O ciclo dedicado a Ernesto de Sousa começará pela inauguração da exposição "Revolution My Body no. 2", um trabalho de 1976 que consiste na projeção de um filme em super 8, que convida à intervenção do público sobre três folhas de papel/ecrã, segundo um comunicado da organização.

No dia 18 de abril, data em que Ernesto de Sousa cumpriria o seu 100.º aniversário, a Appleton estará excecionalmente aberta entre as 10h00 e as 13h00 para que o público possa assistir a uma intervenção especial na obra, e será lançado o primeiro episódio da terceira temporada do "Appleton Podcast", com uma conversa entre David Maranha, Isabel Alves e Vera Appleton.

Esta celebração, até 22 de abril, conta também com as apresentações a solo de Rafael Toral e Pedro Sousa, nos dias 16 e 22 de abril, respetivamente, artistas que receberam a bolsa Ernesto Sousa "e representam, da melhor forma, o espírito desta iniciativa, que durante 20 anos continuou o trabalho de divulgação ao qual sempre se dedicou".

Rafael Toral foi o segundo a receber esta bolsa, em 1994, e Pedro Sousa foi o último contemplado com esta iniciativa que inspirou várias gerações do experimentalismo e da vanguarda portugueses na realização de projetos em residência na Experimental Intermedia Foundation, em Nova Iorque.

Por fim, será apresentada pela primeira vez ao público a totalidade dos carimbos de Ernesto de Sousa (1921-1988), uma presença constante na sua prática artística, bem como a ´mail art´ que trocava com artistas em todo o mundo.

A organização do ciclo Ernesto de Sousa está a cargo de David Maranha e Manuel Mota, em colaboração com a produtora cultural Isabel Alves, viúva de Ernesto de Sousa, sendo uma das várias homenagens ao artista, que algumas instituições portuguesas vão também prestar ao longo do ano, nomeadamente a Fundação Calouste Gulbenkian, que irá evocar o artista com um colóquio e um espetáculo, a 02 de junho.

Crítico, artista visual, realizador, teórico e programador estético, Ernesto de Sousa marcou o panorama das artes em Portugal a partir de meados de 1940, inspirando as gerações de artistas que se afirmaram após o 25 de Abril.

Ernesto de Sousa acarinhou um conjunto de artistas fundamentais do pós-25 de Abril, foi curador de exposições e de eventos artísticos coletivos, fez várias exposições individuais, e concebeu a mostra "Alternativa Zero", em 1977, um acontecimento que marcou a arte portuguesa contemporânea.

Muitos dos artistas que nela participaram tornaram-se depois nomes consagrados, como foi o caso de Helena Almeida, Julião Sarmento, Ângelo de Sousa, Noronha da Costa e Fernando Calhau, entre outros.

Ernesto de Sousa comissariou, por três vezes, a representação portuguesa na Bienal de Veneza, participando numa obra coletiva com Ana Hatherly, João Vieira, Ernesto de Melo e Castro e António Sena (1980), e escolhendo depois Helena Almeida (1982) e José Barrias (1984), como representantes.

Desdobrando-se por várias atividades e interesses, "anti-especialista por escolha e vocação", Ernesto de Sousa destacou-se na realização e na crítica de cinema, no cineclubismo, na fotografia, no estudo da arte popular, na crítica de arte, no teatro, e depois no cinema experimental, entre outras formas artísticas, como o 'happening', a 'performance', através do Movimento Fluxus, na sua introdução em Portugal.

Estudou cinema em Paris, entrou em divergência com o movimento surrealista em Portugal, foi pioneiro da arte multimédia e colaborou com jornais e revistas como a Seara Nova, Horizonte, Vértice, Mundo Literário e Colóquio Artes.

É tido como fundador do Círculo de Cinema, em 1946, onde a polícia política da ditadura do Estado Novo o deteve, assim como à restante direção, naquela que foi a primeira de quatro prisões do artista por motivos político-culturais.

No cinema, realizou o filme "Dom Roberto", com Glicínia Quartim e Raul Solnado, uma obra que marca a emergência o Novo Cinema, em Portugal, e que conquistou o Prémio da Jovem Crítica e o Prémio da Associação de Cinema para a Juventude, na Semana da Crítica do Festival de Cannes, em 1963.

Nos vários caminhos criativos que percorreu, Ernesto de Sousa defendeu sempre o derrube de fronteiras entre arte e vida, e encontrou as suas figuras tutelares em Bertolt Brecht, Joseph Beuys, Wolf Vostell, Almada Negreiros, mas também em criadores como Rosa Ramalho e Franklin Vilas-Boas Neto.