O Super-Homem é frequentemente convocado para salvar o mundo de vilões, mas na sua mais recente incarnação no grande ecrã, também está a ser chamado para intervir e salvar uma saga.

"Superman", de James Gunn, que estreou nos cinemas do mundo na semana passada, é um recomeço que visa relançar o chamado Universo DC de filmes de super-heróis baseados em histórias de banda desendaga, que inclui ainda a Mulher-Maravilha e o Batman entre as personagens mais populares.

"Superman": James Gunn devolve a esperança ao novo universo da DC
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Os esforços da Warner Bros. e da DC Studios no cinema foram amplamente ofuscados pelo Universo Cinematográfico Marvel da Disney — o mundo do Homem de Ferro, Thor, Black Panther e o Quarteto Fantástico, que ganharão o seu próprio recomeço ainda este mês.

"A Warner Bros. investiu muita energia e dinheiro a tentar reorientar e renovar a DC Studios, e este será o grande lançamento disso", dizia à agência France-Presse (AFP) ainda antes da estreia o analista David A. Gross, da Franchise Entertainment Research.

A pesada tarefa recaiu sobre Gunn, o argumentista e realizador que recebeu elogios dos fãs do género com a trilogia "Guardiões da Galáxia", da Marvel, antes de ser nomeado um dos presidentes-executivos da DC Studios.

O lançamento do filme já enfrentou vários obstáculos, incluindo a reação da direita norte-americana aos comentários de Gunn sobre o papel do Super-Homem como imigrante e o ceticismo dos fãs dos filmes anteriores centrados no super-herói, dirigidos por Zack Snyder.

Gunn minimizou as elevadas expectativas à volta do sucesso de bilheteira do seu filme.

"Há algo que depende disso? Sim, mas não tão grande como dizem as pessoas", disse à revista GQ.

"Eles ouvem estes números de que o filme só fará sucesso se arrecadar 700 milhões de dólares ou algo assim, e isso é um completo absurdo", garantiu.

A euforia à volta do filme é real — a Casa Branca chegou a sobrepor o presidente Donald Trump num dos cartazes oficiais do filme com a legenda "O SÍMBOLO DA ESPERANÇA. VERDADE. JUSTIÇA. O ESTILO AMERICANO. SUPERMAN TRUMP".

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"Um género em declínio"

A Warner Bros. espera que o Universo DC consiga alcançar a Marvel, que — após anos de enorme sucesso com os filmes "Vingadores" — tem visto receitas de bilheteira mais modestas com os recentes "Thunderbolts" e "Capitão América: Admirável Mundo Novo".

Gross explicou que os filmes de super-heróis atingiram o auge pouco antes da pandemia de COVID-19, com as receitas e o entusiasmo do público a diminuírem desde então.

"É realmente um género em declínio", diz.

No entanto, o analista disse que as reacções iniciais a "Superman" foram "muito boas".

O filme tem como protagonista o promissor David Corenswet como o novo Super-Homem/Clark Kent, com Rachel Brosnahan, a estrela da série "A Maravilhosa Sra. Maisel", a interpretar o seu eterno interesse amoroso Lois Lane. A supermodelo portuguesa Sara Sampaio mostra uma versão diferente de Eve Teschmacher, a assistente e namorada do vilão Lex Luthor, papel de Nicholas Hoult.

A história acompanha o Homem de Aço a aceitar a sua identidade extraterrestre enquanto encontra o seu lugar no mundo dos humanos.

O elenco secundário conta com uma seleção de outros personagens da DC Comics, desde o pacificador Green Lantern (Nathan Fillion) — que deve repetir o papel na próxima série de TV "Lanterns" — até à Hawkgirl.

Na semana passada à AFP, Gross observava que julho é o mês mais importante do ano para a indústria e previa uma estreia nas bilheteiras acima dos 100 milhões de dólares na América do Norte. Na verdade, chegou aos 125, segundo a atualização feita pela Warner esta segunda-feira. O lançamento global foi assim de 220 milhões de dólares, cerca de 20 milhões a mais do que as previsões (o impacto foi menor no mercado internacional, justificado com a identidade fortemente americana do super-herói).

Na América do Norte, é o sexto filme da Warner a estrear em primeiro lugar este ano, um feito que mais nenhum estúdio conseguiu, além de apenas o terceiro a ter uma estreia doméstica acima dos 100 milhões, juntamente com "Um Filme Minecraft", também da Warner, e a versão em imagem real de "Lilo & Stitch", da Disney. Trata-se de um feito muito significativo para um filme na era pós-pandemia e principalmente para o género em crise dos super-heróis.

"A História da América"

Realizador e protagonista na rodagem de "Superman"

Para seguir em frente, a DC Studios precisa livrar-se da reputação de produzir filmes medíocres que não agradaram ao público.

A última leva de filmes do "Universo Estendido DC" incluiu o aclamado "Mulher-Maravilha" (2017), protagonizado por Gal Gadot — mas também fracassos de bilheteira como "Shazam! Fúria dos Deuses" (2023) e a sequela de "Aquaman", com Jason Momoa, que teve um desempenho abaixo do esperado.

"O sucesso foi misto, e estavam a investir muito dinheiro em algumas das novas personagens derivadas que não estavam a funcionar muito bem", recorda Gross, citando "O Esquadrão Suicida", de 2021, dirigido por Gunn, como exemplo.

Os últimos filmes com o Super-Homem, protagonizados por Henry Cavill e dirigidos por Snyder, foram relativamente bem-sucedidos para a Warner Bros. até "Liga da Justiça" (2017) — a tentativa da DC de recriar a vibração de "Vingadores" — que gerou prejuízos de milhões de dólares.

Por lealdade a esses filmes anteriores, também os fãs de Snyder causaram ruído negativo à volta do novo filme "Superman", expressando 'online´ a esperança de que o recomeço fracasse.

A reação negativa intensificou-se ainda mais depois que comentadores da direita política nos EUA se queixarem da caracterização específica do Super-Homem como imigrante, lamentando que o super-herói se tivesse tornado "woke".

Gunn respondeu às críticas, dizendo ao jornal The Times que "o Super-Homem é a história da América", com a personagem a refletir aqueles que "vieram de outros lugares e povoaram o país".

"Estou contando a história de um tipo que é excecionalmente bom, e isso parece necessário agora", acrescentou.

Em última análise, será o tempo a dizer que Corenswet e a visão de Gunn serão os superpoderes de que a DC Studios precisa — ou se provarão ser a sua 'Kryptonite'.

Por agora, festeja-se após o fim de semana de estreia.

"Estou imensamente grato pelo vosso entusiasmo e pelas palavras gentis nos últimos dias. Tivemos muito 'Super' no 'Superman' ao longo dos anos, e estou feliz por ter feito um filme que se foca na parte 'man' [humana] da equação – uma pessoa boa sempre a proteger os necessitados. Que isso tenha ressonância de forma tão forte com tantas pessoas à volta do mundo é, por si só, um testemunho esperançoso da bondade e da qualidade dos seres humanos. Obrigado", escreveu Gunn no domingo na rede social Threads.

Também o presidente da Warner Bros. Discovery comemorou os resultados de "Superman" e elogiou-se por ter trazido Gunn e Peter Safran há três anos para a liderança da DC Studios para dar "nova vida e emoção a uma das sagas narrativas mais icónicas do mundo".

"Neste fim de semana, vimos 'Superman' descolar com a paixão e a visão de James Gunn a ganharem vida no grande ecrã. 'Superman' é apenas o primeiro passo". Só no próximo ano, a DC Studios lançará os filmes 'Supergirl' e 'Clayface' nos cinemas e a série 'Lanterns' na HBO Max, tudo parte de um plano ousado de dez anos. A visão da DC é clara, a vaga é real e não poderia estar mais entusiasmado com o que está por vir", destacou David Zaslav numa declaração oficial.

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