O documentário “Vou e Venho, memória de Miguel Torga”, realizado por Sofia Saldanha, é apresentado sábado, em São Martinho de Anta, Sabrosa, e reúne depoimentos de populares que contactaram com o escritor transmontano, foi hoje anunciado.

Miguel Torga, cujo nome de batismo era Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de agosto de 1907 em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, no distrito de Vila Real, e foi ali que a realizadora esteve um ano em residência artística a recolher as memórias de quem conheceu se cruzou com o escritor e médico.

“Vou e Venho, Memórias de Miguel Torga” reúne, segundo um comunicado divulgado hoje, mais de uma dezena de depoimentos e “constrói uma memória coletiva da figura, trazendo para os dias de hoje histórias que vão desde a infância do escritor até à sua morte”.

As saídas de Torga para a caça com o padre da paróquia de São Martinho de Anta, onde lhe surge o emblemático poema “São Leonardo de Galafura”, a figura do médico na sua relação com a comunidade, a educação na sua infância, a passagem de Samora Machel e Ramalho Eanes pela localidade ou ainda o seu amor público pelas terras de Trás-os-Montes e Alto Douro são algumas das histórias que se podem ouvir pela voz da população de São Martinho de Anta.

Torga inspirou-se na sua terra natal e nas paisagens do Douro para criar muitas das suas obras, desde os poemas, os contos ou os romances, como a "Criação do Mundo", "Bichos", "Contos da Montanha" e "Vindima".

É considerado como um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX e foi o primeiro escritor a receber o Prémio Camões, o mais importante título literário e cultural da língua portuguesa.

Torga morreu em Coimbra a 17 de janeiro de 1995.

A estreia do documentário está marcada para sábado, no Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta. No domingo será apresentado na Casa de Mateus, em Vila Real.

Ambas as apresentações têm entrada livre e contam com a presença de Sofia Saldanha.

O documentário resulta de uma encomenda artística, comissariada por Ilídio Marques, para o projeto de programação em rede “Palavras Cruzadas”, iniciativa que junta os municípios de Vila Real, Sabrosa, Bragança e a Fundação Casa de Mateus.

“Palavras Cruzadas” propõe um programa “artístico intenso”, sempre em diálogo com o património da região.

O projeto teve início em maio, prolonga-se até dezembro e cruza a poesia e a palavra literária com outras disciplinas artísticas — a música, o teatro e a dança — numa digressão por locais, autores e temas do património material e imaterial da região e do mundo.

Sofia Saldanha começou a trabalhar em rádio em 1992 quando ainda frequentava a escola secundária e durante 15 anos foi uma das vozes da Rádio Universitária do Minho, tendo completado o mestrado em rádio na Universidade de Londres, no Reino Unido, e feito o curso de rádio do Salt Institute for Documentary Studies, nos Estados Unidos da América (EUA).

Ganhou prémios nos EUA e na Croácia, integra a associação “In The Dark”, que nasceu em Londres em 2010 para divulgar documentários áudio inovadores, e, em 2018, criou o “In The Dark Lisboa”.

A realizadora é membro do Sindicato de Poesia, uma associação cultural que desde outubro de 1996 trabalha o ato performativo de dizer poesia.