Olivier Poubelle e Jules Frutos, que agendam os concertos e detêm um terço do teatro, bem como de vários outros espaços musicais na capital francesa, falaram ao Le Monde de como ficaram devastados pelos atentados.
“Dois dos nossos colegas morreram, tal como profissionais da música que conhecíamos bem. Outros estão gravemente feridos. Eu não estava no teatro e estou sempre a pensar nisso”, disse Poubelle.
“Um socorrista disse-me ‘Você não é responsável’, mas mesmo assim…”, acrescentou.
Poubelle acorreu de imediato ao local na noite dos atentados, enquanto estava ainda em curso o cerco de três horas e as pessoas no interior do teatro estavam a ser abatidas a tiro.
“Havia mortos e feridos por todo o lado, a polícia queria saber como era a disposição da sala e o que iria encontrar atrás da porta, como chegar ao piso de cima o mais rapidamente possível”, descreveu.
Os dois colegas que morreram – um técnico de luz e um assessor de imprensa – trabalhavam noutro sítio e estavam ali em lazer, a assistir ao concerto da banda de rock norte-americana Eagles of Death Metal.
Nenhum dos funcionários que estavam de serviço naquela noite morreu, embora Poubelle tenha dito ao Le Monde que vários “estiveram a 10 centímetros da morte”.
Três empregados do bar esconderam-se numa arrecadação e “dois seguranças da entrada salvaram vidas”, sublinhou o sócio do Bataclan ao jornal.
“Eles perceberam o que se passava quando ouviram tiros no bar. E não fugiram, entraram, abriram as saídas de emergência e gritaram às pessoas para saírem”, relatou.
Segundo Poubelle, as equipas de funcionários dos cinco espaços que os dois sócios possuem têm-se mantido unidas desde os atentados, tentando oferecer uns aos outros apoio e solidariedade.
“Quando vi as fotos das vítimas, houve muitas que reconheci – Posso nunca ter falado com elas, mas já as tinha visto na sala de concertos ou no bar. É uma sensação horrível”, disse Jules Frutos.
“A única coisa que há a dizer é que havia uma ‘joie de vivre’ que foi assassinada”, comentou.
Os dois sócios descreveram a zona – o 11.º bairro, no leste de Paris – como uma das mais multiétnicas e de esquerda de França, mas criticaram as tentativas de rotular ou politizar os ataques.
“Eles só queriam matar tantas pessoas quanto possível”, observou Poubelle.
Nenhum dos dois voltou a entrar no Bataclan desde 13 de novembro, mas continuam a passar lá em frente todos os dias para ver as multidões e as muitas homenagens.
Estão ansiosos porque a música regresse, defendendo que a sala de concertos “não deve tornar-se um mausoléu ou um local de peregrinação”.
“A equipa quer uma reconstrução, os artistas também. Falamos muito sobre isso, mas será um longo caminho”, disse Frutos ao diário francês.
“Estamos mortos por agora, mas precisamos de vida. É vital que as portas se reabram”, frisou.
Os Eagles of Death Metal já disseram que querem dar o primeiro concerto se o Bataclan reabrir.
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