No prólogo, Vieira Nery realça a “enorme capacidade recreativa e comunicativa da banda desenhada, como [neste álbum], Manuel Rajal o faz”, contando “à sua maneira” a História do Fado.

Rajal percorre o evoluir do género musical, “desde as [suas] origens incertas” até ao percurso de Mariza e outros intérpretes como Ricardo Ribeiro, passando pela Severa (1820-1846), Amália Rodrigues (1920-1999), e dando conta dos contextos político-económicos e sociais, nomeadamente a subida ao trono de Maria II, em 1834, um “reinado turbulento e convulsivo”, escreve o autor, durante o qual são extintas as ordens religiosas, liberalizado o comércio do Vinho do Porto e efetuadas “reformas sociais e progresso na educação, na agricultura e nas ciências”.

Rajal dedica na sua narrativa ilustrada espaço aos “tipos de Lisboa”, a varina, o cauteleiro, ou os vendedores de castanhas assadas e de "fava rica", ao denominado “fado de Coimbra”, à ligação entre o fado e as touradas e refere o rei D. Carlos como “um grande apreciador” das noites fadistas.

Ao longo da narrativa vão surgindo nomes significativos do género como os dos poetas João Linhares Barbosa e Avelino de Sousa, os dos fadistas Alfredo Marceneiro, Júlio Proença, Maria Teresa de Noronha, ou o músico Martinho d’Assunção (viola), entre outros.

Nery sublinha a “atenção e rigor” com que Manuel Rajal leu “toda a bibliografia de referência sobre o género”, com uma “informação histórica sólida e atualizada”.

Vieira Nery não poupa elogios ao autor galego, realçando o seu “jeito tão especial de traçar, em tons sépia, com meia dúzia de recriações históricas, de cenas de costumes e de vinhetas individuais, cada um dos episódios da História Fadista”, conduzindo o leitor “pelos momentos decisivos e os respetivos protagonistas fundamentais”.

Pintor autodidata, Rajal expôs pela primeira vez em 1984, em Lugo, noroeste de Espanha, tendo colaborado como ilustrador em diversas publicações.

Vencedor, em 1990, do VII Certamen Nacional, em Denia, no sul de Espanha, é autor (texto e ilustração) de várias obras, como “Origem de Compostela. La Leyenda” (2017).