Desde filmes e séries até à previsão do tempo, tudo em segmentos de até 10 minutos para poder ver no telemóvel enquanto se está num engarrafamento ou a viahar de autocarro: o Quibi quer fazer "streaming" longe da televisão e do computador.
O lançamento deste projeto dirigido por Jeffrey Katzenberg, chefe da Disney entre 1984 e 1994, e criador dos estúdios DreamWorks, está previsto para abril de 2020.
Os estúdios de Hollywood foram seduzidos pela ideia e puseram sobre a mesa mil milhões de dólares, com pesos pesados da indústria como Steven Spielberg, Guillermo Del Toro e Jennifer Lopez a trabalhar em programas curtos criados especificamente para um ecrã de smartphone, que podem ser vistos na vertical ou na horizontal.
"Criámos uma nova plataforma para ver enquanto estamos em movimento", disse Meg Whitman, diretora executiva do Quibi, durante uma conferência organizada na Califórnia pelo Wall Street Journal sobre tecnologia.
"Capaz de chegar a uma audiência difícil de alcançar como são os 'millenials'", explicou, referindo-se à famosa "geração Y" dos que nasceram entre 1980 e 2000.
Para conquistá-los, Quibi (que vem de "Quick bites") propõe "vídeos de alta qualidade de Hollywood, com formatos curtos totalmente optimizados para telemóveis" que não podem ser vistos em nenhum outro meio, aponta Whitman.
Não se trata apenas de como as imagens são filmadas, comprimidas e reproduzidas, mas também da forma como as histórias são apresentadas, destacou a ex-chefe da eBay e da Hewlett-Packard.
"Contamos as histórias em capítulos. Uma das nossas principais ofertas serão os filmes, de uma hora e meia ou duas, contados em capítulos de 10 minutos", com a sua própria dinâmica e "um início e um fim".
"A melhor analogia é o 'Código Da Vinci': cada capítulo do livro tem cinco páginas, porque Dan Brown pensava que as pessoas não queriam ler 40 minutos seguidos", continuou.
Para Whitman, este formato curto é a chave para captar a atenção de futuros assinantes e acompanhar as suas atividades diárias, principalmente entre segunda e sexta, entre as sete da manhã e as sete da noite.
Uma exceção será a série de terror que Steven Spielberg está a produzir para o Quibi. Ele pediu que só possa ser vista ao anoitecer, de modo a criar um ambiente propício.
"O maior risco"
O serviço, que inicialmente só estará disponível nos Estados Unidos e no Canadá, terá um custo próximo ao da plataforma Disney+: 7,99 dólares por mês sem publicidade, 4,99 dólares com publicidade [7,18 ou 4,48 euros].
O espaço publicitário para os primeiros 12 meses de operação já está à venda por cerca de 150 milhões de dólares. Mas os clientes aparecerão?
Tom Nunan, produtor e professor da Escola de Teatro, Cinema e Televisão da UCLA, afirma que o serviço pago do YouTube é a prova "de que este modelo de negócio não funciona".
"Considero que, de todos os novos serviços de 'streaming' que estão a ser lançados, o Quibi é o que implica o maior risco pelo seu compromisso exclusivo com o formato curto, quando não há provas de que as pessoas queiram assinar esse tipo de conteúdo", diz à AFP.
Mas Gene Del Vecchio discorda. Este especialista em marketing e comportamento do consumidor da Universidade do Sul da Califórnia acredita que o "Quibi pode ser viável".
O formato, defende, "adapta-se ao estilo de vida dos jovens de hoje, pequenas peças que se podem ver enquanto se movem de um lado para o outro".
Whitman destaca a vantagem do Quibi para atrair projetos: "Pagamos o custo de produção mais 20%. Mantemos os direitos do formato curto por sete anos e ao final desse tempo os criadores retomam a sua propriedade intelectual".
"Podem editar o filme noutro formato e vendê-lo a outro serviço de 'streaming' depois de se tornar popular no Quibi. Isso parece-nos bem porque realmente não vemos como concorrentes" os serviços de 'streaming' tradicionais, afirma.
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