Após uma pausa de quase três anos, os X-Wife estão de volta. Com um novo single acabado de estrear e atuações marcadas para os festivais de Paredes de Coura e NOS Alive, a banda portuense falou ao SAPO On The Hop sobre o seu passado e futuro.

X-Wife
X-Wife

SAPO On The Hop - Movin' Up é o vosso primeiro single desta nova etapa. Qual a razão que vos fez optar por esta faixa como representativa deste regresso dos X-Wife?

João Vieira (J): Durante esta pausa, onde não estivemos juntos a tocar, nem a criar, nem ensaiar, nem nada, acabámos por prosseguir com os nossos projetos a solo - o Rui com Mirror People e eu com White House. Quando começámos a fazer novas canções na nossa sala de ensaio e entre e-mails trocados uns com os outros para ver o que funcionava melhor, acabámos por chegar à conclusão que esta era a que tinha mais impacto. Dissemos 'É esta, é esta, é esta!', e como toda a gente estava de acordo, e para nós toda a gente tem de estar de acordo com tudo, nem que seja numa fotografia, decidimos que esta era a faixa que fazia mais sentido para representar o nosso regresso.

Vocês tiveram uma pausa algo longa, de quase três anos. Foi difícil para voltar à convivência constante uns com os outros?

Rui (R): Não. Nós fomos mantendo o contacto, apesar de estarmos em sítios diferentes e ter outros projetos. Fomos sempre mostrando tudo uns aos outros de forma a manter o contacto. Como eu vivo cá em baixo, é normal que não esteja tantas vezes com eles, mas aconteceu ir por diversas vezes ao Porto. Julgo que foi algo natural, nada de planeado, mesmo no que diz respeito ao timing para o lançamento do single.

Sabemos dos vossos projetos paralelos ao grupo. Sentem que são influenciados por eles no trabalho como os X-Wife?

J: Eu agora até vou responder de uma forma diferente, o outro lado de que não falei noutras entrevistas mas que aqui posso falar. Sendo vocalista nos dois projetos, por vezes é complicado saber que tipo de melodias ou atitude devo ter como X-Wife ou como White House. Gosto muito de marcar a diferença, e por isso tinha de ter muito cuidado, apesar de por vezes ser algo castrador e difícil voltar aos X-Wife e pensar 'Não, isto é algo que funcionaria nos White House e nos X-Wife tenho de ir por outro caminho'. Falando por mim, como cantor e produtor, até porque produzi tudo quase sozinho, julgo que se tem de dar atenção ao pormenor. Acho que fomos muito mais arrojados e tivemos muito mais cuidado ao pormenor na produção do novo single. Sinto que o facto de estarmos longe fez com que todos nós crescêssemos bastante sem nunca deixar de fazer música. Isto não é uma banda que fez uma pausa e começou a vender sabonetes (risos).

R: Eu acho que é natural que certas coisas que eu aprendi com outras pessoas, noutros projetos, simplesmente não encaixam nos X-Wife. No entanto, de tudo o que desenvolvi, existem certas linguagens novas que agora são bem vindas e podem ser uma mais valia no mundo dos X-Wife, por isso julgo que foram experiências completamente positivas! E esta faixa, Movin... Up? Movin' Up?

J: Sim, Movin' Up (risos)

R: Cansaço (risos). Acho que a faixa é a prova disso!

O novo single é uma continuação do som produzido no vosso álbum anterior. Sentem que finalmente encontraram a sonoridade que vos representa?

J: Não. Acho quetemos uma grande vantagem pelo facto de não estarmos presos a nada. Nós apenas consideramos que esta música era a mais forte, independentemente de soar mais a X-Wife ou não. Se tivesse existido outra completamente diferente que considerássemos a mais forte, seria essa a editar, por isso o próximo single pode ser algo completamente diferente. Gostamos de mudar e experimentar.

R: É normal que exista uma harmonia na banda que faça soar a X-Wife. Mau seria que fossemos soar a Pearl Jam (risos). No entanto, nada impede que no futuro possamos fazer algo completamente diferente.

J: A nossa preocupação também era divulgar uma canção que funcionasse bem ao vivo, porque existem faixas que funcionam muito bem em disco mas ao vivo são difíceis pelas mais variadas razões. Assim, como o nosso regresso está muito ligado ao palco, pensamos que esta canção ia funcionar.

Tiveram várias experiências no estrangeiro. Isso faz-vos sentir como se estivessem numa segunda casa?

R: Acho que os X-Wife é uma banda que não tem fronteiras. Tivemos a sorte de fazer algumas tours nos Estados Unidos da América, França ou Inglaterra, mas é algo com que deixamos de ter contacto. O estado da música mudou bastante. Na altura em que estivemos nos Estados Unidos da América, nós fomos obrigados a ir a um cyber café porque não tínhamos internet! A tecnologia não era o que é hoje.

J: Não havia Myspace, e não falemos de Facebook! (risos)

R: Exato, os tempos mudaram imenso! E tal como acontece em Portugal, a oferta é tanta, com tantas bandas e tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, que para alguém vingar lá fora tem de apostar numa série de coisas que nós deixamos de o fazer, de forma que tenhamos ficado a funcionar mais em Portugal, mas nada impede de ir lá para fora se se proporcionar. Nós vimos o que custa fazer uma tour nos Estados Unidos da América. O dinheiro que tu investes é algo complicado mesmo, é caro.

J: Também está em causa o momento. Tens de aproveitar o momento algo ou então tudo passa. Há um momento para tudo. Existiu o nosso momento e nós pensamos que tinha de ser ali, o agora ou nunca, mas agora já não faz sentido nem é isso que nós queremos de momento. O objetivo agora é fazer boa música, independentemente de onde for tocar.

Quando vamos ter direito a um novo álbum?

J: Não sabemos. Nem sabemos se vamos fazer mais álbuns. Nós não temos contratos que nos obriguem a lançar algo até a 2020, por exemplo. A indústria musical mudou muito, e porque é que as bandas também não fazem as coisas de uma maneira diferente? Existem várias formas de lançar música presentemente. Existem pessoas que lançam 20 vídeos, ou pessoas que não fazem promoção nenhuma e depois lançam de surpresa. Vale a pena voltar a lançar álbuns? Lançar álbuns para quê? Para ter muita imprensa, muito destaque? Talvez uma banda nova precise, mas uma banda com quatro álbuns precisa de outro lançamento? Todo o tempo e investimento de lançar um álbum compensa a espera de uns dois anos? Não será mais fixe ir lançando músicas, e talvez depois pegar em todas elas e lançar um álbum com elas?

Os vossos objetivos futuros são então o lançamento de faixas individuais de forma esporádica, é isso?

J: Boas canções!

Vamos então passar para um tipo de perguntas onde o que se pretende é que vocês pensem o menos possível. Qual o vosso pior e o melhor momento de toda a carreira dos X-Wife?

J: Para mim o pico foi um concerto no Festival de Paredes de Coura à chuva, penso que em 2006. Chovia torrencialmente mas ninguém arredou o pé dali! O momento mais angustiante foi estar em Brooklyn, pelas 4 da manhã, sem saber onde dormir! (risos) Tinha a guitarra às costas, os teclados do Rui para carregar de um lado para o outro, e tudo num desespero de cansaço! Tínhamos acabado o concerto, estávamos todos transpirados, com a chuva a cair torrencialmente e nós sem saber para onde ir! Eu estava num desespero tão grande para dormir que já perguntava a pessoas na rua que não conhecia de lado nenhum (risos).

R: O concerto dos dez anos dos X-Wife foi muito bom para mim, com muitos convidados num clima de retrospetiva! Ou tocar no CBGB, onde músicos como Patti Smith ou os Ramones tocaram, isso também foi muito especial. Quanto ao momento mau, existe um que tanto foi mau como bom. Foi do outro lado da margem, em Corroios. O som era péssimo, só se ouvia dentro do palco. O concerto foi mesmo horrível, mas por outro lado nós descobrimos que conseguimos tocar bêbedos! Foi algo incrível porque a partir dai a banda ficou muito mais solta! Não que tenhamos o hábito de fazer isso, mas a partir dai pensei 'Epá, posso beber uns copos e tocar na mesma!'.

Pensem na vossa imagem daqui a uns anos. Quem é o vosso modelo exemplar? Brad Pitt, George Clooney, talvez?

J: Daqui a uns anos? Eu estou confortável na minha pele! (risos) Por acaso é algo que tem vindo a acontecer, o facto de eu me sentir bem comigo próprio. Eu sei que os anos estão a passar, mas ao mesmo tempo não estou a tentar ficar mais novo. Sinto-me bem com a minha idade. E não há assim ninguém que eu ache que gostasse de ser, apesar de achar que o Robert Downey Jr. envelheceu muito bem por exemplo, está com um belo charme! O Brad Pitt nunca foi bem a minha onda.

R: Eu não sei...

J: Tens de dizer alguém! (risos)

R: Opá, mas não sei mesmo, não ligo a isso! 'Tá-se bem!

Quando o vosso concerto termina e a fome aperta, o que vos apetece comer?

J: Eu quero comer uma porcaria qualquer! Pode ser um croquete, um rissol, qualquer coisa serve quando estou com muita fome! Nem que seja algo que sobrou num camarim, para mim está bom (risos).

R: Sabem aqueles bolos de coco pequenos? Sempre que vou a um café e vejo aquele bolo, eu tenho de pedir o bolo! (risos) É esse o meu bolo preferido, por isso acho que era isso. Entre esse e o croissant é complicado, mas acho que era esse.

Qual a vossa parceria de sonho?

J: Eu tenho uma preferência! Para mim os LCD Soundsystem são uma banda da nossa geração, e não dos nossos heróis do passado. Eles apareceram ao mesmo tempo que nós. Tocámos com eles e estivemos com eles em Nova Iorque quando eles nos contactaram, e para mim eles são um dos melhores do século! Fizeram um álbum fenomenal, um álbum que eu adorava ter sido eu a fazê-lo. Adorava! Todas as canções daquele álbum são incríveis. E tem a sua piada por terem as mesmas influências que nós temos.

R: Eu penso que eles revolucionaram o mundo da música...

Também seria a tua escolha?

R: Sim, sem dúvida! Estivemos até perto de conseguir isso!

J: Sim, se calhar esse até foi dos momentos mais tristes para mim. O momento em que ele perdeu o metro e não foi ao nosso concerto. Nós fomos a Nova Iorque de propósito para ele nos ver. Tínhamos o número dele, ele ligou-nos e disse que estava a sair de casa para apanhar o metro e vir ter connosco, mas ele nunca apareceu e eu fiquei de rastos! Ainda recebemos um e-mail a dizer que tinha ido para o Japão e a pedir desculpa e lá ficamos nós em águas de bacalhau!

Todo o vosso trabalho é feito em inglês. Se vocês tivessem de arranjar um novo nome para vos representar em português, qual seria?

J: Ai, ui, isso... Tu tens a noção do tempo que demora arranjar o nome de uma banda?! (risos) Sabes quantos meses nós demoramos com isto? Não pode ser assim! (risos) Acho que tinha de ser a Ex Mulher.

Fazíamos tradução à letra?

J: Opá, é que os X-Wife têm o X, e o X é uma coisa punk. Foi daí que veio o nome X-Wife, por ser punk, uma coisa mazinha e manhosa! Estava ligado ao som, ao som duro.

Então podia ser Mulher X!

J: Olha, isso mesmo, Mulher X, boa!

R: Já nos arranjaste o nome (risos).