
Pode não dizer muito aos portugueses, mas para os franceses será uma mudança de paradigma revolucionária.
Assistir ao 'reality show' "Koh Lanta", à série "HPI" ou ao noticiário das 20h na Netflix será possível no próximo ano: a plataforma vai transmitir os canais do grupo francês TF1 e o conteúdo da TF1+ a partir do verão de 2026, graças a uma parceria exclusiva e inédita anunciada na quarta-feira.
Este acordo de distribuição, cuja duração e valor não foram divulgados, dará acesso aos cinco canais em direto da TF1 (TF1, o canal líder de audiência na França, LCI, TMC, TFX e TF1 Séries films) e à programação da plataforma TF1+, desde a série "Brocéliande" até ao programa de talentos "The Voice" e eventos desportivos.
Tudo isto "sem precisar sair do serviço Netflix" e do seu sistema de sugestões, de acordo com um comunicado à imprensa que a publicação Deadline destaca ser uma "declaração inequívoca sobre o seu desejo de manter os subscritores presos".
Esta parceria é inédita no mundo, já que a gigante do streaming nunca tinha aberto a sua plataforma a outra operadora.
O Deadline destaca que se for um sucesso, "poderá servir de teste para acordos semelhantes, já que a Netflix procura consolidar a sua posição como o canal de TV do mundo".
A TF1 e a Netflix têm colaborado extensivamente nos últimos anos, coproduzindo séries como "Le bazar de la charité" em 2019 e, mais recentemente, "Tout pour la lumière".
O seu sucesso "mostrou que havia uma procura clara", disse à France-Press (AFP) o co-CEO da Netflix Greg Peters, satisfeito por avançar com "o maior operador [privado] da França".
"Sentimos que havia uma oportunidade" com "um público na França que considera a Netflix a sua forma de aceder à televisão", acrescentou.
Mas a decisão pode ser vista como uma surpresa da parte da TF1, num momento em que o grupo audiovisual, um dos mais poderosos da Europa, pretende tornar a TF1+, lançada no início de 2024, a principal plataforma de streaming gratuita na França e no mundo francófono.
"A TF1+ é e continuará a ser o centro da nossa estratégia", garantiu à AFP o CEO da TF1 Rodolphe Belmer, descrevendo uma parceria "verdadeiramente complementar" num contexto de fragmentação das audiências e do crescimento dos serviços sob subscrição.
Alcançar os "muito numerosos" subscritores da Netflix, que estão ligados a este serviço pago, deve, segundo Belmer, aumentar a audiência dos programas da TF1, "monetizados exclusiva ou principalmente através da publicidade", para "financiar a melhor oferta de programas possível para o público francófono".
"Novo modelo"
"É claro que consideramos a questão da canibalização da TF1+ e fizemos muitas análises", o que sugere que a transação "será claramente positiva para nós em termos de audiência", argumentou Belmer, que frequentemente destaca a concorrência do YouTube, uma plataforma gratuita.
Por sua vez, a Netflix, que atingiu a marca de 10 milhões de subscritores franceses em 2022 e aumentou os seus preços na França em abril, beneficiará de novos conteúdos "complementares" ao seu catálogo, de acordo com Greg Peters.
"A TF1 é muito boa no domínio dos desportos e transmissões ao direto, áreas nas quais não estamos muito presentes neste momento, mesmo que estejamos a desenvolvê-las", explicou à AFP.
Notavelmente, a gigante do streaming destacou-se notavelmente no final de 2024 ao transmitir em direto dois jogos profissionais de futebol americano da NFL e o combate de boxe entre o YouTuber Jake Paul e Mike Tyson.
Greg Peters também está satisfeito por poder oferecer as telenovelas diárias da TF1, como "Demain nous appartient" e "Ici tout commence", um género que, garante, os subscritores apreciam.
Isso é comprovado pelo "bom desempenho", segundo Peters, de "Tout pour la lumière", lançado na sexta-feira na Netflix e, em seguida, na TF1 e na TFX na segunda-feira, o que demonstra "o poder deste modelo".
Questionados sobre a distribuição das receitas publicitárias no novo acordo, os dois executivos não quiseram comentar o tema.
Quanto à potencial extensão desta parceria a outros 'players' na França e no exterior, nada está atualmente previsto pela Netflix ou pela TF1.
"Francamente, temos muito trabalho a fazer" antes de pensar no que vem a seguir, explicou Greg Peters. "É um novo modelo (...) queremos que todos fiquem satisfeitos."
"Estamos totalmente focados" neste acordo, que precisará ser consolidado com os consumidores, "mas também com o mercado publicitário", acrescentou Rodolphe Belmer.
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