A cantora cabo-verdiana Cesária Évora continua a ser uma atração turística na sua ilha natal de São Vicente e os guias incluem nos roteiros viagens em torno da história da “diva dos pés descalços”, falecida há precisamente uma década.

É o caso do mural do artista urbano português Vhils (Alexandre Farto), com a imagem da cantora esculpida em baixo relevo com berbequim, na parte traseira da Biblioteca Municipal do Mindelo, feito em outubro de 2019, e que tem sido passagem obrigatória para quem visita a cidade, na ilha de São Vicente, onde Cesária Évora viveu.

Em frente ao mural, de vários metros de altura, com as lentes apontadas para a grande imagem da cantora, as duas amigas belgas Gil e Nily procuram referências de Cesária, conforme contaram à Lusa.

“Conheço um pouco de Cesária, obviamente, porque o seu nome é famoso e popular pelo mundo e temos um músico na Bélgica, Stromae, que tem um som com o seu nome. Acho que Cesária é lendária”, diz Gil.

À chegada de férias ao Mindelo, assegurou que está expectante por conhecer mais sobre a cantora e ouvir música cabo-verdiana, já que o ritmo a atrai.

Espólio museológico a integrar o futuro Museu Cesária Évora, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente

Cesária Évora nasceu no Mindelo, em 27 de agosto de 1941, cidade onde também morreu, em 17 de dezembro de 2011, sendo considerada, com as suas mornas, a cantora de Cabo Verde com maior reconhecimento internacional.

Nily, a colega de viagem de Gil, também conhece Cesária Évora, mas não as músicas que interpretou, pelo que confessa que quer aproveitar esta viagem para mergulhar no mundo da artista, através da sua cidade.

“Espero ouvir música nos bares e restaurantes, porque estamos curiosas para conhecer mais sobre a música de Cesária Évora e a cabo-verdiana no geral. Pelo que percebemos já, a música cabo-verdiana é muito intensa, envolve muita emoção sentimento e é muito rítmica”, acrescentou Nily, que já planeia também visitar alguns locais que envolvem a história da cantora.

Esta tem sido a realidade da maioria dos turistas que visitam São Vicente, de acordo com o músico e guia turístico Edson Oliveira, que em entrevista à Lusa explicou que o nome da conhecida “diva dos pés descalços” é um ponto em comum entre os turistas com quem tem trabalhado.

“A maioria dos turistas com quem já trabalhei, nestes 15 anos como guia, conhecem o nome de Cesária. Muitos deles passaram a conhecer Cabo Verde por causa do seu nome e vieram mesmo por causa dela”, assegurou Edson Oliveira.

“Cesária é Cabo Verde”, considerou.

O roteiro dedicado à cantora ainda não é grande, pelo que o guia sugere que em São Vicente seja criado um percurso melhor e dedicado à artista, para que quem visita a ilha saia com uma ideia mais profunda da vida da cantora.

“Um roteiro mais bem especificado, detalhado, sobre Cesária Évora, porque temos muito pouco. Poderíamos conseguir ‘vender’ Cesária por uma semana inteira, com excursões próximas das pessoas que conviveram com ela, visita aos locais por onde cantou, atividades que permitam com que as pessoas sintam o que viveu a cantora”, sugeriu Edson Oliveira.

O que neste momento têm oferecido ao turismo resume-se, reconhece, à visita ao núcleo museológico que leva o nome da cantora, ao espólio da artista no Palácio do Povo, à rua da casa onde viveu, pelo que se trata de “um roteiro rápido”.

“Falta muita coisa, pela grandeza do que foi Cesária e do que fez para Cabo Verde e acho que ainda não lhe foi retribuído nem 10% do que lhe é devido. Mas o pouco que se tem feito é de se louvar, porque permite-nos mostrar aos turistas, em vez de só imaginarem através das informações que lhes transmitimos”, admitiu.

Além de guia, Edson dedica o seu tempo à música e a morna é um dos estilos que mais se identifica, ritmo que também marcou a carreira de Cesária.

“Costumo dizer que um dos meus pontos fortes, na área de guia, é a música. Todas as vezes que trabalho tento fazer com que sinta a minha cultura e logicamente não pode faltar nas referências que passo o nome de Cesária Évora, e outros que muito fizeram pela nossa cultura através da música”, referiu.

Sugeriu por isso que em vez de um roteiro geral sobre Cesária Évora, seja criado algo mais detalhado sobre a cantora, para dar a conhecer aos turistas que muito procuram Cabo Verde por causa do nome da artista.

E não são raras as homenagens que levam o nome da cantora e até o aeroporto internacional da ilha de São Vicente tem o nome de Cesária Évora e uma estátua que dá as boas-vindas a quem atravessa a parte de desembarque.

Aquela associação, a família da cantora e várias entidades locais estão a promover no Mindelo, até 19 de dezembro, o programa de homenagem à “diva dos pés descalços”, para assinalar os 80 anos do seu nascimento e os 10 anos após a sua morte.