
O festival RFM Somnii, que decorre em julho, na Figueira da Foz, será o único, este ano, em território nacional, dedicado à música eletrónica, consolidando-se como uma das maiores referências do género ao longo da última década.
A suspensão do Sudoeste (Zambujeira do Mar) e do Beach Party (Leça da Palmeira) é uma realidade que preocupa Tiago Castelo Branco, diretor executivo da MOT – Memories Of Tomorrow, promotora do evento desde 2019, quanto ao atual estado do setor e reforça a responsabilidade do Somnii para com a cultura EDM (música eletrónica de dança, na sigla original, em inglês).
“A concorrência é sempre de salutar e é estimulante”, disse à agência Lusa Tiago Castelo Branco, assegurando que o planeamento desta edição do Somnii não foi uma reação à ausência de competição.
“Se somos os únicos neste segmento, obviamente temos uma acrescida responsabilidade, mas isso não nos assusta”, vincou.
Já a discussão sobre uma eventual crise na EDM é, para Tiago Castelo Branco, desprovida de fundamento, até porque este género atravessa uma fase de reinvenção, impulsionada pelos próprios artistas, uma nova época que o Somnii acolhe e representa no seu cartaz da 11.ª edição, entre 4 e 6 de julho.
“O Timmy Trumpet atual é diferente do que era há cinco anos e o Steve Aoki também evoluiu”, sustentou, ao falar dos cabeças de cartaz da edição de 2025 e lembrando que o projeto, que será apresentado pelo artista holandês Sefa, simboliza esta evolução da música eletrónica: “É uma reinvenção do Hardstyle, algo nunca visto, que integra orquestra clássica e coro”, revelou.
Desde a primeira edição realizada no areal da Praia do Relógio, em 2013, o festival acolheu grandes nomes como Alesso, Armin van Buuren, Tiesto ou Hardwell, mantendo-se fiel à sua matriz eletrónica e consolidando a sua posição no panorama nacional e internacional.
“Os eventos fazem-se por ciclos, tendências e momentos”, reconheceu Tiago Castelo Branco, destacando o papel da promotora original, a Genius y Meios, do grupo Renascença, na identificação do potencial da música eletrónica em Portugal.
Ainda assim, o contexto nacional impõe limites à ambição na programação, com os preços do bilhete a estarem adaptados ao poder de compra nacional, o que condiciona os valores que podem ser oferecidos aos artistas.
“Quando negoceio com artistas no estrangeiro digo para não se esquecerem dos ordenados mínimo e médio nacional”, contou, explicando que muitos artistas já entenderam a necessidade de adaptarem o seu ‘cachet’ à realidade de Portugal, dada a importância do Somnii para o seu currículo.
Por outro lado, o diretor da MOT vincou que mais do que os alinhamentos apresentados, o evento “tem procurado afirmar-se como um local de encontro e de partilha”, estabelecendo uma relação de proximidade com o seu público que ultrapassa os espetáculos ao vivo e “gera um sentimento de pertença e identidade”.
“Quem conhece o Somnii, sabe que o festival é uma experiência e um ponto de encontro”, realçou o promotor, referindo que os festivaleiros encaram o regresso anual à Figueira da Foz como uma tradição, um momento de reunião de amigos e criação de memórias.
Entre as várias histórias que ilustram a ligação emocional entre o Somnii e os seus fãs, Tiago Castelo Branco destacou a de um casal que se conheceu no festival e entrou em contacto, há dois anos, com as redes sociais da organização, porque ia casar-se durante o evento.
“O tema do casamento era o festival e pediram-nos para irem vestidos de noivos nesse sábado. O sonho deles era conhecerem o Alok, o que a nós não nos custou nada, e demos-lhes uma experiência inesquecível”, enfatizou.
Também a evolução do perfil etário do público é, para o promotor, um reflexo da fidelização ao evento, já que a média de idades, inicialmente situada entre os 16 e os 21 anos, passou para a faixa dos 25 aos 35 anos, indicando que muitos dos festivaleiros das primeiras edições continuam a marcar presença.
O festival tem primado por se reinventar e este ano estreia uma nova configuração de palco, instalado no molhe norte do porto comercial, virado a norte para o mar, para a praia e para o pôr-do-sol, com melhorias nas infraestruturas e mais condições de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida.
“Quantos festivais no mundo permitem que as pessoas estejam na praia, a dar um mergulho, enquanto ouvem o seu artista preferido?”, realçou Tiago Castelo Branco.
Paralelamente, e em articulação com a programação do Somnii, a Figueira da Foz vai acolher o Dia da Força Aérea, promovendo atividades conjuntas, uma das quais passa por demonstrações aeronáuticas comentadas, no recinto, por pilotos de aviões militares.
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