Os Açores têm 101 bandas filarmónicas espalhadas pelas nove ilhas do arquipélago, que desenvolvem, segundo o músico e professor Roberto Martins, um trabalho com um “valor cultural inestimável” e de “enorme relevo social”.

Em declarações à agência Lusa, o professor no Conservatório de Ponta Delgada, que também dirige a Filarmónica Lira Nossa Senhora da Estrela, da freguesia da Candelária (concelho de Ponta Delgada), realçou que, além da “função artística”, as filarmónicas “assumem um papel social de prevenção e inclusão de enorme relevo”.

“Considero que o trabalho das bandas filarmónicas tem um valor cultural inestimável. É fundamental não deixar de apoiar e de investir nas nossas filarmónicas, que precisam de ser acarinhadas, mais do que nunca”, afirmou.

Roberto Martins lembrou os “benefícios do estudo da música” para crianças e jovens, já demonstrados cientificamente, ao nível do “trabalho em grupo, expressão, memorização, concentração, postura, atitude, autoestima e coordenação”.

“As escolas de música das bandas filarmónicas desempenham uma função cultural e social de grande relevância ajudando a desenvolver nas crianças e jovens os quatro pilares da aprendizagem ao longo da vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”, destacou.

Conforme avançou à Lusa a Secretaria Regional da Educação e Assuntos Culturais, existem 101 filarmónicas nos Açores: uma em Santa Maria, 35 em São Miguel, 24 na Terceira, 14 em São Jorge, quatro na Graciosa, 13 no Pico, oito no Faial, uma nas Flores e outra no Corvo.

O mesmo departamento governamental revelou que o apoio regional às sociedades recreativas e filarmónicas atingiu cerca de 185.700 euros em 2022, o valor mais alto dos últimos três anos (em 2021 foram 155.200 e em 2020 o apoio foi de 120.400 euros).

Lembrando que o arquipélago tem cerca de 236 mil habitantes, Roberto Martins destacou que os “Açores são a região do país com mais bandas por quilómetro quadrado, mantendo viva uma prática que vem desde o século XIX”.

"A existência de uma banda filarmónica é extremamente importante para uma freguesia", apontou.

Para o licenciado em Educação Musical, com mestrado em Ensino da Música, as bandas filarmónicas são as “principais escolas de música do país”, levando muitos jovens a ingressar nas academias e conservatórios para “aprofundar conhecimentos”.

“Costumo referir que ao aprender a arte da música e ao aprofundar os seus conhecimentos essas crianças e jovens têm mais escolhas de oferta de emprego no futuro”, reforçou.

Nos Açores, o Conservatório Regional de Ponta Delgada é o único que funciona como unidade orgânica, uma vez que os conservatórios de Angra do Heroísmo e da Horta estão integrados em escolas de ensino regular.

Além dos conservatórios, na ilha de São Miguel, a Academia da Lagoa e a Academia de Música da Povoação também se dedicam ao ensino musical.

Para enaltecer o trabalho desenvolvido pelas filarmónicas, Roberto Martins dá o exemplo do Conservatório de Ponta Delgada, onde a “maioria dos alunos de sopros vem das escolas de música das bandas filarmónicas”.

“As filarmónicas assumem a função do ensino da música nas freguesias onde estão inseridas, chegando muitas vezes a locais onde os conservatórios e/ou academias não conseguem chegar. Em todas as ilhas dos Açores existem bandas filarmónicas”, concluiu.