Os responsáveis pela publicação 'online' da obra defendem que o diário da jovem, que morreu no campo de concentração nazi de Bergen-Belsen, em 1945, e que foi publicado pelo seu pai a título póstumo, é, desde 01 de janeiro, do domínio público, uma vez que passam 70 anos sobre a data da morte de Anne Frank.
De acordo com uma lei europeia de 1933, os direitos sobre a publicação de um livro cessam no início da sétima década após a morte do seu autor.
“No que diz respeito a este livro, o seu testemunho e aquilo que representa, estou convencido de que não existe maior combate do que lutar pela sua liberdade, não existe maior tributo do que partilhá-lo sem restrições”, escreveu o professor da Universidade de Nantes, em França, Olivier Ertzscheid, que publicou a obra na Internet na sua versão original em holandês.
Anne Frank, oriunda de uma família judaica alemã que se viu forçada a abandonar a Alemanha, refugiando-se na Holanda, quando Hitler subiu ao poder e deu início a uma política de perseguição e extermínio de judeus, usou o seu diário para descrever o seu dia-a-dia num anexo dissimulado na casa da sua família em Amesterdão, no qual viveu escondida de junho de 1942 a agosto de 1944, até serem descobertos e levados para os campos de concentração.
Descoberto pelo seu pai, o único sobrevivente da família, o diário foi publicado pela primeira vez em 1947, em holandês.
O Fundo Anne Frank, com sede em Basileia, na Suíça, detém os direitos de publicação da obra e revelou à AFP que tinha sido enviada uma carta a ameaçar com ações legais caso o livro fosse publicado sem autorização.
O Fundo defende que o livro é uma obra póstuma, pela qual detém todos os direitos até passarem 50 anos sobre a data da última publicação.
Uma versão foi publicada em 1986, pelo Instituto Estadual Holandês para a Documentação de Guerra, o que estende os direitos até, pelo menos, 2037.
Ertzscheid tinha publicado em outubro, no seu 'site' duas versões francesas do livro de Anne Frank, para imediatamente as retirar quando a editora Livre du Poche enviou uma notificação a declarar que ainda vigoravam os direitos sobre as traduções.
O professor universitário recordou que outra obra famosa com ligações à II Guerra Mundial entrou no domínio público na sexta-feira, 01 de janeiro: o manifesto antissemita de Adolf Hitler, ‘Mein Kampf’.
A deputada francesa Isabelle Attard do Partido dos Verdes também publicou 'online' o diário, na sua versão original em holandês, argumentando ser necessário lutar contra a privatização do conhecimento.
Attard criticou a oposição do Fundo que gere os direitos de publicação à entrada no domínio público da obra de Anne Frank, classificando-o como “uma questão de dinheiro”, uma vez que, se a obra fosse de acesso livre, a sua autora ganharia ainda maior reconhecimento.
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