“À primeira vista não é um álbum de fados, mas é um disco com muito fado, nem poderia ser de outra forma, o ponto de partida e a natureza do disco são fadistas. Não é um disco de fados, mas é um disco com muito fado”, assinalou a intérprete e autora, que vai apresentar o disco no dia 20 de maio, no Teatro Maria Matos.
Questionada pela agência Lusa sobre a maturidade artística que o álbum reflete, Filipa Vieira afirmou: “Não sou uma adolescente, portanto quando olho para os objetos artísticos, tento fazer, um bocado, o espelho da pessoa que sou e das experiências que já tive na vida e todo o resto, talvez por isso é que perpassa esta maturidade”.
Natural de Lisboa, a fadista, de 36 anos, atua regularmente nas casas de fado da capital, e disse que canta desde os 11 anos.
O álbum é constituído por 11 temas, sete dos quais com assinatura de Filipa Vieira. Do alinhamento constam, entre outros, “Quando Eu era Pequenina”, do cancioneiro da Beira Baixa, abrindo com “Vai Dar Banho ao Cão” (Filipa Vieira/Tiago Pais Dias).
Filipa Vieira afirmou que sempre escreveu, mas “tinha vergonha” de mostrar o que escrevia, porque o seu método de escrita “é muito emocional”.
“É sempre um processo muito emocional e acabam por ser coisas muito íntimas, sempre tive uma vergonha de mostrar as coisas que escrevo, o que aconteceu neste processo foi eu ter perdido esse constrangimento e ter tido a coragem de me assumir como escritora e cantautora”.
Filipa Vieira é a autora das letras “Cortar os Impulsos” e “Cores do Pecado”, ambas musicadas por Tiago Pais Dias, que também produziu o álbum. A fadista é ainda a autora de “1669”, para a melodia tradicional do Fado Proença, de Júlio Proença, e com Francisco Guimarães assina “Sem Cura”, para o Fado Isabel, de Fontes Rocha, sendo também autora da letra e música do tema “Medos”, com o qual fecha o álbum.
“1669” é uma homenagem a Mariana Alcoforado (1640-1723), que escreveu “as mais bonitas cartas de amor”. 1669 corresponde ao ano em que as cartas da freira de Beja foram divulgadas em França.
“Uma freira que viveu esse amor impossível, e teve uma dor muito forte pela rutura”, disse Filipa Vieira, que no poema que escreveu utilizou como recursos líricos algumas citações das cartas escritas pela freira.
Do alinhamento faz parte “Longe Demais” (Jorge Rosa/Francisco José Gonçalves), do repertório de Beatriz da Conceição (1939-2015), uma das suas “maiores referências fadistas”.
“Escolhi este fado porque o sinto muito como meu, para mim é um tema bastante identitário, e para ficou difícil contorná-lo”.
O músico Diogo Clemente, que esteve para ser o produtor do disco, “que não aconteceu por incompatibilidade de agendas”, é o autor da letra e música de “Beija-me Agora”.
À Lusa, a fadista referiu a “amizade de muitos anos” que os une. “Nós crescemos juntos, somos da mesma geração, este foi o primeiro tema que ele desenhou, ele sabia que o ia abraçar como se fosse meu, e fazia todo o sentido inclui-lo neste alinhamento”.
Questionada pela Lusa sobre a utilização de instrumentos menos habituais ao universo fadista como a bateria, a percussão, e o piano, Filipa Vieira disse: “Em todos os meus trabalhos, que são indissociáveis do fado, porque os fadistas encerram esta natureza em si próprios, eu não sinto que tenha de dar nada ao fado, o fado já é, na sua origem pura, perfeito como é, e não precisa que lhe seja acrescentado nada, ele já é maravilhoso. A forma como eu me expresso depende muito da fase em que estou do trabalho, o que quero dizer com o objeto artístico, muito mais do que querer trazer alguma coisa nova ao fado, é muito mais uma coisa de dentro para fora do que acrescentar algo só para ser diferente”.
Sobre o título do álbum, “Sabe Deus”, “é uma expressão muito portuguesa”, que justificou pelas contingências que marcaram a realização do álbum, “que passou por imensas flutuações, desde técnicas a emocionais e de composição, passou por uma pandemia”, referindo-se à COVID-19.
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