
Hadi Matar, de 27 anos, foi considerado culpado por um júri na sexta-feira de tentar matar Salman Rushdie ao invadir um palco e atacá-lo repetidamente com uma faca.
O libanês-americano pode agora ser condenado a uma pena até 25 anos de prisão e será sentenciado em 23 de abril, disse um funcionário do tribunal no comunicado confirmando a condenação por tentativa de homicídio e acusações de agressão.
A equipa jurídica de Hadi Matar tentou evitar que testemunhas caracterizassem o escritor como vítima de perseguição após a 'fatwa' iraniana de 1989 pedindo o seu assassinato por alegada blasfémia em "Os Versículos Satânicos".
Rushdie disse aos jurados no julgamento que Matar "estava repetidamente a bater-me. A bater-me e a esfaquear-me” durante o evento em agosto de 2022 num centro cultural sofisticado na zona rural de Nova Iorque.
“Foi uma facada no meu olho, muito dolorosa, depois disso gritei de dor”, disse Rushdie, acrescentando que foi deixado numa “poça de sangue”.
Ele disse que lhe ocorreu que estava a morrer antes de ser levado de helicóptero para um hospital.
Os jurados ouviram os argumentos finais dos procuradores e dos advogados de defesa antes de se retirarem para considerar o veredicto na sexta-feira.
Matar foi rapidamente considerado culpado de esfaquear Rushdie cerca de 10 vezes com uma lâmina de 15 centímetros que foi mostrada às testemunhas e ao tribunal.
Ele repetidamente usou o julgamento para se exibir, gritando slogans pró-Palestina em diversas ocasiões.
Matar disse anteriormente à imprensa que leu apenas duas páginas de “Os Versículos Satânicos”, mas acreditava que o autor "atacara o Islão”.
Rushdie viveu recluso em Londres durante uma década após a 'fatwa' de 1989 do aiatola Ruhollah Khomeini, mas nos últimos 20 anos – até ao ataque – viveu de forma relativamente normal em Nova Iorque.
Ele tornou-se o centro de um feroz debate entre os defensores da liberdade de expressão e aqueles que insistiam que insultar uma religião, especialmente o Islão, era inaceitável em quaisquer circunstâncias.
No ano passado, ele publicou um livro de memórias chamado “Faca – Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio”, no qual recorda os acontecimentos daquele ataque e o longo processo de recuperação.
O nervo ótico do olho direito de Rushdie foi cortado e ele disse ao tribunal que "foi decidido que o olho seria fechado com pontos para permitir a hidratação. Foi uma operação bastante dolorosa - que não recomendo".
Solicitado a descrever a intensidade da dor durante o ataque, ele disse que foi “10” em 10.
“A primeira coisa que disse depois de ter recuperado a capacidade de falar foi: ‘Posso falar’”, afirmou Rushdie na sessão de hoje, na qual esteve pela primeira vez na presença de Hadi Matar, desde o dia do ataque.
A sua maçã-de-adão também foi parcialmente lacerada e o seu fígado e intestino delgado perfurados.
“A primeira coisa que disse depois de ter recuperado a capacidade de falar foi: ‘Posso falar’”, afirmou no julgamento, provocando risos abafados dos jurados.
O esfaqueamento também provocou danos permanentes nos nervos de uma das mãos.
"Como é que deita pasta de dentes numa escova de dentes com apenas uma mão?", explicou quando questionado sobre os ferimentos sofridos enquanto tentava defender-se.
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