“O Teatro que Abril Abriu” é um evento de entrada livre, que decorrerá no Capitólio, em Lisboa, no dia 27 de março, a partir das 16h00, e que se prolonga até à noite, para festejar o teatro e a liberdade.
Trata-se de uma iniciativa integrada no ciclo “Abril Abriu” que, do final de março ao final de julho, vai apresentar 18 espetáculos, lançamentos de livros e uma exposição, em vários espaços da capital, enquanto o edifício do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II), no Rossio, se encontra encerrado para obras de requalificação.
“Pensámos num programa para celebrar esta data redonda, os 50 anos da nossa revolução, mas ao mesmo tempo interessa-nos perceber como é que estas conquistas influenciaram a produção teatral”, explicou Pedro Penim, em entrevista à agência Lusa, sobre o programa específico para o Dia Mundial do Teatro.
Por isso, haverá um debate chamado “Teatro e a revolução”, em que esses temas vão estar em destaque, com leituras de alguns textos escolhidos por Noémia Costa e Manuel Coelho, do elenco residente, com Maria do Céu Guerra e Rui Mendes a debater com Tiago Bartolomeu Costa, um “destaque sumarento desta relação entre 25 de Abril e teatro”, adiantou.
Outra iniciativa prevista é um ‘showcase’ do espetáculo “Quis saber quem sou”, que “pretende revisitar o cancioneiro da revolução”.
Segundo o responsável, este espetáculo, que tem estreia agendada para o São Luiz Teatro Municipal no dia 20 de abril, e do qual será extraído “um pequeno excerto” para este dia do teatro, integra “músicas da revolução interpretadas por um jovem elenco, escolhido na maioria por audição de alcance nacional”.
“Os jovens estarão a interpretar este cancioneiro, que para mim é relevante e que tem ficado um bocadinho esquecido, e que nestas vozes e nestes corpos desta geração mais nova ganham também outra dimensão, com orquestração de Filipe Sambado, que vai trazer contemporaneidade a este cancioneiro”, explicou Pedro Penim, responsável pela conceção, texto e encenação.
Segue-se um concerto de Bruno Pernadas com vários convidados, que vai estar a “revisitar um cancioneiro bastante desconhecido mas muito apetecível, que é um cancioneiro do teatro de revista, mas já com esse pendor revolucionário, quer seja antes do 25 de Abril ou depois do 25 de Abril”.
O dia termina com uma festa, a partir das 23h00, assegurada por Pedro Coquenão (também conhecido por Batida), com uma performance composta por músicas identitárias e versões inéditas, acompanhadas pelo movimento de André Cabral e Piny, num cenário minimal e íntimo.
“É um programa bastante completo e é uma forma também de regressarmos a Lisboa, já que estivemos muito tempo em digressão nacional, que vai continuar, mas com este ciclo ‘Abril Abriu’ impunha-se que tivéssemos uma abertura mais festiva”, defendeu o diretor artístico do D. Maria II.
Relativamente à programação específica para este ciclo, Pedro Penim destacou o “evento arranque”, o espetáculo “As areias do imperador”, a partir do texto de Mia Couto, com encenação de Victor de Oliveira.
“Já estreou no ano passado e vai finalmente ser visto em Lisboa”, afirmou, destacando que “este ciclo parte da necessidade de voltar a Lisboa, apesar de não haver ainda o edifício do Rossio, mas de voltar a programar para a cidade de Lisboa”.
Por isso, o TNDM II contará com alguns teatros parceiros, mas este é um ciclo dedicado às comemorações do 25 de Abril e que se integra nas comemorações oficiais, e que “pretende olhar para estas comemorações de uma forma mais lata: a ideia das conquistas de Abril – o ciclo chama-se ‘Abril Abriu’, justamente a incitar a reflexão sobre para o que é que, de facto, a revolução contribuiu”.
“Os espetáculos não são todos direcionados aos temas das comemorações do 25 de Abril, há uma conceção e perceção bastante mais lata dessa possibilidade, e essa herança de Abril é entendida dessa forma mais abrangente”.
Há vários espetáculos que acontecem na rua, porque há um entendimento por parte do diretor artístico de que há “muitos territórios que o teatro nacional pode explorar” e que “a sua missão é suficientemente abrangente para que isso possa acontecer”.
“Há também aqui um património importante da conquista da rua, da revolução na rua, feita de povo, e estamos a programar espetáculos que vão estar em espaços públicos, quer seja na rua, quer seja em espaços mais resguardados. E há uma grande diversidade na abordagem aos espaços onde o teatro está, sempre neste formato de desmultiplicar aquilo que é a nossa missão, e perceber que apesar de o edifício ser parte importante das identidades do TNDM II, elas são também muito plurais e podem fazer-se de outras geografias, espaços, possibilidades e artistas”, acrescentou.
Haverá outro espetáculo, chamado “Mercado das Madrugadas”, de Patrícia Portela, que estará em maio no Largo de São Domingos, “que é um meio caminho entre a feira e a proposta performativa, e ali num largo histórico e muito próximo ao edifício do D. Maria II, e que tem como intuito pensar nas revoluções do futuro”.
“Ou seja, estamos a comemorar 50 anos, temos que pensar nos próximos 50 anos, o que é que nos falta ainda fazer, que revoluções são essas, que necessidade é essa de pensarmos o nosso futuro, e acho que a arte, e o teatro em especial, são belíssimas ferramentas para desencadear esse pensamento”, considerou o encenador.
O espetáculo “Casa portuguesa”, que já tinha estado em Lisboa e que fez um grande digressão, vai também regressar e estará no Teatro Maria Matos numa temporada mais alargada, de dois meses.
Finalmente, Pedro Penim destacou ainda o espetáculo “Popular”, que venceu a bolsa Amélia Rey Colaço, de Sara Inês Gigante – “uma atriz e encenadora emergente com um trabalho muito interessante” -, que vai estar em junho no Teatro Meridional.
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