Casandra "Cassie" Ventura afirma ter sido coagida a fazer sexo com acompanhantes masculinos enquanto Sean Combs observava e masturbava-se.

Se ela ignorasse os seus telefonemas, os associados encontravam-na.

Se ela não acatasse as suas exigências, ele espancava-a violentamente.

E na terça-feira, quando ela viu o cantor pop conhecido como "Diddy" no tribunal, os advogados disseram que foi pela primeira vez em vários anos.

Fortemente grávida do seu terceiro filho, a artista amplamente conhecida como "Cassie" tomou o seu lugar para um depoimento maratona contra o seu ex enquanto a principal testemunha no julgamento em que os procuradores acusaram Combs de liderar uma rede criminosa de tráfico sexual, descrevendo o calvário sexual a que ele a submeteu.

"Era repugnante. Era demais. Era avassalador", descreveu Cassie, que contou que os quartos de hotel usados nas maratonas de sexo costumavam ficar destruídos, e que os estabelecimentos cobravam valores consideráveis de limpeza e reparação.

"Batia na minha cabeça, atirava-me ao chão, arrastava-me, dava-me pontapés, pisava a minha cabeça", contou a modelo, que tinha a voz trémula em alguns momentos.

"Controlava grande parte da minha vida", confessou.

Usando um longo vestido castanho de gola alta, casaco camelo e sapatos altos, ela contou aos jurados que conheceu Combs aos 19 anos e assinou um contrato com a sua editora para 10 álbuns — dos quais apenas um foi gravado.

Apesar da diferença de 17 anos, Cassie contou que chorou e "saiu a correr" depois de Combs beijá-la no seu 21.º aniversário.

Mas eles continuaram a encontrar-se para falar sobre a sua carreira musical e o relacionamento acabou por se tornar sexual, disse aos jurados, enquanto Combs, agora com 55 anos, preso e visivelmente envelhecido, observava.

"Queria estar perto do Sean pelos mesmos motivos que todos os outros na época", testemunhou a mulher de 38 anos. "Era simplesmente um tipo excitante e divertido — que por acaso também tinha a minha carreira nas suas mãos."

Num depoimento intensamente doloroso, Cassie detalhou como acabou por apaixonar-se por Combs, mas viu-se forçada a envolver-se nas chamadas "freak-offs": maratonas de performances sexuais e drogas por vezes de dias inteiros dirigidas pelo ex-multimilionário nas quais Cassie era a estrela e, segundo ela, o objeto.

"Senti-me humilhada", disse ao tribunal, com a voz embargada pelas lágrimas enquanto o marido observava da galeria. "Não conseguia falar com ninguém sobre isso."

"Simplesmente senti que aquilo era a única coisa em que eu era boa para ele."

Combs instruía-a a consumir drogas antes do sexo, que rotineiramente envolvia acompanhantes masculinos, e ela obedecia: "Estava drogada, portanto não sentia muita coisa", disse aos jurados.

Questionada pelos procuradores se alguma vez pediu que as "freak-offs" parassem, Cassie disse que tentou, mas sem sucesso.

"Sean é uma pessoa realmente polarizadora, e também muito charmosa", disse Cassie. "É difícil conseguir decidir naquele momento o que precisamos quando ele está a dizer-nos o que quer."

Humilhante

Os advogados de defesa indicaram que pretendem demonstrar que Cassie agia como uma adulta livre envolvida no que classificaram como atividade sexual não convencional, porém consensual.

Mas Cassie descreveu performances profundamente orquestradas a pedido de Combs, que, segundo ela, exigiam que os quartos fossem abastecidos com óleo de bebé e lubrificante, além de iluminação ambiente.

O artista e produtor insistiu que Cassie se vestisse com roupas transparentes e saltos com plataforma comprados em sex shops, disse.

A determinado altura, ele instruíu-a a entrar numa piscina inflável cheia de lubrificante e óleo enquanto usava lingerie, contou.

Cassie disse que as festas sexuais coreografadas ocorreram em Nova Iorque, Miami, Los Angeles, Las Vegas e Atlanta, bem como em Ibiza e Turcas e Caicos.

"Honestamente, digam onde, provavelmente fizemos lá", disse Cassie.

As drogas eram um "amortecedor" para suportar os encontros sexuais "humilhantes" e frequentemente filmados, explicou.

Perto do final do depoimento na terça-feira — apenas o primeiro de vários em que Cassie se deve apresentar — a sua voz tremeu ao relatar um encontro violento num hotel de Los Angeles, no qual Combs tentou arrastá-la de volta para uma "freak-off" da qual tentara sair.

A gravação perturbadora de março de 2016 que se tornou viral e que os jurados já viram cerca de meia dúzia de vezes apenas no segundo dia de depoimento no caso do Ministério Público — é apenas um exemplo do abuso físico que Cassie diz ter sofrido durante mais de uma década de relacionamento.

Quando ele estava chateado, contou, os seus olhos "ficavam pretos — a versão dele pela qual estava apaixonada já não estava ali".

"Fazer a cara errada", disse Cassie aos jurados, "e a próxima coisa que sabia é que estava a levar um soco".