Madison Beer não é de todo uma desconhecida e tem sido considerada uma artista em ascensão, ainda que lenta, nos Estados Unidos. Agora, lança finalmente o seu primeiro álbum depois de vários singles bem sucedidos, muitos dramas pessoais e alguns azares que a mantiveram “atual” e constantemente presente online ao longo dos últimos nove anos.

Descoberta por Justin Bieber em 2012, a cantora iniciou a sua carreira com versões no YouTube e lançou o seu primeiro single~, “Melodies”, em 2012. Chegou até a gravar um EP, mas só cinco anos mais tarde. “As She Pleases” continha sete músicas e não passou do 93 lugar da Billboard 200. Ainda assim, o single “Home With You” alcançou o disco de ouro e chegou a ser possível ouvi-lo em algumas rádios e discotecas europeias.

Após entrar em desacordo com a sua então gravadora Island Records, a cantora viu o seu contrato cancelado e lançou alguns singles independentes na internet. Em 2018, assinou finalmente com a Epic Records, propriedade da Sony Music Entertainment, o que potenciou a sua transformação como artista graças a singles que exploram os seu próprios desafios pessoais como “Hurts Like Hell” e “Dear Society”, que faz parte da banda sonora oficial da série da Netflix “Por Treze Razões”. Na mesma época, Madison deu ainda voz a uma das personagens de “K/DA”, um grupo de K-Pop virtual inspirado no jogo de consola “League of Legends”.

Depois de quase uma década desde que iniciou a sua carreira e aos 22 anos de idade, Madison Beer lançou esta semana “Life Support”, que foi apresentado oficialmente na noite passada, num concerto virtual transmitido mundialmente através da plataforma “Headliner”, às 20h00 de Lisboa.

“Life Support In Concert” contou com uma produção simples mas bem conseguida. Madison cantou ao vivo todas as músicas do álbum, acompanhada por jogos de luzes e uma banda exclusivamente feminina que ajudou na fusão entre a energia do rock e o pop, com a sonoridade clássica de violinos. Com poucas palavras entre cada música, a cantora seguiu o alinhamento do álbum e começou com “The Beginning”, um instrumental acompanhado pela sua voz ofegante que serviu de abertura para “Good in Goodbye” e “Default”. Um dos momentos altos foi a canção “Follow the White Rabbit”, que tem sido considerada uma das melhores de “Life Support”, um pop-rock fácil de ouvir mas com um tema complexo.

Madison Beer

Entre olhares itensos com a câmara e movimentos comedidos no chão do palco, músicas como “Effortlessly”, uma balada sobre o uso de medicamentos prescritos para eliminar a dor, “Homesick” e “Selfish”, marcaram os momentos mais emotivos do concerto, seguidos de “Stained Glass”, um dos temas favoritos dos fãs, que fala das fragilidades da cantora. A energia voltou depois com o mais recente single “Boyshit” e a animada “Baby” para encerrar depois ao som de piano, com "Everything Happens For a Reason".

“Life Support” alcançou o primeiro lugar do ITunes no seu dia de lançamento, 7 milhões de streams no mesmo dia, bem como o primeiro e segundo lugares das tabelas da Apple Music em países como Estados Unidos, França, Espanha, Brasil e até mesmo Portugal.

Segundo a cantora, o álbum é uma reflexão profundamente pessoal sobre as suas experiências de vida e como estas a marcaram e moldaram. Numa entrevista à revista The Face, Madison Beer revelou que o nome “Life Support” se deve a todos os desafios que teve de ultrapassar nos últimos anos.

Além do fim do seu relacionamento com o promotor de eventos Zack Bia, que foi severamente escrutinado pela imprensa nos Estados Unidos, a cantora foi também diagnosticada com Transtorno da Personalidade Borderline. “Depois do diagnóstico e de sessões de terapia três vezes por semana, comecei a ter mais contato com as minhas emoções e descobri como manter-me estável. Consegui escrever melhor, entender-me melhor e pude simplesmente escrever a história como eu queria que fosse contada”, referiu.

Madison Beer

Ao ouvir “Life Support”, é fácil perceber o quão pessoal é este álbum. Trata-se de um trabalho realmente honesto que usa o pop, o rock alternativo, uns toques de eletrónica e uns acordes de clássico, para refletir a personalidade complexa de Madison, quase em jeito de confissão e explicação das suas lutas mentais. À parte dos lugares comuns que caracterizam o pop (sobre amor e corações partidos), as letras parecem saídas de um diário e refletem os conflitos internos constantes da cantora no seu processo de entender-se a si mesma e aos outros.

As comparações com outras cantoras pop como Ariana Grande ou Lana Del Rey são quase inevitáveis, é verdade. Mas “Life Support” sugere uma mistura de sonoridades interessante que o torna difícil de categorizar. Entre a melancolia e o atrevido, é um álbum que vale a pena conhecer e que certamente coloca Madison Beer numa posição mais madura no panorama musical.