Na primeira audiência, ocorrida a 13 de maio, Evaristo Marinho, reformado de 76 anos, confessou o assassínio ao dizer ter disparado seis tiros contra o ator Bruno Candé, a 25 de julho de 2020, no concelho de Loures (distrito de Lisboa).

Hoje, estava previsto serem ouvidas sete testemunhas, mas o Tribunal de Instrução Criminal de Loures decidiu adiar a audição de uma delas, por não ter sido possível notificá-la.

O coletivo de juízes decidiu ainda que não vai necessário realizar prova pericial sobre os danos provocados na família de Bruno Candé, adiantando que “a prova testemunhal é suficiente para avaliar o impacto nos três filhos e na mãe da vítima”.

Em janeiro, o Ministério Público (MP) acusou Evaristo Marinho por homicídio qualificado de Bruno Candé, baleado em Moscavide, no concelho de Loures, a 25 de julho de 2020, crime que é agravado por ter sido motivado por ódio racial.

Segundo o despacho do MP, a que a agência Lusa teve acesso, Evaristo Marinho, de 76 anos, afirmou durante uma discussão com a vítima, a 22 de julho de 2020, entre outros impropérios: “Vai para a tua terra, preto! Tens toda a família na senzala e devias também lá estar!”.

Durante a discussão, na via pública, o arguido levantou a bengala em direção ao ator Bruno Candé, ameaçando-o de morte e fazendo referência à cor do cidadão.

De seguida, refere o MP, Bruno Candé entrou num veículo, tendo o arguido ainda gritado “tenho lá armas em casa do Ultramar e vou-te matar”.

Nos dias seguintes, o arguido passou diversas vezes na mesma rua com uma pistola calibre 7,65 milímetros, esperando voltar a encontrar a vítima, que habitualmente passeava no local com a sua cadela.

No dia 25 do mesmo mês, por volta da hora do almoço, ao avistar Bruno Candé sentado no muro de um canteiro existente na rua, o arguido retirou a arma do coldre, empunhou-a e disparou contra a vítima que, de imediato, caiu ao chão.

Hoje, à mesma hora do julgamento, cerca de três dezenas de pessoas participam numa vigília para exigir “justiça por Bruno Candé”.

“O racismo matou de novo. Justiça por Bruno Candé”, lia-se nos cartazes erguidos à porta do Tribunal de Loures, distrito de Lisboa, pelos participantes da vigília, na maioria vestidos com ‘t-shirts’ com o rosto do ator.

“O que aconteceu ao Bruno Candé é algo que pode acontecer a qualquer pessoa da comunidade negra ou da comunidade racializada em Portugal”, afirmou António Tonga.

Em declarações à agência Lusa, o participante na vigília explicou que “não há uma grande hipótese, vivendo dentro do sistema como ele é, de não se solidarizar” perante este caso, reclamando justiça, e defendeu que a questão “não se prende somente com o assassino”.

“Prende-se também com uma punição exemplar aos crimes racistas, um quadro legal em relação ao crime de ódio racial, que seja de facto empregado na realidade, e, por isso, estamos a prestar solidariedade à família do Bruno Candé, mas também estamos a aqui a dizer que mais uma vez o racismo matou e o racismo mata”, declarou António Tonga, considerando que este é um problema mundial, que existe também em Portugal.

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