Com intuito de promover e galardoar o melhor que se produziu num ano de cinema, a 1ª edição dos Prémios Cinetendinha contou com a presença do seu anfitrião, o crítico e jornalista de cinema Rui Pedro Tendinha, assim como com a das madrinhas, as atrizes Victória Guerra e Maria Leite (ambas louletanas), e ainda personalidades como os atores Ricardo Pereira, Ruben Garcia e Ruben Alves e a realizadora Ana Rocha de Sousa (“Listen”). Mas foi com Vítor Norte, também presente, que o evento teve um dos seus momentos altos.

Contabilizando 40 anos de carreira, Vítor Norte é um dos atores mais reconhecidos pelo público português, presente constantemente em diferentes ecrãs e palcos. No cinema orgulha-se de ter sido dirigido por um vasto leque de realizadores, entre os quais José Fonseca e Costa, o qual colaborou em 4 filmes (“A Mulher do Próximo”, “Nos Cornos de Cronos”, “Cinco Dias, Cinco Noites”, “O Fascínio”).

No final da cerimónia, o ator conversou com o SAPO Mag sobre o significado deste Prémio de Carreira, sobre novos projetos e sobre o seu “amigo e padrinho de casamento” José Fonseca e Costa.

Visto que declarou na gala que não está velho e que a sua carreira não termina aqui, para si, o que representa este Prémio de Carreira?

Não, eu estou velho [risos]. Mas é um facto que a minha carreira ainda não terminou. Acumulo e possuo projetos e pessoas com quem vou trabalhar para o ano e para o próximo. É um prémio de carreira, mas não deixa de ser um prémio igual a tantos outros. E fico contente por ter-me sido atribuída tal láurea, e ainda mais ter sido fruto de uma reunião de pessoas. Fico grato.

Quanto à carreira propriamente dita, eu não me considero um carreirista. Sou um ator, e sou-o há vários anos. Faço teatro, televisão, cinema, tudo o que é inerente à minha profissão, só que não me sinto um carreirista, sinto-me um sonhador, alguém que aspira por um mundo melhor, por um teatro melhor, assim como cinema, e mais Cultura. Isso sim, agora carreira?

Quanto a esses novos projetos e filmes ainda por estrear, este ano estava previsto chegar às nossas salas “Terra Nova” de Artur Ribeiro, só que a pandemia alterou os planos. Já há nova data de estreia?

Não, ainda não há data de estreia. Para além do “Terra Nova”, tenho ainda “A Casa Flutuante” de José Nascimento, com quem trabalhei em “Tarde Demais”, “Para Cá do Marão”, de José Mazeda, e o novo filme de Bruno Gascon, realizador com quem trabalhei no “Carga”, e que tem como título “Sombra”.

Numa entrevista ao SAPO Mag, o realizador Francisco Manso, o qual trabalhou como Aristides de Sousa Mendes em “O Cônsul de Bordéus”, referiu que tem na gaveta um projeto que continua esse filme de 2012 e tem colaboração na escrita do neto de Sousa Mendes. Devido à falta de apoios e meios, essa espécie de sequela encontra-se no limbo. O que pode dizer sobre esta possibilidade e se aceitaria regressar ao papel?

Sim há, aliás eu e o Francisco Manso já falamos sobre isso mesmo há uns anos: um projeto que abordava a vida de Aristide Sousa Mendes depois do salvamento daqueles judeus dos nazis, e o seu regresso a Portugal. Mas sobre o seu avanço? Não sei. Só espero que ele consiga concretizá-lo, e isso seria ótimo, o que não quer dizer seja eu a voltar ao papel.

“O Cônsul de Bordéus” foi um êxito, visto por mais de 35 mil espectadores, o que na altura revelou para muitos portugueses uma história diversas vezes ocultada. Possivelmente essa divulgação levou à transladação de Aristide de Sousa Mendes para o Panteão Nacional. Acredita que o sucesso e a popularidade do filme tiveram como impulsionador o seu protagonismo?

O filme foi um êxito sim, só que não acredito que a minha participação tenha realmente contribuído para isso. Qualquer ator que se preze, e digo ator com "A", conseguiria interpretar Aristides melhor que eu. As coisas são notáveis. Sim, o filme de Manso contou comigo no papel principal, mas então e os outros atores? A luz? A técnica? Eu não tenho bem o culto da personalidade do cinema, a mim começaram a chamar-me Vitinho e até hoje continuam [risos] …

Um dos realizadores quem mais trabalhou e com quem fez alguns dos filmes mais importantes da sua carreira, foi com José Fonseca e Costa…

O meu amigo e padrinho de casamento José Fonseca e Costa talvez tenha sido um dos expoentes máximos do cinema em Portugal. E tinha uma cultura extraordinária, era possuidor de um conhecimento… Nós passávamos os jantares a ouvi-lo, e não custava nada, mas no plateau era um homem duro, melhor, um realizador duro que não abdicava nada.

Hoje em dia José Fonseca e Costa é recordado como um autor do nosso cinema, mas em tempos era dizimado pela crítica e desprezado como um “realizador comercial”. O próprio queixava-se dessa constante denominação...

Mas a crítica, bem, a crítica neste país é toda ela composta de ilhas, movimentos, de conhecidos e de amigos. Portanto, as críticas não são bem aquilo que deveriam ser, que era apontar os “bons” ou “maus” de um trabalho artístico, e são usadas para se fazerem ataques pessoais. Talvez seja isso que tenha acontecido ao José Fonseca e Costa, que era sobretudo um homem vertical.

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