De acordo com a AFP, várias vozes vieram a público denunciar “uma vitória política” às custas do candidato russo, terceiro classificado na edição deste ano, atrás da prestação da Austrália, convidada a participar pela primeira vez em 2015, e da vencedora Ucrânia, com a canção "1944" interpretada por Jamala.
Susana Jamaladinova, que se apresenta como Jamala, vem de uma comunidade muçulmana que tem sido vítima de várias perseguições religiosas. A canção com que venceu a Eurovisão é dedicada aos milhares de muçulmanos que não conseguiram sobreviver à travessia até à Ásia Central. Depois da ordem de Estaline para retirar os tártaros das suas casas, os habitantes só foram autorizados a regressar nos anos 1980.
A música "1944" é praticamente toda em inglês, tendo apenas uma estrofe em turco. "Eles vêm a tua casa, matam-vos a todos e dizem/ Não somos culpados", canta Jamala.
Apesar das comparações com a anexação da Crimeia com a Ucrânica em 2014, os representantes tártaros sublinham que não se trata de uma canção de intervenção. "Não há qualquer menção sobre a ocupação ou outras ofensas que estão a acontecer", defende Mustafa Jamilev, porta-voz dos tártaros, acrescentando que a canção se foca "no assunto das pessoas indígenas que passaram por injustiças terríveis".
A Rússia, que anexou a Crimeia em março de 2014, viu na vitória ucraniana “subentendidos políticos” e protestou contra a participação do país no festival.
“Não foi a cantora ucraniana Jamala e a sua canção ‘1944’ que conquistou a Eurovisão 2016, foi a política que ganhou à arte”, declarou às agências de notícias russas o senador Frantz Klintsevitch, que apelou ao boicote pela Rússia da próxima edição do Festival da Eurovisão, que será organizado pela Ucrânia.
Para o presidente do comité dos Negócios Estrangeiros do Senado russo, Konstantin Kossatchev, “foi a geopolítica que ganhou”, e, segundo o senador, esta vitória na Eurovisão arrisca dar asas aos dirigentes ucranianos, comprometendo o difícil processo de paz no este da Ucrânia.
“Por esse motivo, quem perdeu foi a Ucrânia”, escreveu Kossatchev na sua página na rede social Facebook, citada pela AFP, tendo o senador acrescentado que “aquilo que a Ucrânia precisa, de forma vital, é de paz”.
“Mas foi a guerra que ganhou”, acrescentou.
"Queria cantar uma canção sobre paz e amor", declarou a cantora, de 32 anos, ao receber o prémio, no sábado.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, saudou então a "incrível vitória" de Jamala, no festival da Eurovisão.
"Sim! Uma prestação e uma vitória incríveis! Toda a Ucrânia te diz obrigada, Jamala", escreveu, na rede social Twitter, Poroshenko.
Os Tártaros da Crimeia, uma comunidade muçulmana autóctone, opuseram-se às autoridades russas depois da anexação do território da Crimeia, sofrendo uma enorme pressão da parte russa desde então.
A Ucrânia, por seu lado, acusa Moscovo de apoiar militarmente os separatistas pró-russos do este do país.
O conflito fez cerca de 9.300 mortos e mais de 1,5 milhões de desalojados desde abril de 2014, prejudicando as relações entre a Rússia e o ocidente.
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