"Enquanto fadista e neste meu primeiro álbum, queria deixar bem vincada a minha escolha pelo fado tradicional", disse Beatriz Felício à agência Lusa.
"É neste disco que mostro do que sou feita, do que canto, do que gosto, do que faço, e quem é a Beatriz Felício. Eu sou aquilo que lá está, numa verdade nua e crua, de uma ponta à outra, aquela pessoa sou eu: Beatriz Felício", declarou.
Cerca de metade dos temas do álbum homónimo são fados tradicionais, entre eles, a melodia de “Mocita dos Caracóis”, de Alfredo Marceneiro, para uma letra Hélder Moutinho, "Meu Amor Mata a Tristeza", o Fado Pena, de Fernando de Freitas, para "Vida Vagabunda", uma letra de Francisco Guimarães, ou o recente Fado Felício, de Ângelo Freire, para "Inverno Sem Lareira", também de Guimarães.
A Garota Não, nome artístico de Cátia Oliveira, e um dos nomes menos habituais no universo fadista, distinguida no ano passado com o Prémio José Afonso, entre outros prémios, assina a letra e música de “Poema do Amor Corrido".
O álbum, uma edição do Museu do Fado, a sair também na sexta-feira, é produzido pelo músico Ângelo Freire, autor dos arranjos e que a acompanha à guitarra portuguesa e à viola, em alguns dos fados, sendo composto por 14 temas, entre eles uma recriação de "Agora que Te Encontrei" (António José/Nóbrega e Sousa), do repertório de Maria de Lourdes Resende (1917-2022), cançonetista por quem a fadista, de 25 anos, tem "uma grande admiração".
"Gosto da sua voz, das interpretações e acho muito atual a escolha de repertório", referiu.
Além de Ângelo Freire, Beatriz Felício, neste álbum, é ainda acompanhada pelos músicos João Domingos, na viola, Marino de Freitas, na viola baixo, João Barradas e Nelson Canoa, no acordeão.
"A vida são dois dias" (Carlos Leitão/Bruno Chaveiro) abre o disco que inclui outros temas como "Tão triste" (Paulo Valentim), "Meu Fado" (Nuno Figueiredo) ou "Não Sei o que Fazer" (Ana Lúcia/Fado Varela, de Renato Varela).
Entre os autores escolhidos, há dois companheiros de palco, Teresinha Landeiro e Tiago Correia, fadistas da sua geração, que assinam respetivamente, "Culpa Minha" e "Canção da Bia", o primeiro gravado no Fado Amora, de Joaquim Campos, e o outro musicado por Ângelo Freire.
Do alinhamento faz também parte "Caravela da Paixão", do veterano fadista António Rocha, que Beatriz Felício interpreta na melodia de "A Rua do Desencanto", de Jaime Santos.
Para a jovem fadista, "é um privilégio cantar com o senhor António Rocha", numa das casas de fado em Lisboa onde atua, "pois ouvi-lo é um tratado [de fado]".
Beatriz Felício referiu-se a Teresinha Landeiro e Tiago Correia como "os melhores da nova geração de fadistas, que sabem escrever", além de serem seus amigos e "grandes companheiros, que tinham que fazer parte deste disco".
O fado foi uma escolha de Beatriz Felício, apesar de não ter antecedentes fadistas nem musicais, nem se ouvir fado no ambiente familiar.
A escolha ficou clara e dela deu conhecimento à mãe, depois de ter assistido pela televisão a uma atuação de Amália Rodrigues interpretando "Vou Dar de Beber À Dor": "Queria ser fadista".
Seguiram-se as festas escolares onde era quase sempre a protagonista e cantava, e os pais recebiam os parabéns pelo talento da filha e "diziam que devia apostar numa carreira, depois as atuações na televisão e, finalmente, nas casas de fado", até que sentiu "a maturidade suficiente para fazer um álbum".
À Lusa, a fadista disse que muitas pessoas que a ouviam perguntavam-lhe por um álbum, mas ela achou que seria de esperar, “para ter mais maturidade”.
Esta sexta-feira, às 21h00, no pequeno auditório do CCB, no âmbito do ciclo "Há Fado no Cais", Beatriz Felício apresenta o álbum, acompanhada pelos músicos Rui Poço, na guitarra portuguesa, João Domingos, na viola, e André Moreira, na viola baixo, como convidado especial, o acordeonista João Barradas.
Beatriz Felício fez parte dos elencos de casas de fado lisboetas como Mesa de Frades, Faia, Parreirinha de Alfama, Casa de Linhares e Fado Menor. Participou no concurso televisivo “The Voice”, em 2015, e em 2021 venceu o Prémio Novos Talentos Ageas, numa parceria com a Fundação Casa da Música, tendo nesse ano atuado na cerimónia de abertura da Womex 2022, em Lisboa.
Para Beatriz Felício, "o fado é um misto de emoções, uns dias mais tristes outros mais alegres" e que muitas vezes "exorciza os seus estados de alma".
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