Kevin Spacey negou ter assediado Guy Pearce na rodagem do clássico "L.A. Confidencial", de 1997, e deixou vários recados, incluindo que precisa 'crescer' e não é uma vítima.
A reação surgiu um dia depois após o nomeado este ano para o Óscar de Melhor Ator Secundário por "O Brutalista" ter dito no podcast Awards Chatter da Hollywood Reporter que foi assediado e que só se sentia seguro nos dias em que o ator Simon Baker estava presente, pois isso desviava a atenção de Spacey.
No entanto, Guy Pearce disse que só percebeu verdadeiramente o impacto duradouro do que aconteceu, graças às revelações do movimento #MeToo, em que Spacey foi um dos acusados, mas disse que tinha relutância em usar o termo vítima, 'mesmo que provavelmente tenha sido uma vítima até certo ponto; certamente não fui vítima de predadores sexuais de forma alguma à dimensão que foram outras pessoas'.
Em vários processos nos EUA e Inglaterra desde 2019, Kevin Spacey tem sido ilibado em tribunal pelos alegados assédios e abusos sexuais ou as acusações foram retiradas. No ano passado, disse a Piers Morgan que estava falido.
Kevin Spacey optou por partilhar uma mensagem em vídeo na rede social X (antigo Twitter) dirigindo-se diretamente ao antigo colega.
"Trabalhámos juntos há muito tempo. Se fiz algo na altura que te perturbou, poderias ter-me contactado. Poderíamos ter tido essa conversa, mas em vez disso decidiste falar com a imprensa, que agora, claro, vem atrás de mim, porque gostaria de saber qual é a minha resposta às coisas que disseste. Queres saber realmente qual é a minha resposta? Cresce."
E continuou: "A propósito, disseste à imprensa que, um ano depois de filmarmos 'L.A. Confidencial', voaste até Savannah, Geórgia, quando eu estava a rodar 'Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal', só para convivermos? Também contaste isso à imprensa? Ou isso não encaixa na narrativa de ‘vítima’ que tens?”
E conclui: 'Peço desculpa por não ter percebido que não gostas de conviver comigo. Talvez tenha havido outro motivo, não sei, mas não faz sentido. Que estarias só a enganar-me, não é? Mas aqui estás, agora em missão, cerca de 28 anos depois, após eu ter ido ao inferno e voltado. Mesmo a tempo de parar o mau da fita, não é? É isso que está a acontecer aqui? Demoraste tanto tempo porquê? Queres ter uma conversa? Estou disponível, em qualquer altura, em qualquer lugar. Até podemos fazê-lo aqui, em direto no X, se quiseres. Não tenho nada a esconder. Mas Guy – precisas crescer. Não és uma vítima.”
Num 'talk-show' do seu país em julho de 2018, Guy Pearce já falara sobre a sua experiência pessoal em termos mais vagos, mas que se tornaram virais.
"Pois, essa é difícil de abordar nesta altura. Ator espantoso, ator incrível. Sim, tive uma época ligeiramente difícil com o Kevin. É um tipo que gosta de usar as mãos. Não tanto como eu gostaria", explicou bem disposto ao jornalista Andrew Denton antes de acrescentar que, "felizmente, tinha 29 anos e não 14".
Perante o impacto das afirmações, lançou um comunicado: "Percebo perfeitamente que é um assunto muito delicado para ser ignorado. Embora não tenha sido agredido sexualmente ou molestado, senti-me desconfortável. Abordei e lidei com a situação quando aconteceu, daí o meu arrependimento por torná-la pública agora".
Agora, recordou como desvalorizou o alegado assédio como se fosse 'nada'.
“Fiz isso durante cinco meses e realmente fiquei com um pouco de medo do Kevin porque ele é um homem bastante agressivo. É extremamente charmoso e brilhante no que faz – realmente impressionante, etc. Domina as atenções. Mas eu era jovem e suscetível, e ele atirou-se a mim, não há dúvida.”, contou no podcast do THR.
O colega e compatriota Russell Crowe permanece um 'grande amigo', mas Pearce recorda-se de dizer à sua então esposa que só se sentia seguro durante a rodagem em Los Angeles nos dias em que trabalhava Simon Baker (mais tarde popularizado pela série "O Mentalista").
Nessa altura, recorda, era 'descartado como uma batata quente, e [o Kevin] concentrava-se no [Simon] porque era dez vezes mais bonito do que eu.'
O verdadeiro impacto da rodagem só surgiu após ler as notícias no fim de outubro de 2017 sobre o ator Anthony Rapp a acusar Kevin Spacey de ter feito uma 'investida sexual agressiva' durante uma festa em Nova Iorque em 1986, quando o primeiro tinha 14 anos e o segundo 26 (houve posteriormente um processo judicial, mas o vencedor de dois Óscares foi considerado inocente).
Diz a revista que o relato foi emocionado: “Estava em Londres a trabalhar em qualquer coisa e vi [as notícias] e desabei e chorei, e não consegui parar. Acho que realmente me dei conta do impacto que tinha tido e que de certa forma ignorara, e como tinha arquivado ou bloqueado ou o que quer que fosse. Foi um despertar realmente incrível”.
Sem aprofundar as circunstâncias ou datas, Guy Pearce diz que teve 'alguns confrontos' com Kevin Spacey posteriores a esse momento que se tornaram 'desagradáveis'.
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