O cineasta Roman Polanski desistiu de comparecer à cerimónia dos César, os Óscares do cinema francês, por causa dos protestos anunciados de grupos feministas, que criticaram as nomeações para um realizador acusado de violação.

"Lamento tomar esta decisão, a de não enfrentar um tribunal de opinião autoproclamado disposto a desprezar os princípios do Estado de Direito para que o irracional triunfe novamente", afirmou Polanski, de 86 anos, em comunicado.

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O filme mais recente do cineasta franco-polaco "J’Accuse - O Oficial e o Espião" recebeu 12 nomeações para os César, incluindo as de Melhor Filme e Realização, liderando a lista.

Este reconhecimento provocou a revolta de associações feministas, que destacam que Polanski é objeto de várias acusações de violação.

"Sabemos de antemão o que vai acontecer. As ativistas já me ameaçam com um linchamento público. Alguns anunciam protestos à frente da Sala Pleyel de Paris, onde acontecerá a cerimónia", escreveu Polanski.

"Tenho que proteger a minha família, a minha mulher e os meus filhos, que são submetidos a ofensas, afrontas", completou.

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A polémica sobre as nomeações de "J'accuse", que também recebeu o Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, terá contribuído ainda para a renúncia, no início do mês, da direção da Academia dos César, também criticada por gestão "obsoleta".

"Os media e as redes sociais apresentam as nossas 12 nomeações como um presente da direção da Academia, um gesto autoritário que teria provocado a sua demissão. Ignoram assim o voto secreto de 4.313 profissionais que são os únicos que decidem as nomeações, e os mais de 1,5 milhões de espectadores que foram assistir ao filme na França", defendeu o realizador.

A estreia da longa-metragem no fim de 2019 na França foi marcada por pedidos de boicote após uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, afirmar à imprensa que Polanski a violou em 1975, quando ela tinha 18 anos. Este negou a acusação.

Polanski é considerado foragido da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado e condenado por violar uma adolescente de 13 anos.

Nos últimos anos, outras mulheres afirmaram que foram vítimas de agressões sexuais por parte do premiado realizador de "O Pianista".

"As ativistas agitam o número de 12 mulheres que terei agredido há meio século, estas fantasias de espíritos doentios são agora tratadas como factos comprovados. Uma mentira repetida mil vezes torna-se realidade", completou Polanski.