A peça “Onde o frio se demora” marca a estreia da jornalista Ana Cristina Pereira na escrita para teatro, uma peça na qual “três mulheres falam do desamor”, nas palavras da encenadora Luísa Pinto.
A autora explica, numa nota escrita, que “a peça ‘Onde o frio se demora’ resulta de conversas longas e sem filtros tidas com três pessoas residentes na Área Metropolitana do Porto, (…) três mulheres de diferentes idades, de diferentes estratos sociais, com diferentes graus de instrução, na intimidade das suas casas, nas suas cozinhas, a falar sobre a vida, a de cada uma delas”.
Com interpretação a cargo de Margarida Carvalho e música ao vivo do guitarrista Peixe, “Onde o frio se demora” vai estrear na Casa das Artes de Famalicão, entre 3 e 5 de março, seguindo para o Rivoli – Teatro Municipal, no Porto, nos dias 18 e 19 do mesmo mês, para depois passar para o Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, de 25 a 27 de março, e para o Teatro Municipal de Bragança, a 06 de abril.
Luísa Pinto disse à Lusa conhecer Ana Cristina Pereira há anos e gostar não só da escrita da jornalista do Público, mas também “da forma como reflete sobre estas questões bem urbanas e bem atuais”, tendo tido vontade de levar à cena textos seus desde a publicação do livro “Meninos de ninguém”.
“É um texto que versa sobre estas três mulheres, em que o público faz a vez da jornalista que as entrevistou. É uma atriz só. Achei que, do ponto de vista da criação, seria muito mais interessante ter uma atriz que se desdobrasse em três”, explicou a também diretora artística da companhia Narrativa Ensaio, que sublinhou a presença das imagens do fotógrafo Paulo Pimenta.
As três pessoas abordam problemáticas diferentes: “uma que tem 30 anos e que foi vítima de violência doméstica ainda muito jovem, mas conseguiu fugir do agressor e refazer a vida”; a outra é uma “mulher solitária (…), sensual, mas insegura, busca o amor, mas não o consegue concretizar, vive nessa frustração de não conseguir concretizar uma relação afetiva com ninguém”.
A terceira mulher tem 73 anos e foi-lhe diagnosticado Alzheimer, “viveu 40 anos com um namorado que era um amante, casado com filhos, uma relação clandestina, e esperou sempre o momento em que o senhor enviuvasse, o que não aconteceu”.
Luísa Pinto reforçou a importância daquilo a que chamou “verdade quotidiana”, algo que procura manter a realidade das pessoas na transposição para o palco, realçando que “a própria linguagem do texto é o mais fiel possível ao original das entrevistas, todas as metáforas estão na luz, na música, na cenografia”.
“Não é um inventário de perdas e ganhos. É uma proposta de teatro-documental. Uma brecha para um mundo feminino de desencontro, de desamor, de violência na intimidade – umas vezes evidente, outra subtil. O interlocutor original desaparece. O espectador assume o seu lugar, faz as vezes de parceiro mudo”, escreveu Ana Cristina Pereira.
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