Num dia de verão, 14 de julho, a areia da praia foi trocada, sem qualquer sacrifício, pelo cimento e calor abrasador junto ao nosso rio Tejo. E não faltou quem aí esperasse desde a madrugada para garantir o melhor lugar para o primeiro concerto do australiano Cody Simpson em Portugal.
Minutos antes de as portas abrirem, um clima de grande ansiedade e histerismo marcava as ruas junto ao Armazém F, em Lisboa, com gritos que não deixavam ninguém indiferente. Essa espera foi parcialmente ultrapassada quando membros da equipa de Cody Simpson surgiram e pediram que lhes fosse fornecido o nome do autor da música “Bará Berê”, de Michel Teló, uma pergunta que só no final do concerto foi justificada (já lá vamos). Contudo, pouco tempo depois, conseguimos finalmente entrar no recinto para assistir a um espetáculo acústico que se esperava pouco surpreendente.
Do primeiro andar da famosa discoteca conseguimos ver a quantidade de raparigas que, com gritos estridentes e vozes afinadas, tentavam chamar a atenção da segunda e principal estrela da noite. Mas, apesar disso, foi Jackson Harris que fez as honras da casa, conseguindo aquecer a plateia que conhecia grande parte do seu repertório, cantando em grande coro êxitos como “Go Crazy”, “Come Back Down to Earth” ou um dos seus singles mais recentes, “Gone In a Heartbeat”.
Também conhecido pelas suas versões, Jackson aproveitou para fazer vibrar novamente as fãs dos One Direction presentes naquele espaço ao cantar a balada “Little Things” de uma forma muito parecida com a original.
Depois de quase ser engolido pelas mãos das primeiras filas que o puxavam sempre que o mesmo lhes dava oportunidade, ainda houve tempo para ligar à sua mãe para que esta fosse saudada pelo público português, bem como para justificar a produção da música “Miss Me”, que "derreteu" os corações dos mais apaixonados: “Gosto muito de uma rapariga fantástica, mas estou solteiro. Por isso, lembrei-me de escrever esta canção para um dia, quando “a tal” estiver aí, talvez em Portugal, pensar: fui uma idiota por ter terminado com o Jackson”.
$$gallery$$Mas a verdadeira explosão de hormonas fez-se ouvir quando Cody Simpson subiu ao palco e mostrou uma postura estranhamente séria e introvertida, não dando a perceber a reviravolta que se seguiria. Logo após a segunda música, “Got me good”, do seu primeiro álbum, o cantor australiano, com um grande sorriso, dirigiu-se pela primeira vez aos seus admiradores: “Admito, é a minha primeira vez em Lisboa, nunca tinha cá estado e até agora estou a adorar! Agora apresento-vos a 'Acoustic Sessions Tour', numa noite toda em acústico.”
Com a voz em perfeita sintonia com os acordes da sua guitarra, Cody impressionou com toda a sua qualidade musical, que a grande máquina que o produz acaba por a esconder ou diminuir por detrás das batidas pop pouco inventivas características das suas músicas. E é isso que, em mais um dos seus grandes discursos da noite, o cantor acaba por explicar: “A razão para vos apresentar esta versão acústica é o facto de ter começado na indústria da música australiana muito pequeno e, por isso, nunca pude fazer exatamente aquilo que queria. Agora estou a fazê-lo, é disto que gosto!”.
Num ritmo completamente diferente mas surpreendente, mais intenso e divertido, o australiano fez do tampo da sua guitarra um tambor e apresentou a música “La Da Dee”, que integra a banda sonora do filme “Chovem Almôndegas 2”. Contudo, as fãs também tinham no bolso uma grande surpresa, que deixou o seu ídolo encantado quando viu a quantidade de folhas que estas envergavam com a mensagem “Os anjos portugueses prometem não desistir de ti”.
Cody, para além de nos ter apresentado todos os seus dotes vocais e instrumentais, também nos surpreendeu com alguns passos de dança com as covers “Señorita” e “Lovestoned”, de Justin Timberlake, e “Superstition”, de Stevie Wonder. Dançou mas também fez dançar, já que ameaçou, em tom de brincadeira: “Quero-vos todos a dançar, se não dançarem eu paro de cantar!”.
Depois de danças e saltos, as fãs voltaram a surpreender com a sua energia no sucesso “Surfboard”, onde flashes de luz e lasers invadiram toda a sala, um ambiente que não é de esperar de um concerto acústico e que poderá ter provocado alguns efeitos secundários - num dos cantos da sala, onde não era possível ver o palco, duas raparigas dançavam e atiravam-se para o chão, alheias ao que se passava à sua volta.
Aquelas que não tiraram os olhos do palco terão saído do recinto completamente satisfeitas, principalmente uma aniversariante das primeiras filas que nunca irá esquecer o momento em que o seu ídolo lhe cantou os parabéns em pleno concerto.
Por fim, para arrebatar o espetáculo e num ambiente descontraído, o palco foi invadido pelos elementos do artista da primeira parte e pela equipa de Cody, dançando todos “Bará Berê”, de Michel Teló, facultada pelos fãs antes de entrar no recinto.
Um final diferente para um concerto que nos surpreendeu pela sua qualidade e variedade e pela simpatia e diversão do cantor, que demonstrou ser um grande falador, não tendo medo de pedir às fãs para se calarem de modo a que todos os seus discursos se fizessem ouvir. Contudo, o barulho ensurdecedor foi impossível de controlar quando a meio de um dos seus últimos discursos, o cantor prometeu que esta não seria a última vez que iria meter os pés em terras lusitanas: “Durante toda a minha vida nunca pensei vir a Portugal, venho de muito longe mas, para o ano, irei voltar com um novo álbum, com músicas em acústico que irei trabalhar com um amigo.”. Uma grande promessa e um espetáculo que o pequeno sapinho não irá perder.
Fotografia: Carina Sousa
Texto: Ana Castro
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