O escritor Salman Rushdie recordou hoje em tribunal a dor e o sofrimento sentidos no ataque do qual foi alvo em 2022, ao ser esfaqueado durante uma conferência literária no norte do estado de Nova Iorque.
Salman Rushdie testemunhou hoje no tribunal de Mayville, no condado de Chautauqua, na segunda sessão do julgamento de Hadi Matar, um libanês-americano de 27 anos, que está acusado de agressão e tentativa de homicídio do escritor britânico.
Na sessão em tribunal, Rushdie detalhou o momento do ataque, dizendo que só se apercebeu da presença do agressor, todo vestido de preto e com uma máscara na cara, momentos antes, e que se recorda dos olhos dele, negros e “muito ferozes”.
Na altura, o escritor pensou que tinha sido apenas agredido, até ter visto “uma grande quantidade de sangue” a surgir nas roupas, segundo o testemunho citado pela agência noticiosa Associated Press.
“Ele estava repetidamente a bater-me. A bater-me e a esfaquear-me”, descreveu Salman Rushdie, recordando que, no momento, já caído no chão, só pensava que estava a morrer.
Salman Rushdie perdeu o olho direito e sofreu danos permanentes nos nervos da mão, decorrentes deste esfaqueamento.
Em 2024 lançou o livro de memórias “Faca – Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio”, no qual recorda os acontecimentos daquele ataque e o longo processo de recuperação.
“A primeira coisa que disse depois de ter recuperado a capacidade de falar foi: ‘Posso falar’”, afirmou Rushdie na sessão de hoje, na qual esteve pela primeira vez na presença de Hadi Matar, desde o dia do ataque.
De acordo com a Associated Press, o julgamento deverá demorar pelo menos duas semanas.
Hadi Matar, que se declarou culpado dos crimes de tentativa de homicídio e agressão, entrou hoje em tribunal gritando “A Palestina será livre”, tal como fez na segunda-feira, no arranque do julgamento.
Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie é autor de romances, contos para a juventude e ensaios, e recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro “Os Filhos da Meia-Noite”.
O escritor incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação da obra “Versículos Satânicos”, em 1988, que levou o fundador da República Islâmica, o aiatola Ruhollah Khomeini, a emitir uma ‘fatwa’ a ordenar a sua morte.
Depois disso, passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da ordem, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a 'fatwa' nunca tenha sido oficialmente revogada.
O seu romance mais recente, “Cidade da Vitória”, concluído um mês antes do atentado, foi lançado em 2023 e também está publicado em Portugal.
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