
"As mães também podem lutar de arma na mão" quando a democracia está em perigo, declara a atriz francesa Bérènice Béjo, que interpreta uma ativista guatemalteca em "México 86", filme rodado em castelhano que toca profundamente esta filha de refugiados argentinos.
Atualmente a estrear em vários países europeus, mas ainda sem confirmação de chegada a Portugal, aborda a luta contra a ditadura militar na Guatemala na década de 1980 e baseia-se na história pessoal do seu realizador, César Díaz.
Bérènice Béjo interpreta uma ativista revolucionária guatemalteca que foge para o México, onde tenta continuar a sua luta clandestina. Perseguida pela polícia secreta, tenta criar o filho de 10 anos, que os seus superiores prefeririam enviar para um orfanato revolucionário em Cuba.
Este papel também ecoa as origens da atriz de 48 anos, nascida na Argentina e cujos pais tiveram que se refugiar na França, fugindo da ditadura militar (1976-1983) quando ela ainda era uma bebé.
"Somos exilados, com pais que nos permitiram ter uma vida melhor, mas, ao mesmo tempo, eles não nos contaram realmente a história", disse a intérprete nomeada para um Óscar à agência France-Presse (AFP).
Juntamente com o realizador, "percebemos que não éramos os únicos nesta situação e que isso não nos impediria de seguir em frente. Estou muito grata pelo que os meus pais fizeram; sacrificaram-se para que pudesse estar aqui. Aproveitei a oportunidade, fiz algo com ela e tive sucesso, portanto estão super orgulhosos", acrescenta.
"Mas haverá sempre uma história que não será contada", continua a atriz, que ganhou prémios pelos filmes "O Artista", do seu parceiro Michel Hazanavicius, e "O Passado", de Asghar Farhadi.
Refletir

Nascido em 1978 na Guatemala, o cineasta César Díaz deixou o país centro-americano aos nove anos de idade para ir para o México, juntando-se à mãe, que fugira anos antes da guerra civil. Não tem recordações do pai, um "desaparecido político".
Os 36 anos de guerra civil guatemalteca (1960-1996) deixaram cerca de 200 mil mortos e desaparecidos, segundo dados oficiais.
A história de "México 86", que reflete os protestos pró-democracia na América Latina nas décadas de 1970 e 1980, "ressoa com o que está a acontecer hoje no mundo" com a ascensão de regimes autoritários, continua a atriz.
"De repente, damo-nos conta que, em determinado momento, quando a democracia está enfraquecida [...] precisamos defender as coisas que amamos: a liberdade, a liberdade de expressão, os direitos, o secularismo. Todos estes são direitos conquistados e, agora, quando estão a enfraquecer, precisamos defendê-los", observa.
"Quando há pessoas que sentem coragem de fazer isto, às custas das suas vidas pessoais, é importante contar as suas histórias, dizer que é possível, se se tiver coragem, seguir em frente! Seja-se mãe, uma mulher solteira, homem ou pai", acredita a atriz.
"Não é fácil para ninguém", insiste.
"Não há nenhuma razão para que sejam apenas os homens que partam e se envolvam, porque, na realidade, é difícil para os homens envolverem-se, é doloroso e exige muito sacrifício deixar as suas esposas e filhos", enfatiza.
"Este tipo de filme faz refletir. Como mulher, digo a mim mesma: 'Sim, é verdade que é possível'", acrescenta.
"Se acredita que pode ir para a batalha com uma arma na mão, vá em frente. Só porque se é mãe não significa que não deva fazê-lo", insiste.
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