O conto de fadas entre a Flórida e a Disney está a chegar ao fim.

O senado estadual daquele estado norte-americano anulou esta quinta-feira o estatuto especial de auto-gestão da empresa no seu parque temático em Orlando, no último episódio de uma guerra cultural que abala os EUA.

O texto legislativo, que carece apenas da assinatura do seu principal promotor, o governador Ron DeSantis, surge após uma disputa entre o líder republicano e a empresa por uma polémica lei educacional votada na Flórida.

"Se a Disney quer lutar, eles escolheram o tipo errado", escreveu DeSantis em um email recente no âmbito de uma angariação de fundos.

Os problemas para a empresa começaram em março, quando a Flórida aprovou uma lei que proíbe o ensino de questões de orientação sexual e identidade de género desde o infantário até ao terceiro ano da escola primária [cerca dos 8-9 anos].

Esta lei, apelidada de "Don't Say Gay" pelos seus detratores, faz parte de uma batalha cultural travada pelo Partido Republicano, poucos meses antes das eleições a meio de mandato que serão realizadas em novembro para o Congresso.

A Disney inicialmente recusou-se a reagir à lei no estado onde emprega cerca de 75 mil pessoas, mas as críticas generalizadas pelo seu silêncio levaram o diretor-executivo, Bob Chapek, a finalmente condenar a medida e suspender as doações políticas no estado.

Em retaliação, DeSantis anunciou na terça-feira que pediu aos congressistas estaduais que derrubassem o estatuto especial da Disney, que vigorava desde 1967.

Dois dias depois, os seus desejos foram atendidos no senado local, iniciando um período que levará ao desmantelamento do distrito especial em junho de 2023.

"A Disney é uma convidada na Flórida. Hoje lembramos disso", partilhou nas redes sociais Randy Fine, o republicano que introduziu a lei contra a gestão autónoma da Disney no senado estadual.

A Disney administra o Reedy Creek Improvement District como se fosse um governo local, arrecadando impostos e garantindo serviços públicos essenciais como a recolha de lixo, tratamento de água, etc.

A decisão de anular o estatuto especial levantou dúvidas sobre o futuro da área onde está localizado.

Segundo as leis estaduais, se o distrito especial for dissolvido, os seus bens e dívidas serão transferidos para os governos locais que circundam o território.

"Pode passar 2 mil milhões de dólares da dívida da Disney para os contribuintes" de Orange e Osceola, avisou nas redes sociais a senadora democrata Linda Stewart na quarta-feira.