“Os músicos são basicamente os mesmos, o som da banda é o mesmo, mas, se quiseres, um bocadinho mais maduro”, afirmou o cantor em entrevista à Lusa.

O álbum, cujo título é, em parte, uma homenagem a “Paris, Texas”, de Wim Wenders, o “filme preferido” de Salvador Sobral, é um “disco de influências”, mas também um disco no qual o cantor continua “à procura”.

“Eu estou sempre à procura na música que faço e espero continuar sempre. Nunca vou encontrar verdadeiramente aquilo que quero fazer, porque gosto de fazer tantas coisas, mas acho que é uma incoerência artística saudável”, partilhou.

O álbum de estreia a solo de Salvador Sobral, “Excuse Me”, no qual cruzava referências de uma vida, do jazz de Chet Baker aos clássicos brasileiros de Dorival Caymmi, data de 2016. No ano seguinte, venceu o Festival Eurovisão da Canção, com a música “Amar pelos dois”, composta pela irmã, Luísa Sobral, tornando-se no primeiro português a alcançar tal feito.

A vitória trouxe-lhe mais concertos, muitos com lotação esgotada, em Portugal e no estrangeiro, prémios e distinções, mas também o assédio da imprensa e do público, algo com o qual o músico teve algumas dificuldades em lidar ao início.

Quase dois anos após a vitória, Salvador Sobral sente-se “em paz com isso”.

O Festival Eurovisão da Canção continua presente na vida do cantor, “e vai estar sempre”.

“Eu fui o primeiro a vencer, mesmo que ganhem mais 50 gajos eu fui o primeiro. Foi uma coisa muito especial e eu não estou contra isso. Hoje em dia estou em paz com isso, continuo a gostar do ‘Amar pelos dois’ e canto sempre nos concertos do meu projeto, deste meu projeto”, disse à Lusa.

No alinhamento dos concertos de Salvador Sobral têm entrado também algumas das 12 canções que compõem “Paris, Lisboa”.

“Em vez de gravarmos o disco e tocarmos o disco, nós normalmente gravamos já depois de termos feito estrada com ele. O ‘Anda estragar-me os planos’ já tocamos há bastante tempo, o ‘Benjamim’ há imenso tempo e o ‘Playing with the wind’ também há imenso tempo”, contou, referindo ser “o processo inverso” do habitual, “mas é engraçado também”.

O “disco perfeito” de Salvador Sobral seria “um disco ao vivo, mas no estúdio”.

“A minha primeira ideia era gravar num estúdio com público, porque nunca se consegue num estúdio e num disco captar aquela energia que existe num concerto, e eu ando sempre à procura disso”, afirmou.

Para o cantor, em “Paris, Lisboa”, está “um bocadinho mais perto essa energia do ‘live’ [ao vivo, em português]”, prova disso é a versão de “Mano a Mano” que gravou com António Zambujo, porque “a voz dele é claramente” para aquele tema, “não há discussão, é uma canção alentejana”.

O tema conta apenas com as vozes de Salvador Sobral e António Zambujo, acompanhados ao piano por Júlio Resende. Quando a gravaram, recordou, estava cada um numa sala. “Fizemos nove takes e não tínhamos aquela sensação do ‘ei, este é o take’. Estávamos simplesmente satisfeitos”, partilhou.

Por sugestão de António Zambujo acabaram por gravar todos na mesma sala. “Montámos os micros ao lado do piano e estávamos ali encostados como se estivéssemos a ensaiar e foi logo o primeiro take que ficou no disco, que não é perfeito e por isso é ainda mais bonito”, recordou.

“Paris, Lisboa” foi trabalhado a dois, com Joel Silva (baterista que faz parte, entre outros, do projeto Alexander Search), que Salvador Sobral convidou para produzir o álbum. “Em cada canção pensámos o que é que ficaria bem e foi ótimo porque o Joel obrigou-me a pensar as canções de outra maneira. Ele dizia ‘aqui ficaria bem uma harpa’, eu nunca pensaria numa harpa, então a canção com a minha irmã, ‘Prometo não prometer’, é feita com uma harpa”, contou.

Ao longo da entrevista, Salvador vai nomeando várias pessoas que contribuíram para o disco, a tocar e a cantar ou na autoria e composição dos temas. Além dos já nomeados, “Paris, Lisboa” contou ainda com, entre outros, André Rosinha, Jenna Thiam, André Santos e Leo Aldrey.

“Dizem que os discos são filhos. Este é um filho meu que teve a família toda a apoiar. Tenho imensos amigos a participar e eu adoro isso, chamar a malta toda que quero para gravar o disco”, disse à Lusa.

Além dos amigos, há outra parte da vida de Salvador Sobral bem presente no álbum, logo no primeiro tema “180,181 (catarse)”, que o cantor queria “que fosse a música zero, mas tecnicamente não dá para fazer”.

O tema aborda os dias que passou no hospital, quando foi sujeito a um transplante de coração.

“É na verdade tudo o que ficou para trás, e esta experiência tão forte que eu tive e queria expressá-la”, afirmou, confidenciando que quis “que o disco começasse com uma espécie de um renascimento”.

A canção é “uma catarse”, que embora não seja a número zero, “mesmo assim está um bocadinho separada, tem mais segundos de espera, para as pessoas dizerem ‘wow’”.

“Eu queria pô-la como primeira para as pessoas ficarem assim ‘o que é isto pá?’. É uma catarse, para depois o álbum começar com tranquilidade”, contou.

No disco, Salvador canta em português, inglês, espanhol e, pela primeira vez, francês.

“Eu antes não sabia falar [francês]”, confessou. Desde a conceção do disco, o cantor passou “muito tempo” entre Paris e Lisboa – outra das explicações para o título -, “tanto fisicamente, porque ia muito lá, como espiritualmente e emocionalmente”. “Passei lá muito tempo ao telefone”, partilhou.

Foi nesse tempo que aprendeu francês, língua que considera “tão bonita”, e que entrou “a fundo na Edith Piaff, no Jacques Brel e no Serge Gainsbourg”. “E quis fazer uma coisa assim desse estilo”, disse à Lusa.

Jacques Brel é, aliás, “enquanto performer”, o “maior ídolo” de Salvador Sobral.

“Ele sente aquilo de uma maneira e fica todo a suar, todas as canções é como se fosse a última. Tem uma parte muito performativa, teatral, muito dramática a cantar as coisas e eu gosto disso. Eu gosto de juntar o teatro e a música quando é ao vivo e o Jacques Brel é incrível nesse aspeto”, referiu.

Em maio haverá três oportunidades para ver Salvador Sobral juntar teatro e música ao vivo, nos concertos de apresentação de “Paris, Lisboa”, no dia 03 em Faro, no Teatro das Figuras, e a 10 e 11, nos Coliseus, de Lisboa e do Porto, respetivamente.

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