Esta terça-feira, as autoridades francesas e a revista Charlie Hebdo recordaram os ataques terroristas que causaram uma dezena de mortes há dez anos, com um evento solene em Paris e uma edição especial do semanário satírico com novas caricaturas sobre religião.
O presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, depositaram flores em conjunto em frente à antiga sede da revista, antes de observarem um minuto de silêncio.
Na cerimónia foram divulgados os nomes das oito pessoas da redação que foram assassinadas em 7 de janeiro de 2015, quando dois irmãos franceses de origem argelina, Chérif e Said Kouachi, que haviam prestado juramento de fidelidade à Al-Qaeda, entraram com armas Kalashnikov na sede do Charlie Hebdo.
Outras quatro pessoas morreram nesse périplo sangrento dos irmãos Koauchi, até que a polícia os localizou e matou-os nos arredores de Paris, dois dias depois.
Charlie Hebdo, desde então símbolo da luta pela liberdade de expressão, optou por usar o seu conhecido sentido de humor.
Os seus atuais dirigentes publicaram uma edição especial de 32 páginas, sob o lema "Inquebrável!", com o desenho de um leitor alegre sentado sobre uma Kalashnikov.
Juntamente com a revista nas bancas, vários jornais dedicaram a sua capa ao décimo aniversário do ataque: "Liberdade, Liberdade Charlie!", foi a manchete do Libération, enquanto o Le Figaro advertiu que a França ainda está "sob a ameaça islamista" dez anos depois.
"A ameaça terrorista nunca esteve tão presente", afirmou o ministro do Interior, Bruno Retailleau, na capa do Le Parisien.
Ciclo de violência jihadista
No ataque sem precedentes de 2015, que causou consternação global, morreram o seu icónico diretor, o cartunista Charb, assim como duas lendas francesas do desenho, Cabu e Wolinski.
Durante nove anos, desde que o Charlie Hebdo publicou caricaturas do profeta Maomé em 2006, a revista viveu sob a ameaça islamista.
A violência iniciada pelos irmãos Kouachi causou outras mortes ao longo de dois dias de terror e perseguição policial, entre 7 e 9 de janeiro de 2015.
Um polícia e quatro clientes judeus de um supermercado kosher foram mortos noutro ataque separado, realizado por outro amigo jihadista dos irmãos.
Embora a França já tivesse sofrido ataques jihadistas durante décadas, a tragédia do Charlie Hebdo marcou simbolicamente o início de um ciclo particularmente mortal, com os ataques sangrentos de novembro de 2015 que causaram 130 mortes em Paris, principalmente na casa de concertos Bataclan.
Desde então houve outros ataques esporádicos: em outubro de 2020, um professor do ensino secundário que exibiu na aula a caricatura de Maomé do Charlie Hebdo, como parte de um exercício sobre liberdade de expressão, foi decapitado por um checheno.
Um mês antes, em setembro de 2020, um homem de origem paquistanesa atacou duas pessoas com uma faca à frente da antiga sede da revista.
O agressor pensou erradamente que as pessoas trabalhavam no Charlie Hebdo. O julgamento desse ataque começou esta segunda-feira e outras cinco pessoas também são acusadas, todas da mesma região rural do Paquistão.
O antigo 'webmaster' do 'site' Charlie Hebdo, Simon Fieschi, gravemente ferido no ataque, morreu em outubro do ano passado, aos 40 anos.
O Charlie Hebdo continua com uma tiragem de dezenas de milhares de exemplares todas as semanas, embora a sua sede seja secreta e os seus cartunistas e jornalistas vivam sob medidas de segurança extraordinárias.
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