A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu expulsar Harvey Weinstein da sua lista de membros depois da revelação do escândalo que o envolve em várias acusações de assédio sexual ao longo dos anos. Reunida hoje de urgência, a Academia votou esta decisão "bastante para além da maioria necessária de dois terços", anunciou a entidade.

Num comunicado enviado à imprensa depois do encontro pode ler-se que a Academia decidiu "expulsar imediatamente Harvey Weinstein." "Fazemo-lo para nos separarmos de alguém que não merece o respeito dos seus colegas mas também para enviar uma mensagem de que a era de ignorância intencional e cumplicidade vergonhosa em comportamentos sexuais predatórios e assédio no local de trabalho na nossa indústria chegou ao fim", acrescenta o comunicado.

Afastar Harvey Weinstein da Academia pode parecer uma decisão óbvia depois do despontar do escândalo em que o produtor está envolvido, com novas acusações de assédio sexual a surgirem quase diariamente, mas não terá sido tomada de ânimo leve. Ainda que o comportamento de Weinstein seja condenado pela generalidade dos membros do conselho de governadores da instituição, expulsar o produtor abre um precedente que poderá aplicar-se a outros dos mais de oito mil membros e que pode apertar as regras da Academia em relação a conduta imprópria daqui para a frente.

Recorde-se, por exemplo, que Bill Cosby, envolvido noutro escândalo sexual e acusado em tribunal de violar várias mulheres, permanece membro da Academia, assim como o realizador Roman Polanski, que, para além do célebre caso em que admitiu ter tido sexo com uma rapariga de 13 anos nos anos 70 e que o afastou dos EUA desde então com receio de ser detido ao regressar ao país, foi também já acusado de violação e assédio sexual por outras mulheres.

Uma decisão invulgar mas não inédita

A decisão de expulsar um membro não é inédita mas aconteceu apenas uma vez em mais de 90 anos de história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas: o ator Carmine Caridi foi expulso em 2004 depois de se ter descoberto que emprestou a um amigo uma cópia de um filme nomeado aos Óscares que acabou por ser divulgada na internet (os estúdios fornecem aos membros da Academia cópias dos filmes nomeados mas as regras de visualização são rigorosas e só o votante pode ver os filmes em questão).

E apesar de ser entendimento comum que ser membro da Academia é uma função para a vida, as regras da organização contemplam a possibilidade de expulsões: "Qualquer membro da Academia pode ser suspenso ou expulso pelo Conselho dos Governadores. A expulsão ou suspensão requer o voto afirmativo de não menos que dois terços dos governadores".

Já no início desta semana, em comunicado divulgado pela imprensa especializada, a Academia responsável pelos Óscares tinha classificado a conduta de Weinstein como “repugnante, abominável e antiética”, abrindo a porta à possibilidade de expulsar o produtor da instituição.

Na quarta-feira, também a Academia Britânica de Cinema e Televisão (BAFTA) anunciou a suspensão imediata da sua associação ao produtor de Hollywood Harvey Weinstein.

As primeiras reações em Hollywood à expulsão

Rose McGowan: "A minha tia está a sofrer por tua causa, seu predator. Amaldiçoo-te para aos confins da terra"

Ron Perlman: "Como membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, estou orgulhoso da sua decisão de expulsar Harvey Weinstein."

Mia Farrow: "Orgulhosa da Academia. Harvey Weinstein está fora. Existem outros, mas esperançosamente estamos a testemunhar o fim de uma era horrível."

Josh Gad: "Agora que lidámos com Weinstein, o que vamos fazer sobre Trump?"

Amber Tamblyn: Meu Deus. Entre Harvey, Donald e Bernie, as mulheres estão a reviver todos os tipos de dor. Quero abraçar todas vocês neste momento. Cada mulher".

Jeffrey Wright: "Declaração sóbria e pesada diretamente da Academia. Boom"

Emmy Rossum: "Ámen, a Academia"

Anatomia de um escândalo

Depois de um primeiro artigo do New York Times, na quinta-feira, 5 de outubro, revelar várias acusações de assédio sexual contra Weinstein ao longo de décadas, mais de 30 mulheres denunciaram a violência sexual de que dizem ter sido alvo, por parte do produtor norte-americano.

Num comunicado então enviado ao jornal, Weinstein admitiu o comportamento, pediu perdão, uma segunda oportunidade e acrescentou que tentava corrigir a forma de atuar há dez anos, com recurso a terapia.

Dias depois da notícia original, a revista New Yorker, numa investigação assinada por Ronan Farrow, revelou que três mulheres acusam Weinstein de violação, algo do qual a atriz Rose McGowan disse também ter sido vítima.

Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Ashley Judd, Léa Seydoux e Asia Argento figuram entre as mulheres que denunciaram uma série de episódios diferentes, que vão desde presumíveis comportamentos sexuais abusivos a violações por parte do produtor galardoado com um Óscar pela produção de “A Paixão de Shakespeare” (1998).

Múltiplas personalidades do mundo cinematográfico, como as atrizes Meryl Streep, Kate Winslet, Judi Dench e Jennifer Lawrence, que colaboraram profissionalmente com o produtor, vieram a público condenar o comportamento de Weinstein, vozes às quais se juntaram também a de atores como Colin Firth, Mark Ruffalo, George Clooney e Christian Slater.

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