Esta terça-feira, Jeffrey Katzenberg, ex-presidente da Walt Disney Studios, disse que a Inteligência Artificial “está a caminho de ser a mais poderosa ferramenta de sempre para os criadores”, numa altura em que a IA generativa gera controvérsia em Hollywood.
“Vai ser disruptiva, mas algo substituirá o que será alterado”, afirmou Katzenberg, num painel sobre o futuro da indústria do entretenimento no segundo dia da Conferência Global do Milken Institute, em Los Angeles. “Alguns empregos perderão valor e serão menos essenciais, e outros surgirão”.
O responsável, que foi um dos fundadores da DreamWorks e agora é sócio da firma de investimento WndrCo., disse que prevê o nascimento de “um formato inteiramente novo de conteúdos” a partir da IA e considerou que os receios quanto à tecnologia advêm de ser algo desconhecido.
“Quando aparece novo conteúdo, aparece uma nova plataforma”, frisou. “A audiência consegue sempre encontrar a qualidade”.
Ynon Kreiz, CEO da Mattel, também falou da disrupção que está a ser criada pela tecnologia e considerou que esta funcionará como um amplificador, sendo que o conteúdo de qualidade e as grandes marcas – como Barbie – permanecerão relevantes.
“Embora estejamos a passar por um período de disrupção, o entretenimento não vai desaparecer”, afirmou. “As pessoas não vão deixar de passar tempo em experiências”.
Mas Lisa Joy, criadora da série “Westworld” e fundadora da Kilter Films, avisou que a utilização exagerada da IA vai redundar em 'clichés'. “A tecnologia não está a pensar. É um grande modelo de linguagem que pega em arquétipos e tendências 'online', reorganiza e cospe de volta”, descreveu.
O que os criadores humanos fazem, disse, é o oposto: procuram o que é fresco, o que ainda não foi testado. “O artista tem de ser o curador do conteúdo. A IA dá-nos o 'cliché' sem propósito, sem autoria”.
Para Janine Sherman Barrois, argumentista e fundadora da Folding Chair Productions, a IA vai mesmo produzir uma nova forma de arte e permitirá a qualquer pessoa contornar os "porteiros" da indústria. “A questão é como vamos consumir conteúdos, se toda a gente está a criá-los”, ressalvou.
O realizador Brian Grazer, presidente da Imagine Entertainment, salientou no mesmo painel que até podemos vir a ter filmes e séries feitas por Inteligência Artificial, mas que haverá diferenciação e valor na criação real.
Considerou também que as crianças são verdadeiras “antenas” de autenticidade que saberão distinguir e identificar os programas de qualidade.
“O negócio do entretenimento neste momento não incentiva os artistas”, afirmou. “Tudo é ditado pelo modelo económico do que fazem as empresas de 'streaming'”.
Ainda assim, o painel mostrou-se otimista quanto ao futuro da indústria. Os próximos anos serão de consolidação, previu Katzenberg, e surgirão usos de IA que vão transformar a arte de contar histórias. Haverá também mais espaço para séries e filmes com mensagens de valor social, defendeu o ator e produtor Justin Baldoni, fundador do Wayfarer Studios.
“Acredito que precisamos de esperança e temos a responsabilidade de criar conteúdos que fazem mexer a agulha”, afirmou. “Vamos precisar disso. Hollywood é um microcosmos do macrocosmos e estamos a ver tudo a ser desmontado e reintegrado à nossa volta. Há uma enorme oportunidade na reintegração”.
A 27.ª edição da Conferência Global do Milken Institute, que é por vezes referida como “Davos do Ocidente”, decorre no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, até quarta-feira, 8 de maio.
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