representações cheias de clichés e muitas vezes confusas do Japão no cinema ocidental, com o japonês falado durante a maior parte da série.

Sanada, que também co-produziu o drama, é creditado por trazer um novo nível de autenticidade cultural e histórica a “Shōgun”.

Um exército de especialistas, incluindo vários técnicos de perucas do Japão, trabalhou nos bastidores para tornar a série realista, debruçando-se sobre cenários, figurinos e movimentos dos atores.