A caminho dos
Óscares 2022
"O Poder do Cão" parte claramente na frente para a 94.ª edição dos Óscares, que se realiza a 27 de Março.
O filme de Jane Campion para a Netflix recebeu 12 nomeações esta terça-feira, foi o único nomeado em praticamente todas as categorias principais: Filme, Realização, Ator Principal (Benedict Cumberbatch), Atores Secundários (Kodi Smit-McPhee e Jesse Plemons), Atriz Secundária (Kirsten Dunst) e Argumento Adaptado, além de Fotografia, Montagem, Direção Artística, Banda Sonora e Som.
Seguem-se entre os mais nomeados "Dune - Duna", em dez categorias, "West Side Story" e "Belfast" em sete, e "King Richard: Para Além do Jogo", em seis.
Todos estão nomeados para Melhor Filme, juntamente com "CODA - No Ritmo do Coração" (três nomeações), o japonês "Drive my Car" (quatro), "Licorice Pizza" (três), "Não Olhem Para Cima" (quatro) e "Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas" (quatro).
Nas categorias técnicas, destaca-se a nomeação para o luso-canadiano Luís Sequeira pelo Guarda-Roupa de "Nightmare Alley".
Entre confirmações e algumas surpreendentes ausências, as maiores curiosidades são a inédita tripla nomeação de "Flee - A Fuga" (Melhor Filme Internacional, pela Dinamarca, Longa-Metragem de Animação e Documentário) e o recorde de nomeações para um filme japonês (o já referido "Drive My Car").
Nos atores, foram nomeados dois casais na vida real (Penélope Cruz e Javier Bardem por um lado, Kirsten Dunst e Jesse Plemons por outro), Denzel Washington ascendeu a um grupo raro de atores nomeados nove vezes, Judi Dench chegou à oitava nomeação em 24 anos e Olivia Colman à terceira em quatro anos.
Para Melhor Realização, Jane Campion conseguiu a oitava nomeação feminina em 94 anos de história e tornou-se a única repetente na categoria.
Graças à nova versão de "West Side Story", Steven Spielberg surge como o primeiro cineasta nomeado em seis décadas diferentes, assim como os seus filmes (o primeiro foi "Tubarão" em 1975, enquanto como realizador estreou-se dois anos mais tarde nas nomeações com "Encontros Imediatos do Terceiro Grau"). As oito nomeações como realizador colocam-no ainda ao lado do grande Billy Wilder e apenas atrás de Martin Scorsese e William Wyler; como produtor, também é o primeiro a conseguir 11 nomeações para Melhor Filme.
Graças a "Belfast", Kenneth Branagh também bateu um recorde, conseguindo ser nomeado oito vezes ao longo da carreira em sete categorias diferentes: Melhor Filme (como produtor de "Belfast"), Realização ("Belfast" e "Henrique V"), Ator ("Henrique V"), Ator Secundário ("A Minha Semana Com Marilyn), Argumento Original ("Belfast") e Adaptado ("Henrique V"), e Curta-Metragem em Imagem Real ("Swan Song"). Antes, George Clooney, Alfonso Cuarón e Walt Disney tinham a distinção de terem sido nomeados em seis categorias.
A lista das nomeações foi conhecida pouco depois das 13h00 (hora de Lisboa), numa transmissão global em direto nas redes sociais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas conduzida virtualmente pela atriz Tracee Ellis Ross ("black-ish", "A Nota Perfeita") e pelo ator e comediante Leslie Jordan ("Will & Grace", "As Serviçais"), com alguns convidados especiais ligados a ações sociais, o combate à pandemia e fãs de cinema.
A maior surpresa? Lady Gaga foi deixada de fora
As nomeações revelaram várias surpresas, incluindo a ausência de realizadores e atores que eram dados como certos na corrida às estatuetas douradas e até potenciais vencedores.
No regresso da categoria de Melhor Filme aos dez nomeados e apesar do domínio de "O Poder do Cão", a Netflix só conseguiu colocar colocar também na corrida "Não Olhem Para Cima", a que se juntou das plataformas de streaming "CODA - No Ritmo do Coração" (Apple TV+).
Os estúdios tradicionais acabaram por entrar em força com "Dune", "West Side Story", "Belfast", "King Richard", "Licorice Pizza" e "Nightmare Alley", a que se juntou o japonês "Drive my Car".
Entre os títulos apontados como possibilidades que acabaram por ficar pelo caminho estão "Os Ricardos", "tick, tick…BOOM!", "A Filha Perdida", "A Tragédia de Macbeth", "Casa Gucci" e "Mães Paralelas". E apesar da campanha em cima da hora da Sony e Marvel, também não se concretizou a nomeação para "Homem-Aranha: Sem Volta a Casa", que se ficou apenas pela categoria dos Efeitos Visuais.
Para Melhor Ator, confirmaram-se as apostas em Will Smith ("King Richard"), Benedict Cumberbatch ("O Poder do Cão") e Andrew Garfield ("tick, tick... BOOM!), juntando-se Javier Bardem ("Os Ricardos") e Denzel Washington ("A Tragédia de Macbeth").
As ausências de destaque são Leonardo DiCaprio ("Não Olhem para Cima"), Peter Dinklage ("Cyrano"), Nicolas Cage ("Pig"), Mahershala Ali ("Swan Song"), Cooper Hoffman ("Licorice Pizza"), Jude Hill ("Belfast") e Simon Rex ("Red Rocket").
Todos os atores nomeados já concorreram anteriormente nesta categoria e Denzel Washington e Javier Bardem são antigos vencedores (o primeiro ganhou como Melhor Ator com "Dia de Treino" em 2001 e secundário com "Tempo de Glória" em 1989; Bardem como secundário por "Este País Não é Para Velhos" em 2007).
Aos 67 anos, esta também é a nona nomeação de interpretação de Washington (fica a três do recordista Jack Nicholson) e a sétima para Melhor Ator, colocando-o num grupo com Marlon Brando, Dustin Hoffman e Jack Lemmon.
Nas atrizes principais, a grande surpresa é a ausência de Lady Gaga por "Casa Gucci", a quem nos últimos dias era atribuído mesmo o favoritismo para ganhar a estatueta.
As nomeadas acabaram por ser Nicole Kidman ("Os Ricardos") e Olivia Colman ("A Filha Perdida"), que já ganharam a estatueta nesta categoria (Kidman com "As Horas" em 2002, Colman com "A Favorita" em 2018), e ainda Jessica Chastain ("Os Olhos de Tammy Faye"), Kristen Stewart ("Spencer") e Penélope Cruz ("Mães Paralelas").
A única estreante na categoria e nos Óscares é Kristen Stewart e Penélope Cruz é uma antiga vencedora como secundária por "Vicky Cristina Barcelona" em 2008).
Além de Lady Gaga, as outras ausências de relevo para Melhor Atriz são Jennifer Hudson ("Respect"), Alana Haim (“Licorice Pizza”), Rachel Zegler ("West Side Story") e Emilia Jones ("CODA - No Ritmo do Coração").
Para ator secundário estreiam-se com a primeira nomeação nas carreiras Kodi Smit-McPhee e Jesse Plemons ("O Poder do Cão"), Ciarán Hinds ("Belfast") e Troy Kotsur ("CODA - No Ritmo do Coração"), que é também o primeiro ator mudo na corrida na história dos Óscares, juntando-se ao grupo J.K. Simmons ("Os Ricardos"), que ganhou nesta categoria em 2014 com "Whiplash - Nos Limites".
As relativas surpresas são as presenças de Plemons e Simmons, que ultrapassaram Bradley Cooper ("Licorice Pizza"), Jared Leto ("Casa Gucci"), J.K. Simmons ("Os Ricardos"), Jamie Dornan ("Belfast"), Mike Faist ("West Side Story") e Ben Affleck ("The Tender Bar").
Nas atrizes secundárias as estreantes são Jessie Buckley ("A Filha Perdida"), Ariana DeBose ("West Side Story"), Aunjanue Ellis ("King Richard") e Kirsten Dunst ("O Poder do Cão"), que se juntam a Judi Dench ("Belfast"), que é uma antiga vencedora nesta categoria com "A Paixão de Shakespeare" em 1998.
A veterana de "Belfast" é mesmo a maior surpresa, ficando pelo caminho pelo mesmo filme Caitriona Balfe e ainda Cate Blanchett ("Nightmare Alley"), Ruth Negga ("Passing"), Ann Dowd ("Mass") e Rita Moreno ("West Side Story").
TODOS OS ATORES NOMEADOS: OS QUE JÁ GANHARAM E OS ESTREANTES
Existe a curiosidade invulgar de dois casais de atores estarem nomeados no mesmo ano, aumentando para sete as vezes que isso aconteceu em 94 anos das estatuetas: Penélope Cruz e Javier Bardem por um lado, Kirsten Dunst e Jesse Plemons por outro (estes nomeados pelo mesmo filme, o que só tinha acontecido com Alfred Lunt e Lynn Fontanne ("The Guardsman") em 1931, e Elizabeth Taylor e Richard Burton em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", de 1966).
Entre os realizadores também houve surpresas: Jane Campion foi nomeada com "O Poder do Cão" e é a grande favorita, apenas um ano após a histórica dupla nomeação de Emerald Fennell ("Uma Miúda com Potencial") e a eventual vitória de Chloé Zhao ("Nomadland").
A realizadora é a oitava mulher nomeada em 94 anos e a única repetente: esteve na corrida com "O Piano" em 1993 (quando ganhou a estatueta de Argumento Original).
Kenneth Branagh ("Belfast") e Paul Thomas Anderson ("Licorice Pizza") eram nomeações esperadas para Melhor Realização, mas Steven Spielberg foi mesmo nomeado por "West Side Story" e para entrar Ryûsuke Hamaguchi ("Drive My Car"), a 30.ª vez que isso acontece com um filme não falado em inglês na categoria, quem ficou de fora foi Denis Villeneuve ("Dune") e ainda Adam McKay ("Não Olhem Para Cima"), Guillermo del Toro ("Nightmare Alley") ou mesmo Pedro Almodóvar ("Mães Paralelas").
Votantes internacionais da Academia mostram a sua influência
As quatro nomeações para "Drive My Car" (Melhor Filme, Realização, Filme Internacional e Argumento Adaptado), um recorde para o cinema japonês, confirmam ainda o poder do cada vez mais influente núcleo de votantes internacionais da Academia.
O mesmo acontece com o dinamarquês “Flee – A Fuga”, de Jonas Poher Rasmussen, a história verídica de um homem que, à beira do casamento, partilha pela primeira vez o seu passado de refugiado do Afeganistão: pela primeira vez na história dos Óscares, um filme foi nomeado em simultâneo para Melhor Longa-Metragem de Animação, Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário de Longa-Metragem.
Antes de "Flee", só o animado “A Valsa com Bashir” tinha conseguido a nomeação ao então designado Óscar de Melhor Filme de Língua Não Inglesa, mas sem conseguir acumular com o de Melhor Documentário ou Longa-Metragem de Animação.
Na categoria de Melhor Filme Internacional, a surpresa veio do Butão, que conseguiu a primeira nomeação da sua história com “Lunana: A Yak in the Classroom”, filme que já tinha sido submetido pelo país o ano passado mas que fora então desqualificado pela Academia por não ter cumprido os critérios de seleção.
As outras quatro nomeações eram já esperadas e foram para países repetentes nestas andanças: a Dinamarca por “Flee – A Fuga”, o Japão por “Drive My Car”, a Itália por “A Mão de Deus” e a Noruega por “A Pior Pessoa do Mundo” (também nomeado a Melhor Argumento Original).
De foram ficaram os também favoritos “Um Herói”, pelo Irão, “O Bom Patrão”, pela Espanha, e “Compartimento nº6”, pela Finlândia.
Na categoria de curta de animação, o quinteto de nomeados exclui títulos americanos e é exterior aos grandes estúdios, com a eventual exceção de “Robin Robin” produzido pela Aardman para a Netflix, que se soma ao chileno “Bestia”, ao russo “BoxBallet”, ao espanhol “The Windshield Wiper” e ao britânico “Affairs of the Art”, de Joanna Quinn, já premiado em festivais como Annecy ou Clermont-Ferrand.
Ao contrário do que se esperava, temporada de prémios não regressou à normalidade
Além do regresso de um anfitrião após três anos de ausência, sobre a cerimónia propriamente dita anunciada para 27 de março pouco se sabe: após se ter realizado na histórica Union Station por imperativos da situação provocada pela pandemia a 25 de abril de 2021, a organização apenas sinalizou a intenção de ser presencial e regressar à casa "tradicional", o Dolby Theatre.
Quando a data foi confirmada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas no final de maio do ano passado para substituir 27 de fevereiro, parecia que dava tempo mais do que suficiente para a indústria recuperar do maior impacto da pandemia.
A realidade é muito diferente e 2021 foi outro ano estranho: desde a última cerimónia a 25 de abril, os cinemas não voltaram a fechar completamente nos EUA e noutros países, mas muitos espectadores não regressaram, deixando um rasto de desilusão nas bilheteiras para a grande maioria dos filmes que vão ser nomeados para as estatuetas douradas. Sempre a analisarem a evolução epidemiológica com especialistas, realmente os estúdios lançaram mais filmes para o grande ecrã do que em 2020, mas também os fizeram chegar mais rapidamente às plataformas de streaming.
Pior: em vez do esperado regresso a uma semi-normalidade e o fim do distanciamento social, a variante Ómicron dizimou a temporada de prémios, com festivais e cerimónias a serem outra vez cancelados, adiados ou a passarem para o pesadelo do formato virtual.
Para carregar nos tons negros, os Globos de Ouro, tradicionalmente uma das maiores festas de Hollywood, mantiveram a data de 9 de janeiro, anunciando os prémios num evento privado sem passadeira vermelha nem cobertura televisiva depois do boicote de estrelas, estúdios e televisões por causa das acusações de corrupção e falta de diversidade.
Nestas circunstâncias, as nomeações para os Óscares voltaram a ser dominadas por filmes lançados nos cinemas que a maioria dos espectadores só viu (se viu) em casa e os produzidos pelas plataformas de streaming.
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