Thiago Soares já atuou em mais de 30 países e foi o principal bailarino do Royal Ballet de Londres durante 13 anos. Segundo ele, essa “despedida” dos palcos vem com um sentimento duplo, pois será a sua última digressão internacional nesse formato. Entretanto, Soares afirma que essa não é uma “aposentadoria” e muito menos um adeus ao universo da dança.

“Hoje, sou diretor artístico no México e tenho meus projetos como coreógrafo. Uma turnê como essa exige uma disponibilidade de tempo, que pode levar, talvez, um ou dois anos. Então, eu não vejo mais essa possibilidade. Porém, esse também é o começo de uma nova forma de eu estar nos palcos. Trata-se de um espetáculo que me apresenta de uma maneira diferente. Eu sempre fiz esses papéis de malha, interpretando príncipes, heróis… E que são incríveis! Mas hoje, eu estou em outro lugar”, explica.

Aos 42 anos, Thiago Soares afirma gostar da sua idade e faz questão de ressaltar que esta fase está a ser oportuna para voltar aos palcos num novo sítio. "Último Ato" estreia-se em Lisboa no dia 20 de abril, no Teatro Tivoli (o mesmo local onde o artista apresentou o espetáculo "Duelo", em 2019, com bilheteira esgotada).

Thiago Soares

Como boa parte dos profissionais que vivem da arte, o bailarino também sentiu os impactos da COVID-19. Depois de atravessar esse momento em Portugal, viu-se obrigado a remarcar a digressão por duas vezes. Por isso, voltar aos palcos lusitanos terá um gosto ainda mais especial. “A verdade é que a pandemia foi uma tragédia mundial. Foi um momento para ficar recolhido, recluso e reflexivo. E eu fiz exatamente isso”, conta.

Doutor honorário pela King’s College London e atualmente diretor do Ballet de Monterrey, no México, Soares revela que essa peça é diferente de tudo que já fez na sua carreira, onde a linguagem teatral utilizada é a dança. Mesmo sendo um espetáculo de ballet clássico, "Último Ato" traz uma mistura entre artistas brasileiros com diferentes origens rítmicas, incluindo até o parkour.

“Na verdade, essa fusão de ritmos veio organicamente porque eu tive a oportunidade de trabalhar um pouco no samba, além das minhas origens no hip-hop. Conheci pessoas de outras formas de dança e sempre tive curiosidade sobre esse ‘mix’. Essa ‘sangria’ de movimentos. É algo que tinha muita vontade de fazer. Só que o desafio é ‘linkar’ tudo isso, né? Mas, na minha opinião, nós conseguimos fazer essa mistura de um jeito muito bonito”, diz.

Thiago Soares

Fechar portas para abrir janelas

Thiago Soares começou a dançar aos 9 anos na Escola de Circo, no Rio de Janeiro. E foi na acrobacia que a então jovem promessa do ballet brasileiro teve as suas primeiras experiências artísticas, tendo sido encorajado a buscar uma escola de dança para aperfeiçoar os seus movimentos no breakdance e hip-hop.

O início da sua carreira na dança clássica foi aos 15 anos, quando começou os estudos no Centro de Dança da capital fluminense. Depois, integrou o corpo de baile do Theatro Municipal, conquistando a Medalha de Prata no Concurso Internacional de Dança de Paris.

Em 2001, participou no Concurso Internacional do Ballet Bolshoi, na Rússia, sendo o primeiro brasileiro a vencer a disputa, que contou com mais de 270 candidatos. Depois, foi convidado para estagiar no Balé Kirov, tornando-se o segundo estrangeiro a integrar a companhia em 100 anos de história.

Não parou por aí. No ano seguinte, Thiago foi convidado a integrar o corpo de baile do Royal Ballet de Londres, onde atuou como bailarino principal entre os anos de 2006 e 2019. Atualmente, o posto é ocupado por outro grande nome da dança: o português Marcelino Sambé.

Thiago Soares

“Eu o vi subindo a cada etapa. O acompanhei nos momentos belos e nos difíceis também. É um amigo, uma pessoa que eu admiro, gosto e respeito. Para mim, é emocionante vê-lo nesse lugar tão bonito, representando Portugal tão bem. A gente tem uma conexão muito grande e sei que, de alguma forma, ele também tem um pouco de Brasil. O Marcelino é um exemplo da dança na Inglaterra e em todo o mundo”, recorda com carinho.

Sobre fechar portas para abrir janelas, Soares, de forma descontraída, diz que um bailarino tem a sua primeira morte quando deixa de dançar. Entretanto, o artista também questiona, de forma filosófica, o que realmente significa “o fim” de alguma coisa. Principalmente para os que dedicam as suas vidas à arte.

“Sem dúvidas que esse espetáculo representa um recomeço. Mas é uma ironia sobre o fim. E a peça brinca com esse tema. Quando é o fim? Porque é o fim? Quem decide quando será o fim? Quando é que um bailarino, ou artista, para de fazer algo? Quem é que determina sobre isso? Somos nós? O público? Os diretores? Quem é?”

Dos palcos para os ecrãs

O brasileiro também lembra do papel em influenciar novas gerações através da sua própria história. Ao falar do filme que está a ser produzido pela Globo Filmes, Thiago afirma que esse projeto é um sonho que está a materializar-se.

Thiago Soares

“Poder fazer isso em um momento de ‘retorno’ da Cultura brasileira é algo muito especial. O nosso desejo é o de dividir um pouco da minha trajetória e como eu cheguei nesse lugar. Além de expor essa ‘construção’, será uma forma de incentivar outras pessoas e mostrar como a gente conseguiu ficar de pé e viver da profissão. Eu acho que existem vários Thiagos e Marcelinos por aí”.

Com estreia nos cinemas prevista para 2024, o filme também conta com a atriz portuguesa Margarida Vila-Nova, que recentemente foi ao Brasil participar nas gravações. “Está sendo uma emoção conhecê-la e vê-la nesse projeto. A sua personagem representa uma pessoa importantíssima em minha vida. A sua sensibilidade e a sua intuição artística são emocionantes de se ver. Virei fã da pessoa querida que é e do belíssimo trabalho que ela desempenha."

O bailarino também comentou alguns detalhes a respeito da sua própria personagem, interpretada pelo ator Mateus Abreu. “O Mateus é um ator brasileiro bastante forte, um menino do qual eu fiquei fã, ainda mais ao conhecer o seu processo de preparação e de construção para dar vida à personagem”, destaca.

Bailarino Thiago Soares

Ao refletir acerca da sua condição como bailarino mundialmente consagrado, Thiago Soares finaliza a conversa demonstrando leveza e tranquilidade ao falar sobre o futuro.

“O que um bailarino da idade do Thiago deveria estar fazendo? O príncipe Siegfried? Talvez. Pode ter bailarinos que fazem muito bem. Mas, para mim, não mais. Eu fui o príncipe Siegfried quando tinha 23 anos. Hoje, tenho o dobro dessa idade. O que eu deveria estar fazendo? A resposta é: o Último Ato”.

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