"A Media Rights Capital e a Netflix decidiram suspender a rodagem da sexta temporada de House of Cards, até data a anunciar, de forma a dar tempo de analisar a situação e ficar a par de quaisquer preocupações do nosso elenco e equipa", pode ler-se no comunicado das duas companhias ao site Deadline divulgado esta terça-feira.
A notícia chega menos de 24 horas após a Netflix ter anunciado o final da série na sexta temporada, depois de o protagonista Kevin Spacey ter sido acusado de assediar sexualmente o ator Anthony Rapp nos anos de 1980.
Num comunicado conjunto anterior, divulgado na segunda-feira à noite, a Media Rights Capital e a Netflix já se tinham manifestado “profundamente preocupadas” com as recentes informações relativas a Kevin Spacey.
“Em resposta às revelações conhecidas esta noite, os executivos das duas empresas estiveram esta tarde [segunda-feira] em Baltimore [onde está a ser rodada a série] para se encontrarem com a equipa [de filmagens] e os atores de modo a que continuem a sentir-se seguros e apoiados. Como estava anteriormente planeado, Kevin Spacey não está a trabalhar no ‘set’ nesta altura”, indicou a mesma nota.
Segundo fontes que falaram sob a condição de anonimato à agência de notícias Associated Press, apesar de anunciada na segunda-feira, a decisão de acabar com “House of Cards” terá sido tomada há vários meses. O site TV Line corroborou essa informação, citando fontes da Netflix também não identificadas, apontando que o cancelamento da série nada tem que ver com o escândalo em torno do ator Kevin Spacey, duas vezes vencedor do Óscar.
O site The Wrap avança, no entanto, que a produtora Media Rights Capital está a analisar várias ideias para spin-offs da história do casal Underwood, que incluem, por exemplo, uma série centrada na personagem Doug Stamper (Michael Kelly). Se a Netflix der luz verde, Eric Roth, o produtor executivo da série protagonizada por Kevin Spacey, será o responsável pelo guião do spin-off de "House of Cards".
“House of Cards” ganhou o Emmy de melhor série dramática e foi um dos primeiros produtos emblemáticos da Netflix.
Kevin Spacey assumiu homossexualidade depois de ser acusado de assédio por ator
Inspirado pelas várias denúncias de assédio sexual e violação a nomes poderosos em Hollywood nas últimas semanas e particularmente pelo caso Harvey Weinstein, o ator Anthony Rapp, que fez carreira em vários musicais da Broadway e participa na série "Star Trek: Discovery", acusou este domingo Kevin Spacey de, em 1986, quando Rapp tinha 14 anos e Spacey 26, de ter feito uma "investida sexual agressiva" contra si depois de uma festa em Nova Iorque.
Em resposta às acusações de Rapp, Kevin Spacey partilhou na sua conta de Twitter um pedido de desculpas e assumiu-se a sua homossexualidade.
Spacey começa por dizer que não tem memória do encontro mas desculpa-se pelo que Anthony Rapp o acusa de ter feito. "Honestamente, não me recordo do encontro, que teria sido há 30 anos. Mas se me comportei como ele descreve, devo-lhe um sincero pedido de desculpas por aquilo que terá sido um comportamento verdadeiramente inadequado e alcoolizado, e lamento os sentimentos que ele descreve ter carregado consigo durante todos estes anos", diz o ator.
Depois, o ator vencedor de dois Óscares da Academia, fala sobre a sua vida privada e confirma que é homossexual. "Sei que há histórias sobre mim e que algumas foram alimentadas pelo facto de eu ser tão protector em relação à minha privacidade. Como os que são mais próximos de mim sabem, na minha vida tive relações com mulheres e homens. Amei e tive encontros românticos com homens ao longo da minha vida, e escolho agora viver como um homem gay", acrescenta Spacey no Tweet.
Anthony Rapp revelou a sua história com Spacey numa entrevista ao site Buzzfeed, onde descreveu que, na altura em que os dois trabalhavam em dois espetáculos na Broadway no final de uma festa dada por Spacey, onde este terá "subido para cima de Rapp numa cama" e tentado "seduzi-lo". "Ele pegou em mim como um noivo pega numa noiva e colocou-me na cama", explicou Rapp. O ator, então com 14 anos, acabou por recusar a investida e abandonar a casa da festa.
Rapp diz ter contado a história várias vezes em fóruns privados desde 1990 mas só agora decidiu trazê-la a público.
Ao longo dos anos, vários rumores foram circulando sobre o facto de Kevin Spacey ser ou não homossexual mas o ator nunca quis falar sobre isso publicamente e chegou a dizer numa entrevista "nunca abdiquei ao meu direito à privacidade. É uma linha que nunca ultrapassei nem vou ultrapassar".
Hollywood reage enraivecida ao Tweet de Kevin Spacey
As reações negativas ao pedido de desculpas de Kevin Spacey em Hollywood não demoraram a chegar e estão a invadir o Twitter.
Vários nomes conhecidos da indústria, associações de direitos LGBT condenaram a forma como Spacey pediu desculpas e "aproveitou" simultaneamente para falar da sua sexualidade.
Rose McGowan, uma das atrizes que acusou Harvey Weinstein de violação e que tem sido uma acérrima defensora dos direitos das mulheres em Hollywood escreveu "Queridos media, mantenham a atenção no caso Anthony Rapp. Sejam a voz das vítimas".
"Não há quantidade possível de álcool ou de viver no armário que seja desculpa para atacar um rapaz de 14 anos", disse o argumentista Dan Savage.
O escritor Mark Harris condenou Spacey por ter associado um caso de assédio sexual ao momento em que assumiu a homossexualidade. "Associar esse momento a vilania é muito errado", disse.
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