Feito notável para uma banda que não lança um álbum há 13 anos, os Tool de Maynard James Keenan lotaram o Altice Arena, em Lisboa, no âmbito de uma digressão que, curiosamente, antecede o próximo lançamento. É a prova da marca perene de álbuns como “Aenima” e “Lateralus” – o primeiro revisitado com a faixa-título logo a abrir.
Por estas alturas já se compreendem um dos requisitos básicos da proposta – que consiste essencialmente na despersonalização absoluta de Keenan como “líder” de uma banda: no fundo do palco, sob um muro de efeitos visuais, inalcançável à vista. A preocupação virá obsessão – fazendo negra a vida dos fotógrafos profissionais que têm vindo, aqui e ali (como no festival Download, em Espanha) a ser barrados ou limitados ao máximo – e não deixando de lembrar o público durante todo o período de espera com avisos que lembravam uma distopia “hollywoodiana” de que não era permitido fotografar ou filmar.
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A austeridade do conceito tem as suas vantagens: poupa o espectador dos enfadonhos e protocolares “olá, Lisboa!” e coisas do género para se concentrar no que importa. E isso é, essencialmente, a muralha sonora comandada pelo baixo agressivo de Justin Chancellor e a guitarra de Adam Jones, cujos ritmos irregulares são comandados pela virulência da bateria de Danny Carey. Velhas canções sucedem-se (“The Pot”, “Parabol”, “Schism”) enquanto novas surgem no horizonte (“Descending”, “Invincible”) – melodias rápidas e agressivas intercaladas longos “sets” instrumentais e atmosféricos.
O visual é um caso à parte: inicialmente simples, vai-se tornando complexo à medida que o espetáculo avança. Aqui a “maquinaria” com cortes abruptos da música presta-se como uma luva para uma bateria de efeitos visuais baseado em luzes e imagens em movimento a fundo rigorosamente sincronizados.
Às imagens concretas, normalmente ligadas ao corpo humano, a partes dele, ao sangue, onde surgem excertos de “stop motion” criados pelo guitarrista Adam Jones para vídeos poderosos e notórios como os de “Sober” e “Confusion Is Sex”, do início da carreira, sucedem-se largos instantes de abstrações – cuja conjunção de som e visual traz momentos verdadeiramente impressionantes em músicas como “Intolerance”, “Jambi” ou “Forty Six & 2”.
Um cronómetro no alto assinala os exatos 12 minutos que vão separar a primeira parte do “encore”, como a simbolizar uma insólita combinação do espírito artístico com um rigor matemático. A austeridade termina no final: Maynard se dirige uma única vez ao público para dizer obrigado e libera-lo para fotografar e filmar. A Altice Arena enche-se de pequenas luzinhas verdes e roxas a reproduzir o que se passava no palco enquanto a banda encerrava com “Stinkfest”. O cantor sai rapidamente e os restantes músicos ficam para uma longa ovação.
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