
Na obra, produzida pela Amazon, Julia Roberts interpreta Alma, professora de Filosofia na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que leva uma vida confortável ao lado do marido, o terapeuta Fred (Michael Stuhlbarg).
Ambos pertencem à elite intelectual do país e costumam convidar amigos, colegas e estudantes para a sua casa, onde conversam até altas horas da madrugada, acompanhados de copos de vinho.
Mas aquilo que parece ser um universo de relações saudáveis, assentes no respeito e impregnadas de valores elevados, é abalado quando Maggie (Ayo Edebiri), aluna de Alma, acusa Hank (Andrew Garfield), outro professor do departamento de Filosofia e amigo íntimo de Alma, de a ter violado.
O escândalo coloca em tensão as relações entre Alma e Hank e também entre a professora e a sua aluna, num contexto pós-'Me Too' — movimento contra o assédio e a agressão sexual que ganhou popularidade em 2017 — em que cada personagem adota uma posição distinta.
O conflito apresentado no filme é comparável a um "dominó: quando uma peça cai, de repente, para onde quer que se olhe, há um novo elemento de conflito e de desafio", comentou Roberts esta sexta-feira, em conferência de imprensa no Lido de Veneza, onde a longa-metragem é exibida fora de competição.
"Há um conjunto de velhos argumentos renovados neste filme, de uma forma que gera debate", acrescentou.
"O que procurávamos era isto: que toda a gente saísse [da sala de cinema] com esses sentimentos, emoções e pontos de vista distintos. Percebe-se no que se acredita com firmeza e quais são as convicções de cada um, porque nós provocamos isso", explicou a atriz.
É uma discussão que também atravessa o filme, evidenciada pela diferença geracional entre Alma e Hank e os seus alunos, nas conversas sobre feminismo e nas distintas formas de reagir à agressão.
"É difícil tratar destas questões, que são centrais no filme", afirmou a argumentista Nora Garrett. Segundo disse, o realizador quis focar-se na "ideia de que há muitas nuances em torno destes temas". "[Queríamos] simplesmente trazer à tona algo que parecesse verdadeiro e real e que (...) levasse as pessoas a questionarem-se sobre o que podem fazer", acrescentou.
Nesse sentido, Guadagnino sublinhou que, ao criar as personagens, tiveram em conta que cada pessoa "tem as suas próprias verdades" e que "uma verdade não é mais importante do que outra".
Questionada sobre a possibilidade de o filme gerar polémica, Julia Roberts destacou: "Não estamos a fazer nenhuma declaração, estamos a retratar estas pessoas num momento concreto" e a incitar “as pessoas a conversarem e a emocionarem-se ou a irritarem-se, depende de cada um”.
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