A caminho dos
Óscares 2020
O filme "J'accuse - O Oficial e o Espião", de Roman Polanski, lidera as nomeações aos prémios César do cinema francês, o que provocou protestos de associações feministas, contrárias ao reconhecimento do cineasta condenado por uma violação e acusado por outras mulheres.
Com estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira (30), o filme histórico sobre o julgamento do militar judeu Alfred Dreyfus, premiado com o Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, recebeu 12 nomeações, incluindo nas principais categorias de melhor filme e realização.
Também supera "Os Miseráveis" - candidato ao Óscar de Melhor Filme Internacional - e "A Belle Époque", com 11 cada.
Os prémios César não devem "adotar posições morais", salientou o presidente da Academia, Alain Terzian, anunciando as nomeações esta quarta-feira.
"A menos que esteja enganado, 1,5 milhão de franceses foram ver o filme", acrescentou, destacando o sucesso de bilheteira do título homónimo do famoso romance de Emile Zola.
A estreia da longa-metragem no final de 2019 na França foi marcada por pedidos de boicote após uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, garantir à imprensa que Polanski a violou em 1975, aos 18 anos.
O cineasta franco-polaco, de 86 anos, negou a acusação através do seu advogado.
Roman Polanski é um fugitivo da justiça dos EUA, onde em 1977 foi acusado de violar uma menor de 13 anos.
Outras mulheres alegaram nos últimos anos terem sido vítimas de agressões sexuais pelo realizador de "O Pianista".
O anúncio das nomeações para os César, cuja cerimónia decorrerá a 28 de fevereiro no Pleyel Hall, em Paris, provocou uma onda de reações nas redes sociais.
"Doze nomeações para o filme 'J'accuse'. 12 como o número de mulheres que o acusam de violação! Que pena @LesCesar!", lançou nas redes sociais a associação Osez le feminisme.
"Encontramo-nos no Pleyel Hall, estaremos lá como na Cinemateca em 2017", numa referência aos protestos contra uma retrospectiva dedicada ao cineasta, acrescentou a organização.
Em 2017, Roman Polanski acabou por desistir do convite para presidir à cerimónia dos César sob pressão dessas associações.
A polémica à volta do cineasta tem muitos anos, enquanto o cinema francês quase não foi abalado pelo escândalo @MeToo.
Isso mudou no final de 2019 com a primeira denúncia de uma atriz conhecida pareceu quebrar o silêncio interno sobre essa questão.
A atriz Adele Haenel, que está a entrar na cena internacional com "Portrait de la jeune fille en feu", acusou o realizador Christophe Ruggia de assediá-la quando era adolescente. Ele foi processado este mês por agressões sexuais.
Haenel está entre as nomeadas ao César como Melhor Atriz por este filme sobre um amor lésbico, que esteve em competição no ano passado no Festival de Cannes.
Comentários