O bailarino e coreógrafo congolês Faustin Linyekula, convidado da Bienal Artista na Cidade 2016, afirmou esta quinta-feira, 7 de janeiro, em Lisboa, que os espetáculos que tem vindo a criar servem para "contar histórias que dão um sentido ao mundo".
O artista esteve hoje no Teatro Camões, na apresentação da programação da Bienal Artista na Cidade, que reúne duas dezenas de eventos entre janeiro e dezembro deste ano, com dança, filmes, workshops, palestras e leituras encenadas.
"A questão da forma não é tão importante. A dança, o teatro ou o vídeo são instrumentos que uso para contar as histórias", disse o artista perante jornalistas e dezenas de convidados em representação dos parceiros que organizam a Bienal, iniciativa da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC).
O artista congolês, que apresenta os seus trabalhos internacionalmente, em digressões, reside na República Democrática do Congo, onde desenvolve um trabalho artístico ligado a projetos sociais nos Studios Kabako, em Kisangani.
Linyekula recordou o passado de instabilidade política, guerra, colonialismo e violência no Congo para contextualizar o tipo de trabalho que tem desenvolvido no país.
"A situação do Congo está diretamente ligada à história do país e a consciência das ruínas que ali se encontram motivaram-me a refletir profundamente, e procurar dar um sentido à minha história pessoal", disse o artista, acrescentando que contar histórias "é uma forma de usar estratégias de sobrevivência".
Faustin Linyekula, tem vindo a desenvolver trabalhos com artistas emergentes e comunidades vulneráveis – nomeadamente no seu país de origem –, promovendo a experimentação, a formação artística e a circulação de ideias, além de projetos sociais, como a criação de uma estrutura de fornecimento de água potável em localidades do distrito de Lubunga.
Relatou que quando vivia em Paris decidiu voltar para o Congo não porque adorasse o país: "Eu tinha essa necessidade pessoal de contar histórias e clarificar a minha posição no mundo. Tinha que voltar ao meu país para ser verdadeiro".
"Talvez a única forma de ser universal é ser local, e procurar até encontrar algo próximo que une todas as pessoas", disse ainda, sustentando que o que acontece nas florestas do Congo tem a ver com Lisboa e com o resto do mundo, "porque tudo está ligado na terra".
Relativamente ao significado do projeto da bienal em Lisboa para o artista, disse que não se sente estrangeiro na capital portuguesa porque quando teve férias na primeira vez na vida, em 2002, visitou a cidade.
"Quando o avião estava a aterrar vi, ao fundo, um avião do Zaire abandonado. Ainda tenho essa memória que me ligou ao país, Além disso, foram os portugueses que descobriram o Congo no século XV, através de um navegador chamado Diogo Cão", disse, fazendo aspas com as mãos quando pronunciou o verbo descobrir.
O trabalho do bailarino, coreógrafo e encenador Faustin Linyekula, 42 anos, vai estar em foco nesta bienal, com a apresentação de nove espetáculos da sua autoria, e outros em que vai participar ou co-criar com artistas portugueses e estrangeiros ao longo da residência artística que vai fazer em Lisboa.
A programação começa com a estreia, no Teatro Camões, a 14 de janeiro de uma nova criação do artista, um solo intitulado "Portrait Series: I Miguel", interpretado pelo bailarino da Companhia Nacional de Bailado Miguel Ramalho.
A edição de 2016 da bienal Artista na Cidade reúne os seguintes parceiros: Alkantara, Centro Cultural de Belém, Companhia Nacional de Bailado, Culturgest, Festas de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Maria Matos Teatro Municipal, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional D. Maria II e Temps d’Images Lisboa.
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