O primeiro concerto do dia e, consequentemente, do festival foi de Capicua. A rapper portuense foi recebida com a fauna e a flora circundantes do palco principal iluminadas e apresentou-se bem acompanhada por M7, outra voz no feminino. Também um ilustrador em palco ajudava a compor o cenário, desenhando os temas da forma mais óbvia.

Houve 'Mão Pesada' de hiphop, algo menos comum nas lides deste festival, mas em 'Casa no Campo’ não foi esquecida a referência ao evento que leva o rock ao Minho, com Capicua a dedicar o tema às pessoas que se afastam das grandes cidades nesta altura. ‘Vayorken’ foi, claro, muito bem recebida, ainda antes de Ana Matos, nome original de Capicua, pedir a todos os presentes que se levantassem e acenassem para o seu cartucho final – ‘Pedras da Calçada’, vestida por uma ilustração de uma pedra apertada por uma mão, no centro de várias estrelas em fundo azul, a lembrar a bandeira da União Europeia. Com um aviso para a luta - assim se despediu Capicua.

Uma bola de espelhos deu o mote e contribuiu para a iluminação dos Cage The Elephant. Mencionando, logo ao início, ser a estreia do projeto em Portugal, os irmãos Shultz mostraram-se logo irrequietos e líderes da banda. Matt, o vocalista, desfilou logo os seus melhores passos de dança, de uma inquietude notável, lembrando por vezes a irreverência de Mick Jagger. Os entusiastas de crowdsurfing e de moshpits também se mostraram presentes logo nos primeiros minutos, contagiados pela energia inesgotável do vocalista, queaté subiu às cavalitas do seu irmão enquanto este dominava a guitarra.

‘Take It Or Leave It’ podia ser uma música dos The Cure (aquele refrão lembra muito a ‘Boys Don’t Cry), mas os Cage The Elephant fazem-na sua com mérito. ‘Ain’t No Rest For The Wicked’ fez antever um Matt Shultz desinibido, a juntar-se ao público, cada vez mais próximo, antes de toda a banda nos deixar um excerto de ‘Seven Nation Army’, dos The White Stripes.

"Vocês são os milagres das nossas vidas", rematou o outro irmão, Brad. Milagre é ver Matt caminhar sobre as pessoas antes de mergulhar pela multidão, culminando a atuação com um stage dive épico, com toda a disposição da banda a lembrar os The Fall, de Mark E. Smith. Foi assim: um elefante que se presumia enjaulado à solta no anfiteatro natural de Paredes de Coura.

Um palco monocromático, onde até os amplificadores se apresentavam brancos, a contrastar com o preto habitual, nas costas de Janelle Monáe. Acompanhada por uma série de músicos dispostos a colaborar com a sua personalidade elétrica - não é à toa que o seu mais recente álbum leva o título de "The Electric Lady" -, Janelle Monáe conseguiu atingir a teatralidade e coordenação perfeita de um espetáculo de grandes dimensões. A encenação foi feita ao pormenor, até na rendição a uma das suas maiores influências, James Brown, ao qual foi resgatar ‘I Got You (I Feel Good)’.

De seguida, Janelle procurou saber se o amor andava no ar, naquele local onde a natureza anda de mãos dadas com a música, e os corações se desenham nas mãos dos fãs em poucos segundos. O amor, segundo a mesma, é a solução para os governos do nosso mundo, que a própria questionou ao som de ‘Cold War’.

Um concerto sem espinhas, em que sobrou tempo para dois encores, com alguns jogos com os fãs a surgirem: todos agachados, em sincronia com os integrantes da banda de Janelle Monáe, protagonizaram um salto geral, explosivo, devolvendo sorrisos à plateia, num final em grande. Um abraço do nosso Portugal para Janelle, que desceu às grades para abraçar de volta a primeira fila.

Deram por terminados os concertos do Palco Vodafone neste «dia zero» os instrumentais Public Service Broadcasting, que, com as faixas do seu "Inform - Educate - Entertain", lançado no ano passado, fizeram com que a plateia não arredasse pé, ainda que se mostrasse menos entusiasmada do que nos dois concertos anteriores. O cansaço, decorrente, talvez, da longa exposição ao sol durante a tarde ou do gelo que se fazia sentir durante a hora do concerto, parecia ter vingado nos corpos.

Para os mais resistentes, ainda houve um DJ set de Cut Copy no Palco Vodafone FM, que abriu neste dia para uma única performance - um bom warm-up para o concerto “a sério”, que chegará a 22 de agosto ao palco principal do festival. Hora de descansar para os restantes dias e espetáculos, pois o Vodafone Paredes de Coura ainda só agora começou.

Texto: Nuno Bernardo

Fotografias: Hugo Sousa