Em declarações à Lusa, a fadista afirmou-se “sensibilizada” com a iniciativa do produtor José Carlos Español, e considerou que teve a sorte de "iniciar a carreira numa altura de "grande criatividade, não só em Portugal como no mundo, com excelentes autores e músicos que faziam esses grandes êxitos".

Anita Guerreiro recordou as muitas digressões que tem feito e não esquece "as muitas vezes" em que atuou "em cima de uma camioneta, com dois focos e mais nada, nem microfones, nem quaisquer condições acústicas".

Referindo-se à homenagem, afirmou: “É um sinal que o público ainda se lembra de mim”, acrescentando que deve à televisão a popularidade que hoje tem junto "de uma faixa mais nova”.

“Quanto à noite de homenagem vou cantar, faço-o todos so dias, ainda não sei bem o quê, mas claro não podem faltar aqueles números em que o público sempre me acompanha como ‘Cheira bem, cheira a Lisboa’ e ‘É festa é festa’”, adiantou.

No espetáculo do São Luiz, entre outros, participam António Rocha, fadista com quem Anita Guerreiro canta diariamente na casa típica Arcadas do Faia, em Lisboa, e ainda Maria Amélia Proença, com mais de 50 anos de carreira, Maria José Valério, Deolinda de Jesus, João Casanova, Maria Mendes, Ana, Ana Carolina e Fernando Correia Marques.

Anita Guerreiro, que completa 78 anos na próxima semana, disse à agência Lusa que "se pudesse escolher seria atriz".

"Prefiro ser atriz a cantar, não quero dizer que não goste de cantar e não me empenhe, mas o que mais me satisfaz mesmo é ser atriz", disse.

A fadista estreou-se em fevereiro de 1954 no palco do Teatro Variedades, no Parque Mayer, em Lisboa. "Eu ainda era menor e tive uma autorização especial do coronel Óscar de Freitas para atuar", lembrou.

Anita Guerreiro é o nome artístico de Bebiana Guerreiro Cardinalli, encontrado pelos produtores de "Comboio das seis e meia", um programa de rádio de grande popularidade nas décadas de 1950 e 1960.

Uma vizinha sua candidatou-a ao concurso "Tribunal da Canção", desse programa. “Assim que me ouviram levaram-me ao Marques Vidal e nem concorri, cantei logo", recordou à Lusa.

A "miúda do Intendente", como foi inicialmente conhecida, começou por atuar numa coletividade. "Mas para lá disso o meu pai não autorizava mais nada, foi uma vizinha minha que me inscreveu no concurso", recordou.

O seu primeiro êxito foi com o fado de Francisco Radamanto, "Tia Anica", referindo-se ao envio de soldados para a então Índia Portuguesa.

"Não houve sítio em Portugal onde eu não fosse, havia sempre uma mãe, uma irmã ou uma mulher que me pedia para cantar a 'Tia Anica'", recordou.

Em princípios da década de 1970, César Oliveira e Carlos Dias assinaram outro grande êxito: "Cheira bem, cheira a Lisboa".

"O maestro Carlos Dias já tinha a música feita, mas não havia letra e, certa manhã o César de Oliveira, ao passar nas Portas de Santo Antão, junto da Pastelaria Castanheira, ouviu um rapaz dizer para outro 'Cheira bem, cheira a Lisboa' e teve um clique e fez essa canção".

Anita Guerreiro fez parte de 50 revistas, de que destaca quatro realizadas no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, "Fonte luminosa", "Cidade maravilhosa", "Mulheres de sonho" e "Há festa no coliseu".

Em 1970 recebeu o Prémio Estevão Amarante e uma Guitarra de Ouro, em Angola, onde chegou a residir. Depois de uma estada nos Estados Unidos, em finais da década de 1970, regressou a Portugal em 1982 integrando o elenco da revista "Há mas são verdes", onde criou os fados "Hermínia de Lisboa" e "Calçadinha à portuguesa", que ainda hoje lhe pedem para cantar.

@Lusa