A escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, que recebeu o Prémio Camões em 2005, morreu hoje em São Paulo, aos 98 anos, informou a Academia Brasileira de Letras.

Nascida em 1923, em São Paulo, Lygia Fagundes Telles era considerada um dos nomes maiores da literatura brasileira, tendo recebido dezenas de prémios ao longo da carreira, entre os quais o Prémio Camões.

A escritora brasileira venceu o Prémio Camões em 2005, tendo recebido o galardão numa sessão solene na Fundação de Serralves, no Porto, por ocasião da VIII Cimeira Luso-Brasileira.

Na ocasião, afirmou à Lusa que o prémio foi "a colheita de uma grande e antiga plantação" a que se vinha "dedicando com paciência, esperança e paixão”.

Assumiu-se como "uma escritora do terceiro mundo, atenta às desigualdades", empenhada em "ajudar o leitor" através dos seus livros, garantindo procurar "dar ao leitor o consolo e o amor" e defendendo que "a salvação está na arte".

Tem publicadas várias obras, entre romances e contos, entre os quais "As meninas", "Histórias de mistério", "Verão no aquário" e "Seminário dos ratos".

De acordo com a academia brasileira, a década de 1970 foi de intensa atividade literária da romancista e marcou o início da consagração na carreira, tendo publicado alguns dos seus livros mais reconhecidos.

Na década seguinte publicou "A Disciplina do Amor" (1980), que recebeu o Prémio Jabuti e o Prémio da Associação Paulista de Críticos de Arte, tendo o romance "As Horas Nuas" (1989) recebido o Prémio Pedro Nava de Melhor Livro do Ano.

Entre os romances galardoados encontram-se ainda "A Noite Escura e Mais Eu (1995)", que recebeu o Prémio Arthur Azevedo da Biblioteca Nacional, o Prémio Jabuti e o Prémio APLUB de Literatura e os textos do livro "Invenção e Memória" (2000), que receberam o Prémio Jabuti, APCA e o "Golfinho de Ouro”.

Lygia Fagundes Telles trabalhou como Procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu até à reforma.

Foi também presidente da Cinemateca Brasileira e era da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras.

Marcelo homenageia 'personalidade cativante' da 'amiga de sempre de Portugal'

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou a escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, que morreu hoje com 98 anos, considerando-a uma "personalidade cativante" e uma "amiga de sempre de Portugal e dos portugueses".

"Romancista, contista, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, vencedora dos prémios Camões e Jabuti, entre dezenas de outros galardões, e distinguida também com a Ordem do Infante D. Henrique, Lygia Fagundes Telles era uma das autoras brasileiras mais admiradas no Brasil e em Portugal", lê-se numa mensagem colocada no portal da presidência na Internet.

Marcelo Rebelo de Sousa lembra que a escritora "escreveu sobre as relações humanas, sobre pais e filhos, a condição das mulheres, a ditadura brasileira, em livros como ‘As Meninas’ (1973), por vezes num registo fantástico ou veemente, outras vezes com um realismo discreto e subtil".

Lygia Fagundes Telles "conviveu com várias gerações da intelectualidade brasileira, desde a geração dos modernistas de 22, e interessou-se em especial pelo cinema, tendo sido presidente da Cinemateca Brasileira, instituição fundada pelo seu marido Paulo Emílio Salles Gomes", acrescenta.

"Agora que nos deixou, à beira de completar 99 anos, presto homenagem à grande escritora, à personalidade cativante e à amiga de sempre de Portugal e dos portugueses", conclui o chefe de Estado português.