Durante a pandemia de COVID-19, a estrela e cineasta de Bollywood Aamir Khan pensou abandonar definitivamente o cinema depois de dominar a indústria indiana durante mais de quatro décadas.

“Foi no meio da COVID e estava... a pensar em muitas coisas e, de repente, senti que tinha passado toda a minha vida adulta neste mundo mágico do cinema”, disse Khan à agência France-Presse (AFP) em Londres, envolto num xaile roxo pesado e de bigode.

Não é reflexão incorreta, já que tem ajudado a moldar a cultura cinematográfica indiana há muitos anos, tornando-se um dos atores mais populares de Bollywood.

Com isso acumulou uma obra formidável de filmes em hindu, incluindo "Lagaan: Era uma Vez na Índia" (2001), nomeado ao Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, bem como filmes como "A Revolta - Em Guerra contra o Império" (2005), "Taare Zameen Par" (2007), "3 Idiots" (2009), "Dangal" (2016), "Thugs Of Hindostan" (2018) e "Laal Singh Chaddha" (2022).

"Lagaan - Era Uma Vez na Índia" (2001)

Começando como ator infantil na década de 1970 e sinónimo de Bollywood desde então, Khan percebeu que "não tinha realmente dado à minha vida pessoal o tipo de dimensão que gostaria".

“A perceção de que perdi aquele tempo todo era algo que estava a achar difícil de aceitar e estava a passar por muita culpa... a minha reação instintiva a isso foi que já estava farto do cinema", ​​diz Khan.

No entanto, a sua família, incluindo dois filhos, acabou por convencê-lo a não reformar-se.

“Na minha cabeça, desisti. E depois não o fiz”, recorda.

Agora, tenho completado 60 anos em março, Khan, que mora em Bombaim, quer “continuar a representar e produzir durante algum tempo”.

Também quer usar a sua Aamir Khan Productions "como uma plataforma para encorajar novos talentos... cuja sensibilidade é próxima da minha. E [que] querem contar histórias que me afetam".

Saltar géneros

Aamir Khan em outubro de 2017

Uma dessas histórias foi "Lost Ladies", uma comédia em hindi sobre duas jovens noivas, que coproduziu com a ex-esposa Kiran Rao e recentemente promoveu em Londres.

Foi lançado este ano, tornando-se a candidatura da Índia à categoria de Melhor Filme Internacional nos Óscares, sem chegar à lista de 15 finalistas revelada na terça-feira.

A parceria de Khan e Rao em "Lost Ladies" começou quando Khan descobriu o argumento numa competição onde servia no júri, o que o levou a sugerir que ela dirigisse o filme.

“Gosto de reagir organicamente ao material que chega até mim. Sinto que um filme deve começar com o argumentista, o pensamento”, diz.

“Gosto que a história surja do argumentista e depois, como produtor ou como ator, entro na altura certa, quando o mereço”, acrescentou.

Muitos dos seus filmes abordam questões sociais na Índia, desde os direitos das mulheres nas zonas rurais e na indústria do desporto, até à cultura tóxica no ensino superior e os direitos das pessoas com deficiência.

No entanto, Khan recusou deixar-se limitar a apenas um tipo de filme ou papel.

“Fico feliz por saltar géneros e experimentar diferentes tipos de histórias. Gosto de me surpreender a mim mesmo e ao meu público.”

Também não tem medo de admitir erros e tem falado abertamente sobre sua deceção com a sua última interpretação em "Laal Singh Chaddha".

A adaptação indiana de 2022 de “Forrest Gump” de Tom Hanks foi um raro passo em falso na brilhante receção crítica da carreira.

"Laal Singh Chaddha"

“Não estou realmente contente com a minha última interpretação”, disse antes de acrescentar que se achou demasiado estridente no papel.

“Espero que este seja melhor”, disse ele sobre o seu próximo filme, “Sitaare Zameen Par”, que diz ser uma sequela 'temática' de “Taare Zameen Par”, um drama sobre necessidades educativas especiais.

Apesar de ter ganho dezenas de prémios do cinema indiano, bem como a terceira maior distinção civil da Índia, o Padma Bhushan, Khan ainda fundamenta a sua ideia de sucesso no filme em si.

“Fazer cinema é muito difícil... contar uma história através de tantas formas de arte que se juntam para formar cinema”, diz.

“Portanto, quando olho para o filme que fizemos e depois olho para o argumento com que começámos, (pergunto-me): o filme chegou onde pensávamos?”

“E se chegámos onde queríamos e fizemos o filme que pretendíamos, então é um grande alívio.”