"O partigiano, portami via/ O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao/ O partigiano, portami via/ Ché mi sento di morir". Se já viu a primeira temporada de "La Casa de Papel", certamente já tem na ponta da língua os versos de "Bella Ciao", um dos temas principais da banda sonora da série espanhola. O Professor, Tokio, Berlim, Rio e companhia vão regressar em 2019, apenas na Netflix, confirmou o serviço de streaming.
"Após o sucesso mundial da Parte 1 e Parte 2, o Professor planeia novos golpes que serão revelados em 2019", sublinha a Netflix em comunicado.
Nas últimas semanas, a equipa liderada por "El Profesor" tem estado nas bocas do mundo - "La Casa de Papel" liderou por várias semanas o ranking das séries mais vistas em maratonas da aplicação TV Time e está atualmente no 39º lugar do top das séries mais populares do IMDb. Nas redes sociais, nos transportes públicos, nos cafés e nos restaurantes há sempre alguém a comentar a história do mais recente fenómeno viral da televisão de 2018.
DE ESPANHA PARA O MUNDO, PELAS MÃOS DA NETFLIX
Comecemos pela história da série. "Oito ladrões fazem reféns e fecham-se dentro da Casa Nacional da Moeda de Espanha, enquanto um génio do crime manipula a polícia para executar o seu plano", este é o ponto de partida de "La Casa de Papel", segundo a sinopse apresentada na Netflix. Ao longo dos episódios, Tokio, Nairobi, Rio, Berlin, Helsinki, Oslo, Denver e Moscow seguem um plano orquestrado pelo Professor, fintando as autoridades em todos os momentos mais críticos.
O que irá acontecer aos reféns? Será que é desta vez que a polícia vai conseguir entrar? Ouviu-se um tiro, alguém morreu? Estas são algumas das questões que vão fervilhando ao longo dos episódios e que potenciam uma maratona (binge watch), tal como acontece com muitas das séries da Netflix. Mas, neste caso, não se trata de uma série do serviço de streaming, mas sim de uma produção espanhola, do canal Antena 3.
"La Casa de Papel" (título original ou "Money Heist" em alguns países) foi produzida pelo canal privado espanhol Antena 3, em parceria com a Atresmedia e a Vancouve, e estreou a 2 de maio de 2017 , com episódios semanais. Na sua transmissão original, a série contou com 15 episódios divididos em duas temporadas (nove na primeira e seis na segunda) e chegou ao fim a 23 de novembro.
Um mês depois, a 25 de dezembro, a primeira parte da produção espanhola estreou na Netflix. Porém, o serviço de streaming decidiu fazer uma edição e transformar os nove episódios iniciais em 13 capítulos. Já a segunda parte da primeira temporada, que estreou esta sexta-feira no serviço de streaming, conta com nove episódios de 50 minutos, em vez dos 70 minutos originais.
O SUCESSO MUNDIAL
Apesar de a Netflix não divulgar dados sobre as audiências, "La Casa de Papel" conquistou milhares de espectadores em todo o mundo, a julgar pelo hype nas redes sociais. Segundo o El País, em Espanha, os primeiros nove episódios alcançaram uma média de quase 2,7 milhões de espectadores (16,6% da share). Já o episódio final foi visto por cerca de um milhão e 800 mil pessoas, um "número baixo para o horário nobre espanhol", frisa o jornal.
Como se explica este sucesso internacional? Sonia Martínez, diretora de Ficção da Antena 3, aponta vários factores em entrevista ao El País. "É um assalto no qual as horas vão sendo marcadas e tem-se a sensação de que é preciso consumir mais, é o produto ideal para se ver assim", explica, acrescentando que a ligação com as personagens também é fundamental: "Considerando que são pessoas que são delinquentes, tínhamos de ter a certeza que o público precisava de ter a sensação de que está com eles, que são os bons, e que realizam um desejo que todos temos que é assaltar algo tão impessoal como a Casa da Moeda".
Álex Pina, o criador de "La Casa de Papel", acrescenta ainda que a crise económica que muitos países atravessam ajudou a criar uma ligação com a história. "Estes senhores que assaltam a Casa da Moeda têm uma componente quase antissistema que abarca um pouco da decepção com os Governos, os bancos centrais", advoga.
Para Pierre Sérisier, crítico do jornal Le Monde, a série é "quase um manifesto político sobre a necessidade de viver de maneira diferente, de inventar outra organização social". "É uma tentativa de demonstrar que o sistema capitalista é falível e que não é a única opção que nos resta", frisa.
Para o criador da série e para diretora de Ficção da Antena 3, a mudança de hábitos no consumo de televisão explica o sucesso da série na Netflix e as audiências mais modestas na televisão tradicional. "Nunca tínhamos pensado nisso, mas, inconscientemente, estava projectado de forma para que o seu pico fosse através do consumo de vídeo on demand. O ritmo que a série tem favorece que seja consumida como quiser, com toda a atenção e em um consumo muito individualista. Agora, em Espanha, também há um salto de popularidade porque as pessoas estão a ver a série na Netflix e muitos quase nem sabiam que tinha sido transmitida na Antena 3 porque possivelmente não veem a televisão aberta”, acrescenta Sonia Martínez.
Composta originalmente por 15 capítulos de cerca de 70 minutos, a versão internacional da série foi adaptada para episódios de 50 minutos. Desta forma, a primeira parte, que em Espanha contou com nove episódios, na Netflix teve 13. Ao El País, o criador da série explicou que esta mudança não afeta a história central. "Sempre considerámos fazer uma montagem internacional das séries (...) Neste caso, tínhamos o problema adicional dos cliffhangers, pois cada capítulo terminava com um e isso muitas vezes foi alterado. O trabalho de montagem em pós-produção foi tremendo. Às vezes trocámos alguns momentos de capítulo. O bom da série é que é um fluxo contínuo: onde um capítulo acaba começa o seguinte. E isso permite uma elasticidade maior do que em outras situações. A experiência visual de ver a série na Netflix ou no formato espanhol é muito diferente, mas a essência é a mesma e funciona da mesma forma”, afirma o guionista e produtor.
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