Televisão, internet, sondagens e momentos insólitos. O que vi e o que achei sobre a campanha eleitoral. Infelizmente não consegui acompanhar tudo, porque a quantidade de reportagens, entrevistas, comentários e derivados exige uma atenção olímpica. Nota para os leitores mais incautos: este não é um artigo imparcial, é a minha opinião.

Pedro Passos Coelho e António Costa

As sondagens. Normalmente, apenas existem dois tipos de sondagens: as boas, quando mostram aquilo que queremos; e as más, as que mostram o contrário. Este ano foram estreadas as sondagens ridículas: enviesadas, com amostras insultuosas e intenções duvidosas. Deixa lá, elas servem apenas para orientar a estratégia dos partidos. Tu tens de votar no partido em que acreditas, não naquele em que a maioria dos inquiridos vota. A menos que os outros pensem por ti.

Facebook. Em 2009 era território por explorar, em 2011 compreendia-se que os políticos ainda não tivessem aprendido a trabalhar com ele, em 2015 é só mesmo completa falta de visão e aconselhamento. Com honrosas excepções, os partidos (e políticos de primeira e segunda linhas) fizeram uma péssima campanha online, com as habituais contas institucionais a denunciar intenções unicamente utilitárias, sem reciprocidade e com uma dinâmica cheia de pó. Já a máquina jovem, de quem se esperava algum ar fresco, enrodilhou-se nas hashtags ilegíveis em vez de produzir matéria persuasiva. Ainda bem que o Twitter continua a ser um café muito bem frequentado:

Snapchat do Expresso. Podem dizer que é infantil, que tem conteúdos irrelevantes e que a curta vida dos snaps é proporcional à sua utilidade. O snapchat do Expresso merece todas as críticas e mais algumas, até por ter sido a primeira experiência do género em Portugal. Mas teve o mérito de ir ao encontro dos jovens, explorar os canais que frequentamos e falar a nossa linguagem. Houve perguntas e respostas a políticos, ativistas, professores universitários e artistas. Podem não ter visto, mas a Iryna Shev (responsável pela odisseia) explicou o plafonamento horizontal e vertical da Segurança Social com muito mais simplicidade e eficácia que todas as televisões. (Já agora, fica aqui o link para outra explicação séria.)

Isto é tudo muito bonito, mas... o guião é tão bem estudado por todos que, salvo alguns momentos de brilhante sarcasmo (quase todos sem convidado), o programa serviu apenas para o político em campanha ir à televisão fazer o número de pessoa bem-disposta. O humor sofre muito quando é demasiado planeado. Contra as expectativas, a conversa mais interessante de todas foi com Sérgio Sousa Pinto (e mal se falou destas eleições). Para a posteridade fica o verbo “concatena”, ainda assim parente pobre de “esmiúça”.

Telejornais. Admito que entretanto deixei de ver. Se querem lixo triturado, vejam os blocos noticiosos na televisão, que nos dizem (com nuances que denotam preferências) onde estiveram os candidatos, onde almoçaram, para quantas pessoas falaram e que slogan usaram naquele comício. Se preferirem decidir conscientemente, se precisarem que vos sejam explicados aqueles termos técnicos de que os partidos falam (porque o jornalismo é isso), então o melhor mesmo é agarrarem-se aos jornais de papel e navegarem pela internet, com conteúdos muito mais ricos e, sobretudo, plurais. Não sei o que me parece mais grave: se o facto de os canais de sinal aberto simplesmente não terem explicado, por exemplo, o que é o plafonamento da segurança social; se, em plena campanha eleitoral, os principais espaços de comentário político em horário nobre serem de Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, ambos ligados ao PSD (sem contraditório). Parece que agora nas aulas de jornalismo se ensina a acompanhar a realidade ao segundo; olhe, desculpe, esqueceu-se de ensinar o fundamental: a informar. (Apesar de tudo, é, infelizmente, o único meio através do qual a esmagadora maioria dos eleitores acompanha a campanha)

Portugal em fanicos. Um grupo de criativos deu 15-0 a toda a oposição no que toca a desmontar a narrativa da coligação. Se o PS, PCP e BE não foram capazes de gerar verdadeiros soundbites sobre a última governação (a verdade é que os últimos quatro anos passaram de fininho por toda a campanha), a página Portugal Não Pode Mais fê-lo de forma exímia. Com o slogan “Portugal em fanicos” e um grafismo igualzinho à campanha original, é possível ver uma série de imagens que contrariam o “Portugal próspero” da campanha de Passos Coelho e Paulo Portas.

Suspeitamos que o professor Catroga também seja adepto do vinho Amnésia.

Posted by Portugal Não Pode Mais on Domingo, 27 de Setembro de 2015

Sabia que a cidadania agora dá prémios? Com o seu voto no dia 4, habilite-se a ganhar este fabuloso conjunto de malas de viagem PeF. Vai ver que lhe vão dar jeito a partir de dia 5!

Posted by Portugal Não Pode Mais on Segunda-feira, 28 de Setembro de 2015

Gaffes e insólitos da campanha. A senhora-de-cor-de-rosa debateu com Passos Coelho, o speaker do PS parecia ter chamado “palhaço” a António Costa, os cartazes do PS afinal eram com figurantes, Passos Coelho confundiu reembolso de uma obrigação do Tesouro com pagamento antecipado ao FMI e a coligação PàF congratula-se com a presença de 3000 pessoas numa sala que tem capacidade para apenas 1200. Não me lembro de mais sem pesquisar. Episódios (que normalmente nem passam pelas direções políticas e próprios da adrenalina da estrada) que despertam reações explosivas em forma de claque no próprio dia mas que se esfumam muito rapidamente: não significam absolutamente nada para o futuro do país e mais não criam do que ruído desnecessário. Deixemo-las para quando não houver coisas sérias para discutir, por enquanto é melhor que fiquem em banho-maria para saborear mais tarde. Vá, não resisto, fica aqui este vídeo para matar o vício:

Foto @Lusa