"Quando ela estava viva, acompanhei-a com a perspetiva de alguém entre os 13 e os 15 anos. Agora, aos 25, vejo as coisas de forma muito diferente e valorizo muito mais a nossa relação. Não que não valorizasse na altura, mas apercebi-me de tudo o que ela fez por mim e da pessoa que ela era. O seu sentido de humor, as conversas que tínhamos...", conta Dionne Bromfield ao explicar o que a motivou a criar "Amy Winehouse & Me: Dionne's Story".
O documentário que se estreia na MTV Portugal a 29 de agosto, às 11h55, mergulha na cumplicidade da autora com a madrinha, Amy Winehouse, que foi a sua grande inspiração e mentora musical. Bromfield, que também é cantora, tendo editado já dois álbuns (e conta com um terceiro a caminho), reconhece que a voz de "Rehab" teve um papel decisivo tanto na sua vida pessoal como artística. E por isso encontrou em "Amy Winehouse & Me: Dionne's Story" uma forma de partilhar esse vínculo com o mundo e de dar a ver uma faceta menos retratada de Winehouse.
"Acho que as pessoas não chegaram a ter noção do seu lado gentil, solícito e maternal, que estava sempre lá - sobretudo comigo, que era muito mais nova do que as pessoas com quem ela estava na altura. Quis que este documentário mostrasse o quão amorosa, gentil e doce ela era. Muitas vezes, as pessoas não a veem assim", assinalou a britânica num encontro online com meios internacionais no qual o SAPO Mag esteve presente.
"Julgo que as pessoas acham que a Amy era rude, mas não o era de todo. Era, sim, super honesta. (...) Acho que foi por isso que se tornou tão icónica. Naquela altura não havia muita gente com a atitude dela. E isso também se ouve nos discos", contrasta. "Aconselhou-me a ser a honesta e a dizer quando não gosto de algo numa canção. Encorajou-me a fazer aquilo de que gosto. Foi muito reconfortante sentir esse apoio".
"Alguns momentos felizes tornaram-se algo tristes"
Produzido dez anos após a morte de Winehouse, o documentário de 60 minutos inclui várias imagens de arquivo, algumas até inéditas (ou quase) para Bromfield. "Já não via algumas das imagens há muito tempo, até já me tinha esquecido delas. Mas gosto especialmente de umas em que estou a conversar com a Amy. Não vou 'spoilar', vão ter de ver. Mas há recordações muito bonitas e fico muito feliz por terem sido registadas".
Mas revisitar estas memórias nem sempre foi fácil, sublinha. "Tive de reviver momentos que às vezes não quero reviver. Como o dia em que soube que ela tinha morrido. Ter de falar da morte dela foi muito difícil. Quando aconteceu, foi algo de que simplesmente não se falava", assume, confessando ter precisado de vários anos para falar sobre a perda. "Alguns momentos felizes tornaram-se algo tristes, porque queria tê-los de volta mas sei que não posso. Mas ao mesmo tempo, fico muito feliz por ter passado por eles. Senti que, para poder avançar, tinha de voltar a esses momentos e encerrar esse capítulo da minha vida".
Ainda assim, muitos desses momentos não podem ser partilhados no documentário porque não chegaram a ser filmados. E alguns nem poderiam ser, ou perderiam o que os tornou especiais. Bromfield sente particular falta de "passear com ela por Londres, à noite, sem que ninguém nos reconhecesse, quando podíamos ser só duas raparigas a falar de assuntos de raparigas, de pintar o cabelo e assim".
Embora "Amy Winehouse & Me: Dionne's Story" não seja o primeiro documentário centrado na cantora (chega depois do elogiado "Amy", de Asif Kapadia, de 2015, ou de "Reclaiming Amy", que se estreou este mês na BBC), a autora convida os fãs da sua madrinha a conhecer este capítulo da sua história. "Espero que vejam e que encontrem um lado da Amy que não conheciam, mas que fez sempre parte da vida dela. E quem a conheceu, pode considerar-se um sortudo. Espero que olhem para ela como mais do que aquilo que foi retratado até aqui. (...) Lutei muito com as minhas emoções depois de ela ter partido. Fico muito feliz por poder honrar a Amy através de uma forma da qual ela gostaria de ser vista pelo público".
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