Que o digam os jovens e adolescentes, que, confrontados diariamente com este género musical, que tão facilmente lhes chega através das séries televisivas a que assistem ou através dos locais de diversão que frequentam, não hesitaram em colocá-lo no topo das suas preferências, substituindo assim as típicas boys e girlsband que faziam as suas delícias há não muito tempo atrás. Faça chuva ou faça sol, na praia ou no campo, o reggae é hoje de todos, e para todos.

Não é de espantar, por isso, que, na primeira quinta-feira de Julho, o Coliseu do Porto, que esteve longe de esgotar com Air e Slash (projectos que reúnem uma significativa legião de fãs em Portugal e cuja passagem por terras lusas não é, propriamente, frequente), tenha lotado a sua capacidade perante um cartaz que apresentava as actuais coqueluches do reggae lusófono: Souls of Fire e Natiruts.

Oriundos de Leça da Palmeira, os primeiros são presença quase certeira nas festas do estilo que decorrem no norte do país. Duas semanas antes, por exemplo, tinham protagonizado o Optimus Teen Fest – evento dedicado, em exclusivo, aos teenagers, que decorreu no CLIP, no Porto. Festivais e romarias fazem, também, parte do campo de acção dos Souls of Fire, que editaram, em 2009, o seu segundo disco de originais, “Subentender”.

De origem brasileira e já com 14 anos de carreira, os Natiruts somam, actualmente, sete sucessos discográficos, entre os quais, o aclamado registo ao vivo “Natiruts Reggae Power Ao Vivo”. Bastante acarinhados pelo público brasileiro, já conquistaram, também, o afecto e a admiração dos portugueses, que vêem nas suas músicas produtos de consumo fácil e prazenteiro. Em 2009, estrearam-se no nosso país em dose tripla: participaram, à semelhança deste ano, no festival Delta Tejo; actuaram, no âmbito do festival Mestiço, na Casa da Música; e partilharam o palco com Daniela Mercury na primeira edição do Festival Ofir. Na quarta-feira que antecedeu o espectáculo, actuaram, inesperadamente, no Centro de Artes e Espectáculos São Mamede, em Guimarães.

Não foi, portanto, sede destas duas bandas que levou cerca de 3500 pessoas ao Coliseu da Invicta. O reggae está, simplesmente, na moda. E, pelos vistos, recomenda-se.

A «alta rodagem» destes dois projectos musicais por terras lusas veio, contudo, revelar-se inimiga das suas actuações, que, apesar de trazerem (ambas) álbum novo no bico, se renderam à previsibilidade sugerida por espectáculos anteriores: os êxitos do costume, estrategicamente intercalados com os temas dos novos trabalhos, ainda não verdadeiramente interiorizados pela assistência; os desabafos habituais com o público, que vão buscar ao rastafarianismo a sua principal inspiração; e as posturas de sempre, ainda que sem a energia de outrora.

As fórmulas vencedoras não são, por norma, eternas, mas parecem ter convencido a grande maioria, por enquanto. Músicas mais do que esperadas como Souls of Rasta, Bens Materiais, Lá no Gueto ou Sem DJ (no caso dos Souls of Fire), ou Natiruts Reggae Power, Liberdade Pra Dentro da Cabeça, Presente de um Beija-Flor ou Meu Reggae é Roots (no caso dos Natiruts) levaram o jovem Coliseu ao delírio absoluto. Um delírio compreensível, claro está. Afinal, a exigência ainda não assaltou os mais novos, cujo principal objectivo da noite era, não a celebração da música e do espírito reggae, mas sim a comemoração das férias e do calor, que vieram, ao que tudo indica, para ficar.

Confere aqui as fotografias do concerto:

Sara Novais

Fotografias: Paulo Costa