“Livrar-me” é uma criação coletiva com texto de Ana Lázaro, interpretação de Sandra Barata Belo e Raquel Oliveira, e música de Luísa Sobral, o que constitui a sua estreia como compositora para teatro.

A “homenagem” à literatura concretiza-se através de uma viagem por obras de escritores como Afonso Cruz, Mia Couto, Clarice Lispector, Jorge Luis Borges e Stefan Zweig, entre muitos outros que são “queridos” à autora do texto e às criadoras da peça, disse Sandra Barata Belo à agência Lusa.

A determinada altura da peça, essa mulher, a protagonista, uma mulher “mais velha, sozinha e rodeada de livros” (Sandra Barata Belo), começa a confundir a sua história com a história de personagens de ficção, “percebe” assim que tem uma filha e esta lhe fala através dos livros.

Como “se [a filha] lhe mandasse mensagens”, e aí muitos autores são invocados, observou a atriz, que convidou Raquel Oliveira para criar a peça consigo, após o que “desafiaram” Ana Lázaro a escrever um texto que “tentasse decifrar” o que as atrizes queriam dizer.

O “grande gosto pela leitura” e o “pouco tempo para a conciliar” com a azáfama diária estiveram na base da ideia de Sandra Barata Belo, a que se seguiu o exercício de pensar “que talvez quando ela e os filhos fossem mais velhos” pudesse ler tudo o que gostava, incluindo as “pilhas de livros inacabados de ler que continua a acumular”.

“Livrar-me” é, nas palavras da atriz, um espetáculo “que entra em universos paralelos” e “dimensões diferentes”, à semelhança do que acontece a muitas pessoas quando leem livros ou veem filmes.

Uma peça na qual uma “família de mães e filhas” se ligam “entre tempos indizíveis” na procura “incessante de perguntas e respostas que fazem parte da condição humana”, observou. E na qual uma filha “procura o reconhecimento na mãe", como “todos nós o procuramos junto dos que amamos”, frisou.

Raquel Oliveira, por seu lado, sublinha que na peça perpassa a ideia de “quando o ser humano acredita e se permite ver além do que a visão o deixa ver, e consegue ver muito mais”.

A propósito das diferentes dimensões e dos universos abrangidos no espetáculo, a atriz sublinha: “Não importa se é a filha que existe se é a mãe que existe. Importa que ambas existem e ambas acreditam que fazem parte de um todo”.

As duas atrizes destacam ainda que, se acaso “Livrar-me” tem algum objetivo, este passa pela “presença forte” que os livros têm nas suas vidas e pelos autores cujas obras as “transportam para outras dimensões, realidades e universos”.

A nível cénico, “Livrar-me” vive do predomínio de livros e de uma biblioteca que se vai abrindo e desmontando, numa cenografia concebida por Rui Francisco, que inclui uma cozinha onde será confecionada uma sopa.

“Livrar-me” é um acolhimento do Teatro Meridional e estará em cena até 18 de fevereiro, com récitas de quarta-feira a sábado, às 21:00, e, ao domingo, às 16:00.

Na assistência de encenação está Carolina Ferrão, na sonoplastia Nanu Figueiredo e na coreografia Cláudia Nóvoa. Os figurinos são de Pilar Teles, o desenho de luz de Tasso Adamopoulos e a operação técnica de Luís Moreira. Na produção executiva e produção estão, respetivamente, as estruturas Cassefaz e Beladona.