José Eduardo Silva, que escreve, encena e interpreta, parte da situação concreta de um homem que sabe “que vive acima das suas possibilidades”, mas que sente não ter nenhuma possibilidade, para o abstrato da vida numa sociedade contemporânea que é “a sociedade da não-alternativa” à qual os cidadãos estão hoje sujeitos.

Em palco, José Eduardo Silva atua diante de três músicos (Albrecht Loops, Henrique Fernandes e Gustavo Costa), que ora são intervenientes diretos na dramaturgia, interagindo com o ator, ora cumprem a forma “mais tradicional” de música como banda sonora.

Para José Eduardo Silva, a “liberdade fundar-se-ia na possibilidade de ter escolha” e, questionado sobre como desfazer estas limitações, responde que a solução poderá passar pela “mudança nesta maneira de perspetivar o coletivo humano, que por sua vez está integrado num coletivo biológico”.

“Pode o indivíduo exceder a condição de peça insignificante de uma máquina autofágica que acumula poder e capital? Como superar uma lógica tóxica que converte a energia do desejo em compulsão para o consumo? O que podemos dizer hoje do exercício da liberdade individual? Ou mais simplesmente: como nos tornamos humanos depois de termos nascido humanos?”, questiona a sinopse do trabalho.

Gustavo Costa explicou aos jornalistas após um ensaio para a imprensa que o texto e a música foram construídos em conjunto desde o ano passado, fazendo adaptações “mediante as necessidades”, um trabalho de harmonização que ainda está a decorrer.